Corpos são postos no meio da rua em Guayaquil. Foto: STR / MARCOS PIN / AFP/AFP
No Equador, especialmente na cidade de Guayaquil, os mortos pelo novo coronavírus, não tendo onde ser enterrados, são postos às ruas e queimados lá mesmo por familiares desesperados e desiludidos de qualquer auxílio das “autoridades” do velho Estado. Ao fim de março e início de abril, Guayaquil concentrava 70% dos 3.163 casos confirmados.
Ao mesmo tempo que agora o povo equatoriano sofre com a rápida disseminação da doença e a incapacidade do velho Estado de lidar com tal fatalidade, o governo de turno de Lenín Moreno diminuira, em dezembro de 2019, mais de 80 milhões de dólares em gastos com saúde para 2020, destinando-os a gastos militares e para repressão.
No dia 4 de abril, o Ministério da Saúde do Equador informou ter registrado 172 mortes por Covid-19, 122 delas em Guayas. Baixas taxas de teste significam que o número real é certamente muito mais alto. Guayaquil mostra patente o desespero da população pelas mortes de seus entes queridos e a incapacidade das “autoridades” para agir a tempo.
Foram contabilizados mais de 450 corpos nas ruas e casas devido ao colapso dos necrotérios.
Fotos da crise sanitária no Equador : Caixões pelas ruas.
Policiais seriam destinados a recolher corpos de falecidos para serem cremados, entretanto, de acordo com os moradores de bairros pobres e operários, os agentes apenas deslocam os corpos e jogam-os na rua.
Em contraste com as cifras divulgadas pelo governo de turno, inundaram a internet e mesmo na imprensa do monopólio uma onda de denúncias de pessoas de Guayaquil que perderam algum familiar com sintomas como tosse, febre e insuficiência respiratória e que estavam há dias esperando para que alguém vá retirar seus cadáveres de dentro de casa.
De acordo com os familiares dos mortos, isso pode levar até quatro dias, sendo que precisam suportar o calor e o mau cheiro provocado pelos cadáveres acumulados. Outros, desesperados com a presença dos corpos, os atiraram na calçada. E todos coincidem em reclamar que ninguém tenha aparecido para recolhê-los apesar dos insistentes chamados ao número de emergência.
Os serviços de emergências relataram que ocorreram muito mais chamadas do que o habitual em um só dia para o recolhimento de cadáveres em casa. Foram diariamente uma média de 40 casos, contra uma média tida por normal de 14 falecimentos domésticos por dia em Guayaquil.
Caixões são colocados em frente a casas em bairros pobres. Foto: Juan Faustos/Diario Expreso via EFE
Marcelo Correio, morador da cidade, em entrevista com o Correio Braziliense disse: “As pessoas estão queimando familiares em plena calçada ou nas esquinas. Quando retiraram o corpo do meu tio, uma motocicleta se aproximou dos legistas e um homem perguntou se podiam retirar outro cadáver. Muitas pessoas se cansam de ter um cadáver dentro de casa, por causa do odor, da putrefação e do risco de infecção, e o deixam na rua”. De acordo com ele, o governo reconhece cerca de 100 mortos pela Covid-19. “Mas há algo que não se enquadra nessa estatística. Somente aqui em Guayaquil, há entre 200 e 300 mortos por dia.” Além do luto, Marcelo e os avós convivem com o medo da doença. “Comecei a apresentar sintomas. Tenho febre, falta de apetite e tosse com sangue. Tenho medo de morrer.”, relatou o rapaz.
Família em um morro ao norte de Guayaquil usa máscara durante crise do Coronavírus — Foto: BBC
Revolucionários denunciam mentiras e abusos do governo de turno
A Frente de Defesa das Lutas do Povo (FDLP) do Equador, em uma nota publicada, denunciou as práticas brutais e mentirosas do governo de turno de Lenín Moreno sobre a atual crise agudizada pelo coronavírus: “O fato de a FDLP ter vários sindicatos e organizações representativas dos trabalhadores da saúde nos permite ter uma visão mais clara de como e em que condições o vírus afetou a população, especialmente os mais vulneráveis, as massas, os moradores das favelas, os trabalhadores que ganham a vida nas ruas e, agora, como ele começou a penetrar no campo obviamente afetando os camponeses pobres”. E prosseguem: “Em meio a mentiras, o regime tem tentado esconder sua ineficácia levando as Forças Armadas para as ruas; na verdade, os últimos a serem incorporados para reprimir o povo são os membros do Batalhão de Forças Especiais. Inexplicavelmente, eles precisam de assassinos especializados para forçar a coronhadas, chutes, humilhações às massas que não podem estar no confinamento forçado porque não têm com o que manter suas famílias!”.
Eles afirmam que as Forças Armadas, a polícia e as “autoridades” municipais, como na rebelião de outubro, estão mais uma vez trazendo à tona seus mais básicos instintos repressivos e criminosos – suas garras, sua violência e seu ódio aos pobres, às massas de pessoas do país.
Eles colocam, ainda, que o regime está mentindo, dizendo que não permitiria que os empregadores despedissem seus trabalhadores durante o estado de emergência: “Mentira. Grandes empresas estão protegendo seus interesses de classe e sem qualquer preocupação estão despedindo os trabalhadores, enviando-os para as ruas em meio à crise sob o olhar cúmplice do governo”.
A FDLP diz que se solidariza com os vendedores informais e que rejeita e condena as medidas “inoportunas, mentirosas e repressivas desencadeadas por esse regime truculento, que é incapaz e que agora, em meio à crise que não foi gerada precisamente pela pandemia, mas pela incapacidade do Estado de responder às necessidades mais básicas das massas, está tornando as condições de vida dos pobres do país mais precárias e empobrecidas”.
“A guerra contra o coronavírus, que o regime levou a uma guerra contra o povo, mostra mais uma vez como o velho Estado burguês-latifundiário; o capitalismo burocrático e a ditadura dos grandes burgueses e grandes latifundiários deve ser destruída com o mais profundo ódio de classe”, concluem eles.