Rodoviários reunidos em manifestação no dia 04 de janeiro em Vitória, Espírito Santo. Foto: Banco de Dados AND.
Na manhã de 04 de janeiro, segunda-feira, primeiro dia útil de 2021, os rodoviários da região metropolitana de Vitória, Espírito Santo, promoveram uma paralisação do serviço de transporte público. Como principal reivindicação está a exigência da volta imediata dos cobradores, que foram dispensados de seus serviços como parte de ‘medida restritiva à proliferação da Covid19’ feita pelas empresas de transporte.
A ação de reivindicação feita pelos trabalhadores buscou dar visibilidade à situação atual que estão sendo obrigados a passar, particularmente os trabalhadores que exerciam a função de cobrador. Logo após eles serem dispensados, à alguns deles foram oferecidas outras funções, numa clara tentativa de precarizar um setor importante dos trabalhadores do transporte público.
Com a modificação ocorrida após a dispensa dos cobradores, houve também a alteração na forma das passagens serem cobradas. Não é mais possível viajar pagando a passagem em dinheiro. Atualmente a passagem pela catraca se dá somente com um cartão fornecido pela GVBUS. O que gerou maiores dificuldades de moradores do interior em se locomover até à capital, Vitória.
A redução da frota de ônibus em circulação foi um outro prejuízo para os trabalhadores que precisaram utilizar o transporte nos últimos meses. Esta ação foi feita pelas empresas do transporte ‘público’ da região de Vitória mesmo tendo sido comprados novos ônibus no início de 2020.
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Os rodoviários, se antecipando à campanha mentirosa de difamação feita pela união de empresários, governo e monopólios de imprensa, se organizaram para repercutir suas ações através de vídeos divulgados em redes sociais. Em um deles é possível ver um rodoviário afirmando que os ônibus estão prontos a saírem para a rua, bastando somente que os cobradores possam voltar à sua função.
– Sem cobrador não sai! – afirmou um trabalhador em meio a dezenas de rodoviários que mesmo antes do dia nascer já se reuniam na porta da garagem de veículos.
Em um outro vídeo, gravado também nas primeiras horas da manhã, é possível ouvir: “Os cobradores, todo mundo aí, querendo trabalhar em seus postos de trabalho”.
– Quando a gente coloca o cobrador no seu lugar, a própria empresa impede o ônibus de sair – afirmou um trabalhador durante a ação de paralisação.
Ainda assim, o Secretário de Transportes, Fábio Damasceno, foi até os monopólios de comunicação no objetivo de dar uma entrevista criminalizando o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Espírito Santo – Sindirodoviários:
– Estão descumprindo a decisão judicial (…), descumprindo acordo no Tribunal Regional do Trabalho – TRT, e mais uma vez prejudicando a população. Trazendo neste momento de pandemia aglomeração e deixando a população desprovida de transporte público. – afirmou
O Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória – GVBUS (que reúne as empresas do transporte público da região) se pronunciou também. Através de uma nota, afirmaram que os cobradores já foram deslocados para outras funções, e, ainda, chamou a ação justa dos trabalhadores de ‘abusiva’.
cobradores são os primeiros a serem demitidos
O serviço de transporte no país é majoritariamente feito pelo modal rodoviário, com a utilização de ônibus, principalmente. A precarização das condições das viagens, sentidas por todos aqueles trabalhadores que, morando longe do serviço, precisam se dispôr a enfrentá-las, bem como o fato de rodoviários serem cada vez mais prejudicados com a ‘dupla função’ (condição em que o trabalhador exerce tanto como motorista e também cobrador), não são fatos restritos à região metropolitana de Vitória.
A Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU – divulgou um estudo que apontava que 33 cidades haviam extinto totalmente a função de cobrador.
Os dados estão duplamente defasados, primeiro porque a própria entidade afirma que nem todos os sistemas responderam à pesquisa; segundo porque o estudo foi feito há mais de um ano, em 2019.
O levantamento, ainda assim, mostra que em cinco municípios o pagamento de tarifa em dinheiro também foi eliminado. Nestes casos, os passageiros têm que utilizar cartão ou bilhete para pagar a passagem. Na cidade de Sorocaba, o posto de cobrador foi extinto ainda na década de 1990. Ali, o pagamento é feito por meio do cartão ou pagando a passagem por meio de bilhetes com QR Code (Quick Response Code: Código de Resposta Rápida na sigla em inglês) por meio de um smartphone.
O estudo mostra, além disso, que o posto de cobrador foi eliminado parcialmente em 32 municípios. Nesta lista, estão inclusas capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Porto Alegre e Vitória (localidade onde hoje se vê uma importante mobilização de trabalhadores por seus direitos).