ENTREVISTA: Estudantes denunciam cortes e NEM durante manifestação no DF

Estudantes protestam no DF contra cortes de Luiz Inácio na Educação. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

ENTREVISTA: Estudantes denunciam cortes e NEM durante manifestação no DF

No dia 11 de agosto, estudantes e trabalhadores da educação realizaram um ato em Brasília, contra o recente corte de verbas e pela revogação do “Novo Ensino Médio” (NEM). Os manifestantes saíram em marcha do Museu da República em direção ao prédio do Ministério da Educação (MEC). Estiveram presentes no ato cerca de 200 pessoas.

O Comitê de Apoio – Distrito Federal (DF) entrevistou quatro estudantes presentes na manifestação, que comentaram sobre a situação da educação e os efeitos do NEM. Os estudantes denunciaram a implementação da contrarreforma nas escolas e elucidaram os efeitos da medida no direito à estudar e aprender. Confira, abaixo, as entrevistas de Beatriz, Thales, Lais e Andrei sobre o NEM e a necessidade da luta contra a medida. 


Beatriz Aurora (BA): Eu sou Beatriz Aurora, sou presidente do grêmio estudantil do Centro de Ensino Médio Júlia Kubitschek, tenho 17 anos.

A Nova Democracia: Como o NEM está afetando seu colégio?

BA: O NEM está afetando de forma negativa a minha escola. A gente não conseguiu até hoje ter uma qualidade de ensino que o NEM prometeu pra gente. Os professores reclamam muito que a carga horária de matérias que a gente precisa muito foram reduzidas e foram aumentadas cargas de horas [de matérias] que a gente não tem a necessidade de estar estudando.

A Nova Democracia: Para você qual a necessidade da revogação do NEM?

BA: A revogação do NEM é importante, principalmente para os alunos de escolas públicas, porque a gente não tem uma infraestrutura adequada para adequar esse Novo Ensino Médio. [O NEM] mostra cada vez mais a desigualdade entre escola pública e escola particular, que tem uma estrutura completamente diferente. Então isso acaba revoltando todos alunos e professores que sabem da importância da educação para os brasileiros.

AND: Você sente que tem chance de o NEM ser revogado? Você vê alguma perspectiva de mudança do ensino médio?

BA: Eu tenho uma esperança muito grande que a revogação aconteça. As mobilizações são muito importantes, mostra que os alunos não querem esse novo ensino médio, eles conhecem os direitos deles de poder revogar esse novo ensino médio.

AND: Você acha que a sua escola tem a capacidade de oferecer o ensino integral? E quanto a realidade dos estudantes de cursarem a escola em período integral?

BA: A minha escola já implantou o integral. No começo, quando o integral foi implantado, ele foi obrigatório, e como os alunos da minha escola trabalham de tarde, muita gente saiu da minha escola, então a gente tomou a frente e fez manifestação, fomos atrás da regional, falamos com a direção pra ir atrás, porque a gente precisa trabalhar, os estudantes precisam trabalhar, a gente precisa ajudar em casa, a gente precisa ter experiência, a gente não tem como ficar o dia inteiro na escola. 

A regional conseguiu fazer com que a gente peça documentos da onde trabalha, entrega pra escola, a gente é liberado de tarde. A minha escola, apesar de ter implantado [o ensino em período integral], de tarde continua sendo uma bagunça. Os professores que foram contratados não sabem exatamente como dar a aula e os alunos estão lá só porque são obrigados. Quando a gente está no ensino médio a gente precisa estudar para concurso, vestibular, e com esse tempo na escola não ajuda nem um pouco, então, é isso, a minha escola em relação ao tempo integral.


AND: Você é estudante do CEAN da asa norte, você está em qual ano?

Thales (T): Estou no terceiro ano do ensino médio.

AND: Gostaríamos de saber a sua opinião com relação ao Novo Ensino Médio. O que você acha da “reforma”?

T: Eu acho que essa reforma do ensino médio, que veio recentemente, atrapalhou todo mundo. Não só dos alunos, mas também dos professores, da administração da escola e tudo mais… Retirou matérias que são fulcrais para o desenvolvimento dos adolescentes e trocou por economia de tempo. Isso não é correto.

AND: Você sente a necessidade da volta para o modelo antigo, então?

T: Sim, o modelo antigo, mas preferencialmente um novo modelo. Esse ato não é só pela revogação do antigo, mas pela criação de um novo. Não podemos mentir que estava tudo bem no antigo, tinha seus defeitos, mas era melhor do que temos atualmente.

AND: Você vê alguma perspectiva de mudança do ensino médio?

T: Acho que sim, a união faz a força, como dizem. Os estudantes mobilizados podem sim conseguir reivindicar seus direitos. Não só aqui em Brasília, mas em todos os outros estados estão se manifestando. Acredito que juntos podemos reverter essa situação.

AND: Certo, obrigado.


AND: Você é aluna do ensino médio, né?

Luisa (L): Sim

AND: Qual sua opinião sobre o novo ensino médio?

L: Eu acho que assim: a gente sente muita falta de conteúdo. Aprendemos o básico, os professores estão lutando para conseguir encaixar vários assuntos em pouquíssimo tempo. A gente só está tendo aula normalmente de Português e Matemática, mas todas as outras matérias… Não temos o sentimento de que estamos indo para escola e aprendendo. 

E quando aprendemos pegamos, por exemplo, vestibulares e isso é uma parcela muito pequena. Sabe? Sem contar as eletivas, que são nada com nada. A gente nunca vai usar aquilo na nossa vida. Sabe? É isso, é uma perda de tempo, eu diria. 

AND: Entendi. Em que ano do ensino médio você está?

L: No primeiro ano.

AND: Você ve alguma perspectiva de revogação?

L: Eu acredito, não sei se em um futuro próximo, mas agora que todas as escolas estão, grande parte, no novo ensino médio, as pessoas estão percebendo o quanto é ruim. Até quem estava a favor está vendo que não era.


AND:  Você é estudante do ensino médio? Em que ano você está?

Andrei (A): Sim. Terceiro ano, último ano do CEMAB (Taguatinga)

AND: O que você acha do novo ensino médio?

A: Tem partes boas e ruins. Eu não peguei o novo ensino médio, mas pelo que eu fiquei sabendo tem duas opções: ou você faz as eletivas nas escolas ou participa de cursos profissionalizantes no SENAI… Em relação às eletivas, não tem professor, não tem nada. Mas em relação ao curso [profissionalizante], acho bom porque eu conheço um uma pessoa que faz na quarta e na sexta, daí realmente tem professores e dias certos. Como eu disse, tem duas partes: a boa e a ruim. Na sala de aula não tem nada, a pessoa só vai para ficar a toa dentro da sala de aula.

AND: Você acha que não está funcionando então?

A: Dentro de sala não, só o curso profissionalizante.

AND: O que você acha da revogação do NEM?

A: Sou a favor. Porque tem gente que prefere estar dentro da escola ao invés dos cursos [profissionalizantes], porque trabalha e etc. E em relação às aulas, tem que acabar porque não adianta ir para escola e não ter aula, ficar à toa dentro de sala de aula.

AND: E com a mudança do governo novo você vê alguma perspectiva de revogação?

A: Acho difícil rapaz, acho que continua a mesma coisa.

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