Ahmed Dawabsheh, hoje com 10 anos, foi o único sobrevivente do incêndio criminoso iniciado por um colono israelense que matou seus pais e irmão de 18 meses. Foto: Jaafar Ashtiyeh / AFP
A família palestina Dawabsheh, em sua luta incansável por justiça, exige agora sentença máxima para o colono israelense que bombardeou e incendiou sua casa, assassinando os pais da família, Saad e Riham Dawabsheh, junto de seu filho mais novo, Ali, de apenas 18 meses de idade.
Amiram Ben-Uliel atirou um coquetel molotov dentro da casa, na aldeia palestina ocupada de Duma, na Cisjordânia, em julho de 2015, e deixou como único sobrevivente o menino Ahmed, na época com apenas 4 anos, que sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus em mais de 60% do corpo.
Segundo a promotoria israelense, Ben-Uliel sabia que a casa estava habitada e que, antes de iniciar o incêndio criminoso, havia pintado na fachada da casa os dizeres “Vingança” e “Vida longo ao rei Messias”, explicitando a clara motivação racista e colonial de seu crime.
O colono foi condenado em maio por três acusações de homicídio, duas acusações de tentativa de homicídio, duas acusações de incêndio criminoso e por conspiração para cometer um crime de motivação, mas será no mês de julho que o caso será permanentemente encerrado. O advogado da família, Omar Khamayseh, declarou à Al Jazeera que, junto da família Dawabsheh, eles exigem “três penas de prisão perpétua, além de mais de 40 anos de prisão para o colono, além de uma compensação financeira de 260 mil shekels [mais de R$ 370 mil] para cada uma das três vítimas”.
O tio de Ahmed, Nasr Dawabsheh, conta que o menino, que se recusa a ir às sessões tribunais do caso, está traumatizado e sente profundo ódio e ressentimento com relação à ocupação.“Ele não quer ver colonos. Ele me disse: ‘Mesmo que eu participe, você garantirá que eu pararei de ter pesadelos com ele? Enquanto houver colonos por perto, nunca me sentirei seguro”, disse Nasr.
Nasr conta afirmou também que “em um nível pessoal, a sentença não significará muito para nós, a família Dawabsheh. Não trará de volta Saad ou Riham ou Ali. Mas também não queremos outro caso Dawabsheh, não queremos que outra criança palestina sofra o trauma que Ahmed ainda está sofrendo”.
IMPUNIDADE PARA CRIMES DE COLONOS CONTRA PALESTINOS
Uma das faces mais grotescas da ocupação sionista é a violência colonial dos israelenses assentados nos Territórios Palestinos Ocupados. Na última década, o número de colonos vivendo na Cisjordânia ocupada cresceu em 50%, e o número de agressões cometidas por eles também aumentou exponencialmente, apesar de não serem bem documentadas, nem condenadas pelas “autoridades” israelenses e pelas forças de ocupação, que, na realidade, as apoiam e, muitas vezes, estão por trás delas.
Segundo a organização israelense de direitos humanos Yesh Din, de todos os casos de crimes ideológicos cometidos por colonos israelenses contra palestinos ou suas propriedades na Cisjordânia ocupada entre 2005 e 2019, 91% foi encerrada sem indiciamento – 1.144 de 1.293 casos. Além disso, a organização também aponta que apenas 4% de todos os casos desse gênero investigados entre 2017 e 2019 resultaram em acusações efetivas da promotoria.
A B’Tselem, outra organização israelense de direitos humanos, em sua página sobre “Violência de colonos apoiada pelo Estado”, afirma que “essas ações variam de bloquear estradas, atirar pedras contra carros e casas, invadir aldeias e terras agrícolas, incendiar campos e olivais, danificar plantações e propriedades e agredir fisicamente, até às vezes atirar coquetéis molotov ou usar armas de fogo”.
A longo prazo, o resultado dessas agressões é a expulsão do povo palestino de suas casas e, por consequência, a expropriação das terras e recursos palestinos por Israel. Todos anos, por exemplo, os militares genocidas da ocupação proíbem os camponeses palestinos de entrar em suas terras durante a época de colheita da azeitona, principal cultura agrícola palestina.
Desde 1967, mais de 800 mil oliveiras palestinas foram arrancadas pelas forças da ocupação e por colonos israelenses na Cisjordânia, segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Aplicada de Jerusalém. A Yesh Din relata que, entre 2005 e 2013, das 211 ocorrências relativas a árvores que foram cortadas, incendiadas, roubadas ou vandalizadas na Cisjordânia, apenas quatro levaram a acusações judiciais.