A família do presidente equatoriano Daniel Noboa traficou cerca de 700 quilos (kg) de cocaína de vários portos do Equador para a Europa entre 2020 e 2022, de acordo com a revista de jornalismo investigativo RAYA, do próprio país sul-americano. A revelação comprova, mais uma vez, que as classes dominantes são as verdadeiras mantenedoras do narcotráfico, e abre espaço para condenações ao governo de Noboa, que em 2024 levou o Exército às ruas do país para atacar o povo sob a falta justificativa de combater o “tráfico de drogas”.
De acordo com a revista, a família latifundiária de Noboa usa a rede logística das empresas de exportação de banana para traficar a cocaína. A eleição presidencial de Noboa, por sua vez, favoreceu ainda mais o esquema, com casos de afastamento de promotores e reincidência de nomes ligados à empresa latifundiária que levantam suspeitas sobre o papel da presidência.
O primeiro carregamento, com 151 tijolos de cocaína camuflados em caixas de banana, foi interceptado em 20 de agosto de 2020 em um navio destinado à Croácia. Dois anos depois, em 30 de junho de 2022, 260 tijolos da droga foram encontrados no sistema de refrigeração do contêiner. No dia 24 de abril do mesmo ano, 76 kg de cocaína foram escondidos em um teto falso de um contêiner. Os três carregamentos estavam no porto de Naportec, no Equador. Um dos contêineres da família Noboa conseguiu sair do Equador com 600 kg de cocaína. A carga só foi interceptada em Mersin, na Turquia, onde foi encontrada em caixas com a logo da empresa Banana Bonita, do grupo Noboa.
O responsável pelos carregamentos, segundo a reportagem do jornalista Andrés Durán, era José Luis Rivera Baquerizo. Ele conseguiu prestar serviços nos três carregamentos porque, apesar das evidências criminais, o funcionário da família Noboa foi solto.
Por outro lado, os jovens pobres do Equador vistos como bandidos pela polícia e pelos militares reacionários do país, mobilizados por Noboa para violar os direitos do povo, não tiveram a mesma impunidade que Baquerizo.
Foi o caso de Javier Vega, um adolescente de 19 anos, recém-formado no Ensino Médio, assassinado por militares na maior cidade do Equador, Guayaquil, no dia 2 de fevereiro de 2024. O assassinato ocorreu no cenário de intervenção militar no país, decretada no dia 9 de janeiro do mesmo ano. O decreto permitiu que militares fizessem operações e patrulhas nas ruas e espaços públicos e privados e prendessem pessoas e veículos. Na mesma época, Noboa chegou a aceitar o envio de policiais ianques e ajuda do serviço de inteligência do EUA na repressão ao povo.
No caso do assassinato de Javier Vega e de outras pessoas durante o estado de exceção no Equador, como Jonath Laaz, assassinado em Durán, e David Cháves, em Esmeraldas, a impunidade foi para os militares. Isso porque, um dia depois do decreto de Estado de Exceção, a Assembleia do Equador aprovou uma medida que dava indulto prévio a policiais e militares no caso de estes cometerem crimes.
O indulto foi bem usado pelos militares: depois do assassinato de Javier, as Forças Armadas divulgaram um comunicado com o título “terroristas detidos em tentativa de ataque a posto militar”, segundo uma reportagem da Agência Pública sobre o caso. O jovem, que não tinha antecedentes criminais, passou a ter uma acusação por “ataque ou resistência” no sistema virtual da Justiça do Equador, gerada um dia depois do assassinato.
Além dos assassinatos, o Estado equatoriano prendeu mais de 12 mil pessoas no país. As denúncias de tortura, mortes e violência sexual nos centros carcerários explodiram na época. De acordo com a reportagem d’A Pública, os presos sofriam com golpes nos testículos, choques elétricos, afogamentos, golpes com paus e cabos metálicos, banhos de urina e restrição de alimentos por mais de seis dias. Pelo menos 8 pessoas morreram em diferentes prisões do país até março de 2024.
Os crimes geraram uma grande revolta contra a gestão de Noboa, condensada em declarações de organizações como a Frente de Defesa de Lutas do Povo do Equador (FDLP – EC). Com a continuação dos crimes contra o povo e o escancaramento do caráter criminoso do presidente equatoriano, a tendência é que novas revoltas comecem a crescer no país.