Camponeses marcham até Quito em 15 de junho de 2022. Foto: Veronica Lombeida
Milhares de camponeses e indígenas têm realizado, desde a madrugada do dia 13 de junho, uma grande greve nacional contra a carestia que assola o povo e a nação equatoriana, impactando principalmente no preço dos alimentos e do combustível. No percurso da greve, mais de 14 províncias contaram com bloqueio de vias e operários, motoristas de ônibus ou táxis, professores, estudantes e funcionários estatais se juntaram aos protestos contra a crise.
As exigências dos camponeses eram, principalmente, o estabelecimento de um preço mínimo de venda dos produtos agrícolas, que estão sendo golpeados pela alta nos fertilizantes. Assim como a diminuição dos preços dos combustíveis e uma moratória de dívidas para as famílias camponesas (mais de 4 milhões de famílias), que estão perdendo suas terras, casas e carros para os bancos.
Além disso, as massas populares exigem o controle de preços e o fim da especulação em cima dos produtos básicos, o fim da privatização e da precarização do trabalho. Também reivindicam que sejam contratados mais profissionais da saúde nos hospitais públicos, que seja sanado o problema da falta de medicamentos básicos, da mesma forma que seja garantido o ingresso dos filhos e filhas do campesinato nas universidades.
As massas também exigem a renúncia do presidente banqueiro Guillermo Lasso, que atualmente encabeça um processo de maior militarização do velho Estado e aplica um plano de venda da pátria ao Estados Unidos (USA) e Israel.
Os camponeses afirmaram que marcharão até Quito, capital do país, caso as exigências não sejam atendidas.
Mobilização massiva e combativa
Manifestação popular em Quito. Foto: Reprodução
A greve contou com bloqueios de vias importantes como a Panamericana, que cruza todo o país. Além disso, no dia 16/06, centenas de manifestantes bloquearam a estrada E35, que dá acesso ao aeroporto de Quito, com pneus em chamas.
Em Quito houve mobilizações dos trabalhadores do transporte escolar, táxis, estudantes, comerciantes e sindicatos. Na paróquia de Calderón, localizada na parte norte de Quito, Cecilia Simbaña, uma dona de casa que tomava parte nos bloqueios de via, explicou a difícil situação enfrentada pelas classes trabalhadoras, agravada após a Covid-19: “Agora para onde estamos indo com nossos filhos sem trabalho? Eles não têm trabalho, onde vão comer? Não nos matou essa doença e este governo vai nos matar de fome. Não é justo!”, afirmou Simbaña ao jornal Voz das Américas.
Em Cotopaxi, Chimborazo e Imbabura houve marchas e fechamento de estradas. Enquanto em Cuenca o setor universitário se manifestou, não apenas estudantes, mas também professores e funcionários estatais. Houve, ainda, manifestações contra a mineração extensiva em Imbabura, manifestação de estudantes em Cotopaxi e um protesto contra a crise carcerária em Guayaquil.
Camponeses de Ibarra enfrentam a repressão policial durante a greve nacional. Foto: FDLP-EC
Além disso, durante a greve, ocorreram bloqueios da entrada e saída de transporte em poços de petróleo e a embaixada do Equador no México afirmou que houve a “entrada não autorizada em plantações […]”. Isto é, mobilização de camponeses contra o latifúndio.
Também de acordo com o governo Lasso, após quatro dias de greve, o governo confirmou o sequestro de pelo menos sete policiais, 15 carros de patrulha atacados, um dos quais foi completamente destruído, e uma vintena de pessoas detidas.
Governo Lasso detém liderança indígena
Mulheres indígenas realizam bloqueio em Santa Rosa, Equador, terça-feira, 14 de junho de 2022. Foto: Dolores Ochoa
Foi detido, no segundo dia de greve, o presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), Leonidas Iza, por “recrudescimento e radicalização da violência pública”, por interrupção da Panamericana em Cotopaxi.
Em vídeos gravados no momento, vê-se que os motivos pela sua prisão nem lhe foram ditos, assim como não se declarou seus direitos constitucionais. Além disso, foi declarado que ele teria sido pego em flagrante bloqueando a estrada, sendo que, na verdade, ele se encontrava dentro de um carro.
Iza foi levado à Quito, fazendo com que centenas de manifestantes se mobilizassem rumo à capital para exigir sua liberdade.
Com camponeses e operários e trabalhadores da cidade protestando nas ruas de Quito, ocorreram confrontos com as forças de repressão e a queima de uma viatura policial em frente à Unidade de Flagrâncias do Ministério Público, onde Iza foi inicialmente relatado para ser, onde se encontrava a liderança.
Conforme ficou claro que a luta das massas se recrudesceria cada vez mais tempo o sindicalista da Conaie ficasse preso, o velho Estado liberou Leonidas Iza. O presidente da confederação deverá comparecer ao tribunal periodicamente. A prisão representa claro ataque ao direito de organização do povo equatoriano, medida desesperada do velho Estado equatoriano amendrontado.
Produtores de banana de El Oro entram em greve
A Associação de Bananeros Orenses, assim como os transportadores pesados da província de El Oro e organizações do bairro de Machala anunciaram que tomariam parte da greve. Os camponeses de El Oro já haviam fechado a rodovia Guayaquil-Machala por uma semana em abril. Eles exigiam a declaração de emergência para o setor que passa pela “pior crise” de sua história, uma vez que o preço mínimo das caixas de bananas (cerca de R$ 31) não estão sendo respeitadas pelos exportadores. Mais de 25% das frutas do Equador eram exportadas para a Ucrânia e a Rússia.
Amazônia equatoriana toma parte na greve nacional
Camponeses da Amazônia equatoriana que tomaram parte na greve nacional rechaçaram a expansão da extração de petróleo e minérios em suas comunidades e exigiram um preço justo de venda dos produtos amazônicos como mandioca, banana, batata chinesa e madeira serrada. Eles também denunciaram a falta de medicamentos nos hospitais e o abandono dos centros educacionais, além do aumento do custo de vida.
“Não podemos entender como que, tendo aumentado o preço do petróleo bruto [exportado], o governo não tem recursos para atender às necessidades urgentes das comunidades”, afirmou a Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana (Cofeniae).
Denunciaram e rechaçaram, ainda, a lei de “uso progressivo da força” pelas forças de repressão, que acabou de ser aprovada pelo parlamento, como iniciativa do presidente Guillermo Lasso.
Velho Estado mostra sua mais reacionária faceta
Camponeses seguram cartaz escrito Não mais pobreza, não mais desemprego, não mais atropelo da saúde, não mais Lasso! na greve nacional. Foto: Rafael Rodríguez
O velho Estado equatoriano, que hoje conta com o governo de turno de Guillermo Lasso, foi obrigado, assombrado pela vitoriosa rebelião de 2019 no Equador, a mostrar mais uma vez sua faceta reacionária desnuda.
O comandante da polícia Fausto Salinas afirmou que “serão usados protocolos de uso progressivo de força” e o ministro da Defesa, Luis Lara, disse que as Forças Armadas não permitirão que “outro outubro de 2019” ocorra no Equador. O ministro indicou que 2,5 mil membros das Forças Armadas foram mobilizados para vigiar poços de petróleo, hidrelétricas e outras áreas estratégicas do país, que em 2019 foram todas tomadas pelas massas em fúria. Desde antes do anúncio da greve, mais de 51 mil policiais já se encontravam mobilizados para atuar na repressão.
A Frente de Defesa das Lutas do Povo do Equador (FDLP-EC) afirmou que as medidas são demonstração da fraqueza do governo. As ameaças permanentes do “uso progressivo da força” (e a sua aprovação pela Assembléia Nacional), entendido, na prática, como o uso letal de armas de fogo, a militarização total do país como se fosse uma guerra nacional e, por último, a captura de Leónidas Iza, mostram as intenções do regime de permanecer no governo a qualquer preço, de fato, assumindo um comportamento fascista, denunciam os revolucionários. A Frente destaca, ainda, que antes do chamado de mobilização da Conaie, a polícia capturou e prendeu um grupo de jovens acusando-os de terrorismo e atividades subversivas.
Os revolucionários relatam também que Lasso assinalou que não precisa da Assembleia Nacional para governar e que vem desenvolvendo uma campanha populista para conquistar adeptos, envolveu USA e Israel em questões de segurança interna, cedendo ainda mais a soberania nacional. Denunciam que Lasso conta com a repressão para tentar tomar o governo e um projeto político que visa reimpulsionar o capitalismo burocrático a partir dos interesses da grande burguesia (especialmente de sua fração compradora), dos grandes empresários, banqueiros, latifundiários e importadores. Lasso, inclusive, já declarou que busca aplicar uma reedição do “Plano Colômbia” no Equador em conluio com o imperialismo ianque.
Para atacar e criminalizar a greve, o velho Estado já tem começado a propagar que os responsáveis por ela são o “narcotráfico” e “terroristas”. “Não há volta agora, esta mobilização deve ir à fundo e até o final, sem hesitação, devemos expulsar o banqueiro do governo, devemos neutralizar o plano do imperialismo para aprofundar a semicolonialidade de nosso país, devemos selar com luta não só os propósitos da reação, mas a voracidade discriminatória e racista da grande burguesia que com grosseiras pretensões vomita seu feudalismo rançoso”, cravam os revolucionários.
Luta das massas!
“Esta é uma luta das massas, daqueles que conseguiram superar a vontade da liderança oportunista de organizações como a FUT, CUT, CTE e outras; é uma luta do povo que deve ser conduzido ideologicamente pelo caminho certo para que o levantamento, a rebelião, sirva como um exercício de Poder diante da necessidade agora inevitável de dar lugar à guerra popular e à Nova Democracia”, declarou a FDLP.
“Não devemos desistir desta jornada; a reação não será capaz de incutir medo capturando ou prendendo mais líderes ou manifestantes. Seus tanques e armas não lhes servem de nada, afinal, são covardes, são rasteiros, nós os vimos correr com os criminosos em seu cangote, com as massas será a mesma coisa ou pior, não há dúvida sobre isso”, disseram os revolucionários equatorianos.
“Lembremos, a repressão só atiça a luta, devemos ir ao fundo e ao fim, quando tivermos o banqueiro em sua casa e tivermos acabado em mil pedaços os planos de reação e imperialismo aos pedaços”, concluem.