Trabalhadores que entregam mercadorias mediados por aplicativos realizaram uma grande greve nacional, no dia 1º de julho, exigindo melhores remunerações e condições de trabalho. A greve afetou as principais capitais e demonstrou a força de organização dos assalariados reunidos nesse ramo, até então dispersos.
Os trabalhadores reivindicam melhores condições de trabalho, aumento do valor recebido por quilômetro rodado, aumento do valor mínimo de cada entrega (valor mínimo independente da distância percorrida e do tempo gasto pelo entregador), seguro de roubo, acidente e vida; auxílio-pandemia (equipamentos de proteção individual e licença) etc.
Em Minas Gerais, os trabalhadores percorreram as ruas da capital Belo Horizonte. Na capital mineira, a greve contou com mais de 400 motoboys e entregadores de aplicativos, que por volta das 10H concentraram-se na Praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e de lá seguiram pelas ruas de Belo Horizonte e ao passarem pela Praça Sete, tomaram o “Pirulito”, Marco Zero e símbolo da capital que simboliza a tomada da cidade pelos que se manifestam, por estar no cruzamento das duas principais avenidas do centro: Av. Amazonas e Av. Afonso Pena.
Após algumas agitações, os manifestantes seguiram até a porta do Ministério Público do Trabalho (MPT) na Savassi, onde entregaram um abaixo assinado com as exigências da categoria.
Segundo o Motoboy Cristiano: “muitos viraram escravos dos aplicativos. O preço de uma corrida de cerca de dez quilômetros, pagam R$ 5 reais e que a tarifa mesmo quando sobe, não chega a R$ 8 reais. A média de ganho mensal de um Motoboy é pouco mais de um salário mínimo em Belo Horizonte R$ 1,4 mil reais e ainda os trabalhadores têm que pagarem a manutenção e o combustível”.
Outro Motoboy afirma que fez um simulado e o preço foi de R$ 4,5 Reais, concluindo que isso é um absurdo, pois para quem é casado, tem filho e paga aluguel, compra alimento e leite para as crianças, além do mais muitos nem tem um seguro que os protejam de roubos, afirmando ser um absurdo, tal situação e que por isso está junto manifestando com a categoria.
Para Welington “Gigante”, os Motoboys estão cansados de promessas e na porta do MPT, disse: “Estamos aqui para protocolar as nossas reivindicações, junto com o abaixo assinado junto a categoria, para ver o que se pode fazer em relação aos Motoboys que estão sendo bloqueados pelos aplicativos e ver a questão das taxas que os aplicativos estão pagando por entrega.” Também disse que a categoria está unida nessas reivindicações.
Entregadores se concentraram no Marco Zero, em Belo Horizonte. Foto: Comitê de Apoio ao AND de Belo Horizonte
Em São Paulo, os trabalhadores se concentraram por volta das 10h na região do Brooklin, na zona sul da cidade. Os manifestantes percorreram as ruas do Centro da capital, passaram em frente ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT) onde cobraram os seus direitos trabalhistas. O ato percorreu a avenida Paulista, seguindo até a Ponte Estaiada, na zona sul, onde se encerrou. No estado também ocorreram atos em Campinas e em Piracicaba.
Centenas de entregadores tomam a Avenida Paulista, em São Paulo. Foto: Pedro Borges
No Rio de Janeiro, os manifestantes se concentraram às 9h, em frente à Igreja da Candelária, no Centro, e de lá saíram em passeata até o Ministério do Trabalho onde protestaram. Logo após eles retomaram a passeata que passou pela zona sul da cidade e foi até o bairro do Jardim Botânico.
Entregadores empurraram suas motos pelo Centro do Rio em protesto por melhores condições de trabalho. Foto: Comitê de Apoio ao AND do Ri de Janeiro
Professores e outras categorias profissionais apoiaram o ato dos entregadores.
Educadores apoiaram a luta dos entregadores. Foto: Comitê de Apoio ao AND do Rio de Janeiro
Segundo alguns trabalhadores, os aplicativos tentaram boicotar a greve subornando os trabalhadores com taxas mais elevadas de remuneração, buscando dividi-los. Segundo um trabalhador, a empresa iFood oferecia até R$ 15 a mais por corrida.
Foto: Comitê de Apoio ao AND do Rio de Janeiro
Em Pernambuco, os manifestantes percorreram as ruas da capital Recife; eles passaram pela avenida Agamenon Magalhães e foram até a avenida Domingos Ferreira no bairro da Boa Viagem. Já em Alagoas o protesto bloqueou a avenida Fernandes Lima, a principal via de Maceió. Os manifestantes percorreram o centro da capital.
Em Sergipe, os manifestantes se concentraram na orla do Atalaia, em Aracaju. Os entregadores grevistas ficaram concentrados em frente aos Arcos da Orla, na avenida Santos Dumont, e os trabalhadores foram impedidos de circular pelo centro da cidade pela Polícia Militar (PM). Na Bahia, os trabalhadores protestaram na capital Salvador; eles passaram em passeata pela avenida Antônia Carlos Magalhães e por demais pontos turísticos da cidade.
No Ceará, o protesto aconteceu em Fortaleza, os entregadores se concentraram em frente a um shopping e seguiu em passeata até a Praça da Imprensa, no bairro Edson Luiz, local onde ficou concentrado.
Em Brasília, cerca de 200 entregadores, em motos e bicicletas, bem como apoiadores do movimento, partiram do estacionamento Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios percorreram a Esplanada dos Ministérios e se concentraram em frente ao Congresso Nacional.
Com o uso de um megafone, os manifestantes discursaram exigindo a melhoria das condições de trabalho da categoria e a necessidade da união dos trabalhadores do ramo de entregas para reivindicarem seus direitos. Um entregador denunciou que haviam policiais anotando as placas das motos com o objetivo de multarem os manifestantes.
Em entrevista ao AND, Matheus, ciclista entregador, afirmou: “Acho que a greve de hoje é o primeiro passo para que a gente possa nos organizar cada vez mais enquanto entregadores de aplicativo, que é uma categoria que vem sendo muito explorada”.
Ele afirmou também que “a perspectiva é que a gente consiga nos articular nacionalmente de forma cada vez mais sólida, para puxar mais mobilizações assim e para dar mais segurança aos entregadores que quiserem parar, pois para muitos pararem, mesmo que por um dia, pesa no bolso. Por isso é importante organizar um sindicato ou associação nacional, para ter uma segurança maior pra parar”, afirmou.
Outro entregador, Theo, afirmou: “A mobilização veio tarde, é um movimento que era pra ter acontecido há muito tempo. Mas antes tarde do que nunca. Os ‘boy’ tem que se organizar e agora é todo mundo junto pra lutar pelos direitos. O pessoal está percebendo que não dá mais pra trabalhar sem o mínimo de condições dignas”. E afirmou também: “O movimento está nascendo agora, é tudo muito novo, então temos que colocar a mão na massa e fazer acontecer, porque se não for a gente, não vai ser ninguém”.
Entregadores protestam por melhores condições de trabalho, em Brasília. Foto: Comitê de Apoio ao AND de Brasília