No dia 17 de maio, o presidente ultrarreacionário do Equador, o banqueiro Guilherme Lasso dissolveu a Assembleia Nacional ao aplicar, pela primeira vez, o Artigo 148 da constituição equatoriana, a chamada “morte cruzada”. A medida foi aplicada um dia após ser movido contra Lasso um julgamento político por crime de peculato, correndo risco de impeachment. O episódio é sinal do aprofundamento da crise política e militar do país, atiçada após a vigorosa rebelião popular que estremeceu o país no ano passado.
Desde sua aprovação, a medida causou grande rebuliço entre as classes dominantes do país. Lasso, que agora governa por decreto, aproveita da unilateralidade no governo para aprovar rapidamente as reformas antipovo no país. Logo nos primeiros dias após a aplicação da medida, uma reforma tributária foi aprovada por decreto por Lasso. A reforma trabalhista no país, destinada a precarizar ainda mais as condições de trabalho no Equador, também deve ser aprovada.
Lateralmente, os diferentes partidos políticos do Equador, representantes das diferentes frações das classes dominantes do país, lançam-se à busca assanhada por novas alianças e coligações para a conformação do novo governo, tendo que enfrentar as “dificuldades” impostas pela ausência do aparato burocrático nas mãos. Dessa forma, a precipitação das eleições, longe de aliviar a crise, só fez aprofundar o conluio e a pugna da grande burguesia do país.
A crise atinge os militares
Temendo o cenário que o desenvolvimento da crise política pode gerar, as Forças Armadas reacionárias do Equador se apresentaram logo após a dissolução do Congresso a fim de buscar garantir a “estabilidade” do regime antipopular. No mesmo dia em que a assembleia foi dissolvida, o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas (Comaco), general Nelson Proaño, demarcou a “constitucionalidade” do artigo n° 148 da constituição, e afirmou que os militares atuariam com firmeza diante de qualquer alteração da ordem pública. Tanto o edifício do Parlamento quanto outras salas em que funcionavam o legislativo amanheceram custodiadas pela Polícia Nacional.
A intervenção cada vez maior das forças armadas no velho Estado equatoriano a fim de manter a estabilidade tem sido amplamente denunciada por movimentos populares. A Frente de Defesa de Lutas do Povo do Equador (FDLP-EC) denunciou em nota que no cenário da nova farsa eleitoral e de conluio e pugna das classes dominantes, em que os partidos oportunistas preparam seu arsenal eleitoreiro, não se deve “subestimar a possibilidade de as Forças Armadas também afinarem os seus cálculos de governabilidade.”.
Retomar a rebelião
A FDLP-EC afirmou também que a atual crise política foi atiçada pela grande rebelião popular ocorrida em junho de 2022, que se iniciou enquanto rebelião camponesa contra o preço da gasolina, e se alastrou pelas cidades do país até atingir a capital. As longas jornadas de luta duraram quase um mês e aprofundaram a desmoralização do velho Estado equatoriano frente às massas. Foram inúmeros os casos de espancamentos, prisões e assassinatos promovidos pelas forças de repressão contra os manifestantes. A brutalidade foi respondida pelos manifestantes com vigorosos confrontos de ruas e até mesmo cerco de comboios militares.
Frente a isso, a FDLP-EC afirma que, agora, o processo eleitoral promovido pela “morte cruzada” se trata de uma nova tentativa de iludir as massas para o caminho parlamentar e que o povo equatoriano não deve tomar lados pelas frações da burguesia em pugna na atual crise, representadas pelos partidos políticos reacionários. Em contrapartida, os ativistas demarcam que o caminho é desatar nova “tempestade operário-camponesa” e “tomar as ruas para protestar contra a falta de emprego, a violência, os hospitais sem medicamentos e sem médicos, para conquistar direitos e liberdades”.