Os problemas no transporte publico não são novos aos porto alegrenses, mas o problema tornou-se ainda mais grave no último ano, com a demissão dos cobradores de ônibus conduzida após a eliminação da função, a reorganização das linhas de ônibus, que deixou o trajeto mais complicado dos trabalhadores que moram nos bairros periféricos ainda pior, e a privatização da Carris, antes prevista para 2022 e agora prevista para este ano de 2023.
O projeto de sucateamento geral do transporte público afetou também o transporte escolar, com o fim do beneficio do Tri Escolar para quase 80.000 estudantes, vitimas do projeto de lei que busca diminuir isenções e benefícios para os ônibus da capital gaúcha. É o encontro de dois projetos nefastos do governo: a destruição do transporte público e a destruição da Educação pública.
No dia 11 de agosto, estudantes, principalmente secundaristas, foram às ruas contra os recentes ataques a Educação. As pautas centrais defendida pelas organizações e movimentos presentes foi a luta contra o Novo Ensino Médio e pela defesa do Tri Escolar. Cerca de 200 estudantes se encontraram na frente do Colégio Júlio de Castilhos, onde elevaram gritos de ordem contra os cortes e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo.
O Comitê de Apoio – Porto Alegre (RS) esteve presente na manifestação e entrevistou alguns dos presentes.
Erika, de 16 anos, da escola Inácio Montanha, afirmou sobre a gravidade do fim do Tri Escolar: “Mais da metade da turma parou de vir para a aula…”.
A manifestação contou também com o apoio de trabalhadores locais, que por diversos motivos simpatizaram com a luta dos estudantes. Foi o caso de Mauricio, de 36 anos, que denunciou como a situação dos cortes afetou seus familiares e conhecidos: “Minhas sobrinhas… conheço vizinhos e amigos que foram muito afetados, que estão suando, indo trabalhar de bicicleta para pagar a passagem dos filhos…”
Já Vinicíus, de 17 anos e o trio Jonathan, Davi e Thiago, todos de 16, concentraram sua denúncia contra o Novo Ensino Médio.
— “Tiraram matérias importantes, a gente mal tem matemática e português, agora a gente vê um monte de coisas nada a ver, esse negócio de vida e carreira…”, afirmaram, sobre as novas disciplinas do NEM. As matérias como “projeto de vida”, “vida e carreira”, dentre outras, fazem parte de um amplo leque de disciplinas sem conteúdo científico implementadas pela reforma.
— “Estão sucateando o Ensino Médio, temos quatro matérias sem professor agora…”, voltaram a denunciar. E completaram: “Não adianta colocar novas matérias sem mudar o ENEM. Somos de periferia, a gente vai fazer o ENEM, não vamos pagar faculdade, nos afeta…”.
O receio compartilhado pelo grupo é um tema central no NEM. O vestibular, excludente por si só, tornou-se ainda mais restrito com a reforma. Milhões de jovens de escola pública ficaram ainda mais prejudicados com a medida, com a exclusão de matérias do currículo no Ensino Médio. Já nas escolas particulares, todas disciplinas cobradas no vestibular, como Filosofia, Sociologia, História, Geografia e Biologia (além de Matemática e Língua Portuguesa) continuam sendo oferecidas da mesma forma que antes da implementação do NEM. As matérias “eletivas” do NEM geralmente são ofertadas em outros horários, como no turno vespertino.
Sobre o Tri Escolar, os jovens também denunciaram como o fim do auxílio prejudica os alunos. Vinícius denunciou que:
— “Muitos [alunos] não vão por causa de passagem… tem que mudar isso, provavelmente não vai mudar para mim mas pra uma próxima geração, pro meu irmão, pode mudar…”.