O artista baiano Caio Castellucci (@Castellcharges), em recente depoimento ao jornal A Nova Democracia, falou um pouco sobre seu trabalho, que retrata a luta diária e histórica do povo brasileiro e outros povos do o mundo. O chargista acompanha os diferentes e atuais temas da política nacional e internacional e os retrata em charges partindo de um viés classista e combativo.
— Meu trabalho teve início recentemente, comecei em fevereiro desse ano. Fico feliz que meus desenhos tenham alcançado uma visibilidade grande rapidamente, principalmente no Instagram — conta.
— Eu sempre tive contato com a arte de modo geral, fator que me fez desenvolver esse lado artístico que, em um determinado momento da minha vida, tive oportunidade material para desenvolver. Sempre gostei de desenhar. Desde criança eu ficava desenhando no caderno ou na apostila durante aquelas aulas chatas, sabe? — continua.
— Depois de mais velho, através das redes sociais, tive contato com o trabalho de cartunistas que possuem convicções iguais ou parecidas às minhas. Isso foi fundamental, porque juntou o contexto político em que vivemos com o desenvolvimento de minha formação política que aflorava no final do meu ensino fundamental e durante o ensino médio.
Caio disse que se inspirou em artistas jovens como ele.
— Esses artistas que tive contato são jovens, fazem um trabalho independente, vindos das classes pobres. Eu me identifiquei bastante e me estimulou muito, então resolvi juntar o útil ao agradável— explica.
— A arte é a expressão da própria vida, é aquilo que parte do sentimento individual do autor. O sentimento varia por motivos sociais que condicionam visões diferentes de mundo, por isso a arte tem lado! Ela serve de representação coletiva da expressão de uma determinada classe, atendendo à função objetivada pelo seu criador e passa a ser tida como bela para seu público alvo — fundamenta Caio.
Rechaço ao imperialismo e ao oportunismo
Não é incomum que nas charges de Castellucci apareçam frases de rechaço às políticas imperialistas ianques, ao Estado genocida de Israel e ao oportunismo, especialmente o eleitoreiro.
É comum ver, em suas variadas charges, frases e cartazes sobre o combate ao oportunismo eleitoreiro e pelo triunfo da justa revolução das massas. Ele já chegou a contestar figuras que já estiveram à cabeça do velho Estado brasileiro, como o pelego Luiz Inácio, assim como o fascista Bolsonaro, ambos lambe-botas do imperialismo ianque.
— O oportunista eleitoreiro é aquele sujeito que faz do parlamento um fim político, como o único meio de luta viável. Aquele que, dentro de seu gabinete, visa carreira política e cargo político; fica esperando as eleições para sair de lá e ir para rua pedir voto ao povo, prometendo fazer tudo aquilo que ele foi contra. Oportunista eleitoreiro é o sujeito que faz um discurso inflamado para ganhar prestígio e votos para, logo depois, ser o primeiro a tentar acalmar os ânimos fazendo negociatas com seus “inimigos”, contrariando aqueles que diz defender. Faz lembrar muitas pessoas e partidos, não é? — critica.
— Minha charge retrata a realidade, então, é impossível não falar de imperialismo ao fazer uma análise verdadeira e profunda quando se trata dos acontecimentos políticos, sociais e econômicos no Brasil e no mundo. Quem nega a existência do imperialismo, nega a exploração de uma classe pela outra, nega a dependência e exploração de um país pelo outro, nega a existência de golpes de Estados e guerras ocasionadas por fatores econômicos — diz.
Perguntado se já teve que lidar com ataques ou ameaças pelo seu trabalho, o chargista contou:
— Depois que me interessei por charge, assisti a uma entrevista do Carlos Latuff ao Globo News. Quando perguntado pelo repórter se a profissão de chargista ou cartunista é de risco, Latuff respondeu citando exemplos de profissionais iguais a ele que sofreram e sofrem perseguições e torturas em diferentes países, tanto por parte do Estado ou por indivíduos incomodados com a mensagem política contida no desenho. Respondendo a sua pergunta: já, sim — continua.
— Eu já sofri ameaças nas redes sociais, via conversas privadas, por parte tanto de pessoas da direita, como da “esquerda”. Não dou muita bola porque, pelo menos, essas pessoas estão em lugares bem distante de mim. Olhando o perfil desses indivíduos fico mais despreocupado ainda (risos) — conta.
— É muito louco pensar quando falo de ataques vindos da “esquerda”, porque ameaças vindos da direita já é o esperado. Mas eu não fico triste com isso, tenho a certeza de que se essas ofensas acontecem é porque toquei na ferida e a crítica foi justa e honesta — ameniza.
— Não é por nada que esses ataques não ocorrem com um teor argumentativo válido, e sim, xingamentos baixos. Sobre a linha política, ocorrem mais quando faço uma crítica à “esquerda”, principalmente ao imobilismo e ao peleguismo de partidos ou instituições políticas que se dizem de “esquerda”. Para mim, não passam de uma direita envergonhada — relata.
— É triste ver a cegueira por parte desses “militantes” que me xingam. Para ser sincero, nem sei se é cegueira: às vezes devem estar se beneficiando de algo para estar defendendo o indefensável. Mas, essa pequena parte da “esquerda” é consequência dos anos de parlamentarismo e conciliação de classes. Estão isolados cada dia mais dentro de universidades, em suas bolhas de arrogância intelectual e política. Estão longe do trabalhador, longe dos anseios populares. Essa “esquerda” está perdida. Não sabe o que fazer, não sabe nem qual pauta defender. Eles estão sentados, “resistindo democraticamente” ao Estado de exceção e aos retrocessos em que vivemos — conclui Caio Castellucci.