Equador: Após levante de massas, repressão gasta milhões em equipamentos

Equador: Após levante de massas, repressão gasta milhões em equipamentos

Protesto em Quito. Foto: Rodrigo Buendia/AFP via Getty Images

A Forças Armadas equatorianas fizeram, na segunda semana de dezembro, uma compra milionária (em dólares) das roupas a serem usadas por cerca de 4 mil militares, na ocasião de protestos. O novo traje, conhecido como robocop,  inclui um capacete anti-chamas, um capacete com viseira à prova de nevoeiro, luvas anti-corte, uma balaclava à prova de fogo e protetores de corpo inteiro. Eles também terão um escudo retangular, altamente transparente, à prova de impacto, cobrindo uma altura de 1,20 metros.

O relatório sobre a necessidade da compra, assinado pelo general Edmundo Salvador Mena, comandante do Corpo de Operações Terrestres (COT), indica que o uso de equipamentos especiais é de grande importância “pois permite dissuadir grupos de manifestantes que pretendam perturbar a ordem pública”, disse, referindo-se aos milhões de trabalhadores e estudantes que lutaram por seus direitos que estavam sendo atacados. “Como resultado do que aconteceu de 3 a 14 de outubro, a falta de material não letal para uso em operações contra motins e rebeliões foi evidente”, afirma o documento.

A renovação dos trajes dos policiais e militares anti-motim é uma resposta clara ao grande levantamento de massas que tomou lugar no Equador durante as primeiras semanas de outubro de 2019. Rebelião a qual o velho Estado não conseguiu conter, e precisou do sujo trabalho do oportunismo para apaziguar as massas.

O general Ernesto González, ex-chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas, concordou com a necessidade de equipar as Forças Armadas. “A atual Constituição confia a ordem interna à Polícia Nacional, mas é um conceito equivocado porque as novas ameaças tornam necessário que as Forças Armadas e a força pública se unam para proteger a ordem interna”, disse González. Ele destacou a obrigação das Forças Armadas de reprimir ferozmente todas as manifestações populares para proteger as áreas estratégicas que rendem grandes lucros para a grande burguesia e o imperialismo, protegendo por exemplo a infraestrutura petrolífera, as telecomunicações e as redes de linhas elétricas.

As Forças Armadas também divulgaram a compra de novos materiais de repressão “não letal”, que inclui mil rifles, 12 mil cartuchos de borracha, 30 mil balas de borracha, 15 mil atordoadores, 50 mil granadas de gás lacrimogêneo, mil máscaras de gás, entre outros.

A Força Terrestre especifica que 204 equipes de combate compostas por 20 pessoas cada uma serão equipadas com o traje  Robocop, um escudo e material não letal, para um total de 4.080 militares. “Este número representa 15% do total do pessoal empregado em operações militares internas, o que aumentará a capacidade operacional das unidades táticas na execução de operações militares no caso de novos distúrbios que alterem a ordem pública”, afirmou a entidade, referindo-se à luta popular como “distúrbios”.

A aquisição deste equipamento e material “não letal” é um acréscimo ao investimento de 100 milhões de dólares feito este ano pelas Forças Armadas. O ministro da Defesa Oswaldo Jarrín explicou que seis helicópteros foram adquiridos para busca e resgate, oito aviões de treinamento, 12 barcos para operações na selva, um simulador de defesa, um navio multiuso, um helicóptero leve, três vans, etc. Além disso, foram disponibilizados três helicópteros, 20 veículos táticos e um avião Beechcraft para patrulhar a fronteira norte.

Após os protestos de outubro, Jarrín advertiu sobre a existência de “grupos” revolucionários devido à forma “violenta e planejada” com que eles enfrentaram as forças da repressão. Estas pessoas, disse ele, “que constituíram um novo cenário para o que estamos a preparar, serão identificadas e neutralizadas”.

Verbas para guerra ao povo

Enquanto incrementa a repressão, o velho Estado equatoriano alega dificuldades com o orçamento e tenta empurrar ao povo medidas de maior exploração e corte de direitos.

O gasto público se concentra na repressão em detrimento dos serviços. Em serviços médicos hospitalares, por exemplo, a verba de 2020, comparada com a deste ano, cairá em mais de 80 milhões de dólares (138,4 milhões será o montante gasto), segundo o Ministério de Economia e Finanças. Já os gastos com os militares e agentes policiais atingirá 1,417 bilhão de dólares.

Policiais reprimem manifestantes em Quito. Foto: AFP

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