Durante o mês de janeiro, entregadores de aplicativos em todo o Brasil realizaram greves e manifestações nas capitais dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Acre, Rio Grande do Sul, Piauí, entre outros. Os trabalhadores estão exigindo os direitos mais elementares para exercer a profissão. Em cidades do estado de São Paulo, cansados da superexploração, os entregadores chegaram a declarar greve por tempo indeterminado até terem suas exigências atendidas pelo monopólio iFood. Em Salvador (BA) os entregadores bloquearam as principais vias da cidade em diversos dias.
Entre as reivindicações de todos esses trabalhadores estavam: aumento da taxa mínima paga por entrega de R$6 a R$8; fim das entregas duplas ou triplas, quando o entregador realiza duas ou mais corridas sendo pago apenas por uma; seguro em caso de acidente ou morte, já que as coberturas oferecidas pela iFood não funcionam na prática; e fim dos Operadores Logísticos (OL’s), que funcionam como intermediários entre os entregadores e os aplicativos e são responsáveis pela terceirização dos trabalhadores.
Os entregadores por aplicativo lutam por esses direitos básicos há anos. Os monopólios de entrega, por sua vez, buscam impedir de todas as formas que os trabalhadores conquistem esses direitos, uma vez que, diante de mais uma crise em escala mundial, os monopólios dependentes de empresas estrangeiras (imperialistas), como iFood e Uber, buscam atingir lucros cada vez maiores para escapar da crise.
A situação destes trabalhadores está agravada pela crise do capitalismo burocrático brasileiro, que através dos diferentes governos reacionários de todas as esferas joga nas costas das massas populares as consequências econômicas da grave situação em que o país está afundado. Em 2022, um levantamento da Fairwork Brasil mostrou que os trabalhadores de plataforma digital ganham em média R$ 5,50 por hora e menos de um salário mínimo no mês.
Governo após governo são feitas promessas de regulamentação da profissão. Nenhum deles se compremete a tornar a relação entre entregador e monopólio como vínculo empregatício de fato. O governo do ultrarreacionário Jair Bolsonaro chegou a prometer exigir das plataformas contribuição com a previdência. Já o ministro do oportunista Luiz Inácio disse às empresas que “não se assustassem”, pois a proposta seria apenas trazer “proteção social” ao trabalhador. De todo modo, a situação só piora dia após dia.
Com a atual greve e protestos, os entregadores demarcam sua independência, classismo e combatividade contra a posição oportunista de promover o imobilismo em troca de reuniões e migalhas.
Confira abaixo como foram as manifestações dos entregadores por todo o país:
SP: ENTREGADORES REALIZAM GREVE DE QUATRO DIAS
No dia 25/01, em São Paulo (capital), centenas de entregadores realizaram uma greve durante todo o dia. Os manifestantes se reuniram no estacionamento do Shopping Metrô Itaquera, na Avenida José Pinheiro Borges. Eles reivindicavam receber por cada entrega e melhores condições de trabalho.
Gerônimo Lima Gusmão, 32 anos, liderança dos entregadores da zona leste de São Paulo, afirmou que “existe um abismo imenso entre o governo, o estado e os motoqueiros de aplicativos autônomos, o iFood está dando quatro pedidos pra gente entregar e só receberemos [pagamento por] dois. Só que os clientes pagaram por quatro entregas. E não era assim [anteriormente]. Recebíamos por todas as entregas. Há um ano isso mudou.”
Gerônimo trabalha há três anos na profissão e já sofreu cinco acidentes em horário de trabalho. “Estamos exaustos, não aguentamos mais”, denunciou o trabalhador sobre a falta de direitos à rádio local Itatiaia.
Em cidades do interior do estado, como em Diadema, os entregadores continuaram em greve até o dia 29/01. Em Indaiatuba, os trabalhadores afirmaram que permanecerão em greve por tempo indeterminado, até que os motoboys sejam atendidos pela iFood.
Na cidade de Santa Bárbara d’Oeste, os entregadores se concentraram em frente ao Shopping Tivoli no dia 25/01. O entregador Rodrigo Cucatti, de 38 anos, disse ao jornal local Todo Dia: “Hoje está sendo um aviso. Se não ajudarem a gente, vamos estender para sexta, sábado e domingo. Queremos uma melhoria e uma resposta do iFood. Estamos cansados de pegar duas entregas e o iFood pagar somente uma. Duas entregas que era para ser R$ 12, o iFood paga R$ 6 para a gente. Fazem mais de três anos que eles não fazem uma promoção”.
RJ: PROTESTOS ENFRENTAM INTIMIDAÇÃO POLICIAL
Na cidade de Niterói, no dia 25/01, cerca de 50 entregadores realizaram uma grande manifestação em frente à prefeitura, exigindo a garantia de que o 99 Moto e o Uber Moto continuarão a funcionar na cidade. Os trabalhadores também reivindicam mais estacionamentos e ciclopontos, além de outras reivindicações. No dia 06/01, a prefeitura havia informado que iria notificar a Uber para suspender o serviço de transporte de passageiros em motocicletas na cidade.
O presidente do Movimento Duas Rodas, conhecido como Léo “Família”, demarcou que “a classe merece ser tratada com mais consideração” e que foram os trabalhadores de aplicativos que “levantaram a cidade e fez a moeda girar” durante a pandemia da Covid-19.
A Guarda Municipal de Niterói, por sua vez, tentou intimidar os trabalhadores, com um agente chegando a desligar a moto de um dos manifestantes. A tropa de Choque da Polícia Militar também estava presente com spray de pimenta. As tentativas de conter o protesto dos trabalhadores foram inúteis.
Entregadores de aplicativo realizam manifestação na zona norte do Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/ Grande Tijuca
No mesmo dia, entregadores de aplicativo do Rio de Janeiro realizaram uma manifestação na região da Grande Tijuca, zona norte. Os manifestantes exigiam melhores condições de trabalho, como seguro de vida, aumento da taxa de entrega, e fim de bloqueios de contas nos aplicativos sem direito a defesa, assim como reivindicavam o fim do contrato das empresas com os OL’s.
Policiais do 6º BPM (Tijuca) e agentes do Tijuca Presente intimidaram os entregadores durante todo o percurso, seguindo-os.
BA: BLOQUEIOS DE AVENIDAS E PROTESTOS EM FRENTE À PREFEITURA DE SALVADOR
Na Bahia, motoristas e entregadores de aplicativo realizaram protestos nos dias 27 e 30/01 na capital, Salvador. No dia 27, foi realizado um bloqueio da Avenida Tancredo Neves e, no dia 30, na ligação para a Avenida Paralela. Nos dois dias a manifestação seguiu até a prefeitura da cidade. Os entregadores reivindicavam o fim das apreensões de motos pela prefeitura durante as prestações de serviços para o Uber e 99 Moto.
ENTREGADORES BLOQUEIAM PONTE NO ACRE E ENTRAM EM GREVE NO RIO GRANDE DO SUL
Nos dias 26 e 25/01, nos estados do Acre e Rio Grande do Sul, cidades de Cruzeiro do Sul e Porto Alegre, entregadores realizaram greves e protestos. Em Cruzeiro do Sul (AC), motoristas e entregadores de aplicativo bloquearam a Ponte da União como parte das manifestações nacionais. Em Porto Alegre, capital do RS, entregadores em greve realizaram uma manifestação próximo ao centro da cidade.
PI: PROTESTO CONTRA AUMENTO INDEVIDO NOS COMBUSTÍVEIS
No início do mês de janeiro, motoristas e entregadores por aplicativo realizaram uma manifestação no dia 5, na zona leste de Teresina, contra o aumento indevido no preço dos combustíveis pelos postos de gasolina locais. O ato teve início na Praça de Fátima e seguiu até a sede do Ministério Público do Estado do Piauí (MP-PI). Os participantes promoveram um buzinaço durante o percurso pelas avenidas Nossa Senhora de Fátima e Lindolfo Monteiro. Segundo as entidades que representam entregadores e motoristas de passageiros por aplicativo, são cerca de 20 mil pessoas vinculadas a essas funções apenas em Teresina.