Equador: Greve geral contra preço da gasolina e reforma trabalhista

Equador: Greve geral contra preço da gasolina e reforma trabalhista

Camponeses bloqueiam vias em Guayas e Los Ríos. Foto: Reprodução/ Mayriss Espinoza

Milhares de operários, camponeses e estudantes realizaram manifestações por todo o país no dia 26 de outubro. As ações são parte de uma grande greve que bloqueou estradas contra os aumentos nos preços da gasolina e uma nova reforma trabalhista anti-povo. Os atos em todo o país ocorrem após o presidente reacionário (Guilherme Lasso) ter decretado Estado de Exceção, sob a justificativa do “combate à criminalidade”.

Os manifestantes realizaram protestos do campo até a capital, mobilizando-se em províncias do interior (como Imbabura, Cotopaxi, Azuay e Guayas) até Quito, passando por dezenas de cidades da Serra ao litoral. 

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Em que contexto ocorre a greve?

A greve acontece em resposta ao abusivo aumento do preço do combustível. O presidente reacionário Guilherme Lasso ordenou que subisse até 12% os preços dos combustíveis às vésperas dos protestos, no dia 22/10. O preço da gasolina subiu a 2,55 dólares (cerca de R$ 14,53) por galão e o diesel passou a 1,90 dólares (R$ 10,72). A gasolina e o diesel custavam respectivamente 2,50 e 1,69 dólares. Numa distorção do que as massas exigiam congelamento de preços, Lasso declarou o congelamento dos preços com os preços em alta.

O atual presidente reacionário Guilherme Lasso foi presidente do Banco de Guayaquil por quase 20 anos. No início dos anos 1990, esteve à frente da Associação de Bancos Privados do Equador. Desde sua campanha, o banqueiro se comprometeu inteiramente com os acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para cumprir a responsabilidade com o imperialismo, o velho Estado equatoriano, sob o governo de Lasso, se comprometeu em outubro a aumentar para 1 bilhão de dólares para pagamento da dívida externa, que deverão ser pagos através de impostos cobrados ao povo.

A retirada de direitos promovida pelo governo é também alvo dos protestos das massas, que rechaçam a proposta de “reforma” trabalhista proposta. Caso aprovada, a medida vai impor uma situação de aumento da jornada de trabalho para 12 horas, contando inclusive com sábados e domingos. Também é prevista a retirada do direito à estabilidade laboral a partir de um ano de trabalho (passando a ser de quatro anos). Além de prever uma maior precarização das condições de trabalho autorizando contratos de meio período.

‘Não podemos ceder até que o regime desista’

A Frente de Defesa das Lutas do Povo do Equador (FDLP) denuncia que o governo de Guillermo Lasso é fiel aos imperialismo (FMI) e aos objetivos vorazes da grande burguesia e dos grandes proprietários de terras. E que, por isso, Lasso tem persistido em governar “de uma forma que viola os direitos mais elementares das grandes maiorias”. 

De acordo com os revolucionários, a situação no país é de desemprego, fome, miséria, superexploração do trabalho, violência (da delinquência e da repressão do velho Estado), entre diversas outras mazelas sociais. Por conta disso, defendem que a mobilização popular não deve se sujeitar a uma única data, o 26 de outubro, mas sim que seu caráter deve ser indefinido, até que o custo dos combustíveis volte aos preços antes da aplicação do decreto executivo e mais: “até que o banqueiro e a assembléia desistam de aprovar a Lei de Oportunidades, verdadeiras cartas negras que eliminam todas as conquistas dos trabalhadores e que precariza o trabalho”. Adicionam ainda que: “Não podemos ceder até que o regime desista de seguir com seu plano extrativista que golpeia os camponeses, destrói a natureza e só gera riqueza para as transnacionais”.

Eles destacam, entretanto, que o período atual não é o mesmo de outubro de 2019, quando aconteceu uma grande rebelião popular no país, mas, nas palavras da FDLP “pode ser melhor”: “Devemos aprender com as lições desse brilhante dia de luta”. Os revolucionários apontam que devem ser incisivos contra o aparelho do velho Estado equatoriano e que há ter firmeza na direção “indígena, camponesa, operária e popular”. Sobre os oportunistas que buscam desviar o caminho da luta das massas, a FDLP aponta que: “Não se pode permitir que estes miseráveis cavalguem sobre as lutas das massas e traiam suas reivindicações e conquistas na mesa de negociações”.

Em Quito, manifestantes vão até à presidência da república

Em Quito, uma marcha de operários, camponeses e estudantes rumava em direção a praça em frente ao Palácio da presidência da República, o Carondolet, rompendo barricadas de grades construídas pela polícia. Para impedir que as massas atingissem o tradicional local de protestos, as forças de repressão do velho Estado lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra a multidão. Em resposta, manifestantes lançaram pedras contra a polícia. Cinco agentes ficaram feridos.

Um grande contingente de policiais havia sido destacado para reprimir os protestos em Quito e proteger o Palácio de Carondelet.

A atuação das forças de repressão durante os protestos de 26/10 foi denunciada por manifestantes. Eles alegam que policiais agrediram uma jornalista e violentaram sexualmente uma manifestante. Além disso, ao menos 37 manifestantes foram detidos durante as manifestações.

Atahualpa: militares capturados por manifestantes

Em uma província ao norte de Quito, em Atahualpa, camponeses que se manifestavam bloqueando vias capturaram dois militares à paisana, que, segundo os agentes de repressão, “realizavam serviços logísticos de alimentação” aos militares que se encontravam na província para reprimir os protestos. Eles só foram liberados no dia posterior, 27/10.

Manifestantes bloqueiam uma estrada no norte de Quito durante manifestações contra os preços dos combustíveis em 26 de outubro de 2021. Foto: José Jácome

Imbabura e região

Camponeses também se manifestaram em Otavalo, Imbabura, bloqueando a rodovia Pan-Americana que ruma à Quito. Um camponês no local, em entrevista à Rádio comunitária Iluman, relatou que concorda com a pauta da manifestação, pois trabalha com comércio e o valor do frete da sua mercadoria aumentou. Ele também denuncia que para encher o tanque do seu carro ele paga todo dia 25 dólares (cerca de R$140), sendo que antes pagava cerca de 10 dólares. Ele também disse que acreditava que esse protesto seria apenas o começo de novas mobilizações.

Os camponeses que bloqueavam uma via movimentada que atravessa a cidade foram reprimidos logo na manhã pela Polícia Nacional com bombas de gás lacrimogêneo. Na gravação transmitida pela Rádio Iluman, uma manifestante denuncia: “É isso que podemos ver a essa hora da manhã: nós não estamos fazendo nada de mau e aí estão como sempre os policiais tratando de atacar.”

A camponesa que grava o confronto descreve que os indígenas e comuneros não carregam consigo nenhum tipo de arma, mas que “como sempre”, são os policiais que buscam o confronto e “sempre nos culpam, nos acusam de criminosos”.

Uma liderança da greve na comunidade foi obrigada a deixar o local da manifestação algemado pela polícia em um helicóptero, conforme mostra o vídeo da Iluman.

Ao todo, 9 pessoas foram detidas em Otavalo, uma cidade de 39 mil habitantes.

Tulcán: motoristas em greve

Em Tulcán, província de Carchi, taxistas, caminhoneiros e motoristas de alguns setores do transporte público e privado fecharam a estrada principal da cidade contra o aumento dos preços da gasolina. De acordo com o taxista Winston Erazo, em entrevista para o jornal La Hora, a decisão de fechar a estrada foi tomada por cada setor do transporte local, já que os motoristas não se sentem representados pelas “lideranças nacionais”.

Babahoyo: camponeses exigem instrumentos de trabalho roubados pelo Estado

Motivados pela mobilização nacional contra o preço da gasolina e a reforma trabalhista, cerca de 50 camponeses em Los Ríos, na cidade de Babahoyo, realizaram uma manifestação em frente ao Ministério Público exigindo algo particular da luta da comunidade: a devolução de vários instrumentos de trabalho que foram confiscados quando tentavam bloquear uma estrada em um protesto anterior no dia 18/10. 

Após isso, os camponeses foram ao escritório da governadora de Los Ríos exigir melhores condições de venda das suas colheitas. A governadora disse que se reuniria com uma comissão de cinco pessoas. Isso foi rejeitado pelos camponeses, que seguiram seu protesto.

Dias antes, em 18/10, os camponeses marcharam em Babahoyo contra as condições de venda da sua produção. Eles denunciam que por um saco de 100 kg de arroz, cujo preço mínimo pelas tabelas oficiais de preço deveriam receber pelo menos 30 dólares (cerca de R$ 165). Entretanto, nas fábricas, os camponeses ganham entre 18 a 20 dólares (em torno de R$ 100). 

Os camponeses afirmam que, sob essas condições, terão de vender suas terras para pagar suas dívidas.

Camponeses produtores de arroz exigem que sua produção seja comprada por um preço justo pelas fábricas. Foto: Belén Zapata.

Cotopaxi: camponeses e estudantes se manifestam

Em Cotopaxi, as comunidades camponesas de  Zumbahua, Pujilí e Saquisilí participaram dos protestos nacionais realizando bloqueios de estrada. Em Saquisilí, a polícia reprimiu o protesto com  tanques anti-motim e bombas de gás lacrimogêneo contra os camponeses. Três agentes e um camponês ficaram feridos no confronto.

À tarde naquele dia, um grupo de estudantes da Federação dos Estudantes Universitários do Equador da Universidade Técnica de Cotopaxi (UTC) realizaram uma manifestação em frente ao gabinete do governador de Cotopaxi. 

Em Pujilí, uma liderança camponesa de uma organização indígena local foi presa após os camponeses se negarem a romper o bloqueio de estrada sob ordens dos militares.

Camponeses em Cotopaxi participam da greve. Foto: Los Andes

Em Guayas, repressão contra o povo

Na província de Guayas (litoral), seis pessoas foram detidas ao tentar construir barricadas nas estradas, ao que foram mobilizados 765 policiais, 300 militares, 2.345 servidores da Comissão Equatoriana de Trânsito e 346 unidades de controle em diferentes eixos rodoviários para reprimir de qualquer forma os protestos dos camponeses.

Bloqueio em Daule na altura da Paróquia Limonal. Foto: Ronald Cedeño

Tungurahua e amazônia equatoriana

Em Tungurahua, cerca de 80 camponeses realizaram um bloqueio de estrada. Na região amazônica, foram relatados bloqueios em Sucumbíos, Pastaza e Morona Santiago. 

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