O dono e chefe do Grupo Wagner, Yevgeniy Prigozhin, no dia 23 de junho, declarou guerra contra a liderança militar russa e conclamou os efetivos militares russos a se unirem a ele para “consertar as coisas” e pela derrubada do atual ministro da Defesa, Sergei Shoigu. Em resposta, o Serviço Federal de Segurança (FSB, sigla oficial) da Rússia anunciou, no mesmo dia, um processo criminal e a caçada contra ele, acusando-o de “incitação à sublevação armada”.
Em poucas horas, Prigozhin marchou com suas tropas particulares sobre a região russa de Rostov, na fronteira ucraniana, sob a justificativa de que Shoigu realizara um bombardeio contra um acampamento do Grupo Wagner na Ucrânia. Em pronunciamento por áudio, Prigozhin afirmou que não se tratava de um golpe militar, mas sim “uma marcha de justiça”. “Peço a todos que mantenham a calma, que não sucumbam às provocações e que permaneçam em suas casas. É aconselhável não sair ao longo da rota de nossa viagem”, disse ainda.
Dessa crise, explodiu uma série de intrigas e acusações mútuas na cúpula militar russa. O chefe do Grupo Wagner afirmou que a guerra russa contra a Ucrânia não tinha o objetivo de conjurar nenhum perigo iminente, como propagandeia o governo, mas sim, que tinha o objetivo de saquear as regiões de Donbass e que isso atiçou a “ganância dos chefes” militares. Prigozhin, todavia, poupa Putin de suas acusações, ao afirmar que ele teria sido “enganado” pela cúpula militar para iniciar a guerra em fevereiro de 2022. O mafioso disse ainda que o ministro da Defesa, Shoigu, ocultou mais de 2 mil corpos de soldados russos mortos pelos fracassos da ofensiva contra a Ucrânia.
Na verdade, a crise militar aberta é parte da profunda divisão na oligarquia russa na estrutura de Estado. Shoigu e Putin exigiram, recentemente, que o Grupo Wagner e outras formações militares particulares mobilizadas para a guerra assinassem contratos com o Estado russo, através dos quais se tornam cada vez mais dependentes e subordinados ao Ministério da Defesa. Prigozhin, por seu turno, rechaçou tal iniciativa, buscando manter seu poder (recorde-se que Prigozhin é um bilionário, que enriquece crescentemente com o poder pessoal que exerce através de sua influência no aparato estatal, cujo aparato militar próprio é recrutado dentro das prisões, à revelia das leis e dos tribunais).
O chefe do Grupo Wagner acusou também os chefes militares russos de não oferecerem munições suficientes durante as batalhas por Bakhmut.
Por outro lado, Prigozhin foi recentemente citado por um documento secreto do Pentágono, vazado na Internet. No documento, ele é descrito como responsável por oferecer informações militares sensíveis russas às autoridades ucranianas em troca de melhores condições no campo de batalha. Na ocasião do vazamento de tais informações, embora não haja dúvidas de que isso ocorreu, há controversas de que isso tenha sido tentativa de traição ou de foi um movimento de aproximação para descobrir pontos débeis da Ucrânia.
As consequências para a guerra de agressão russa contra a Ucrânia são, ainda, difíceis de calcular, embora sejam inevitáveis os danos e prejuízos, tal como, possivelmente, a liquidação do Grupo Wagner. Os imperialistas russos passam por dificuldades, tanto no campo de batalha, quanto com a descoesão, desintegração, moral baixo das tropas e excesso de disputas pessoais nas cúpulas. São os resultados, indubitáveis, de uma força reacionária que se lança a uma guerra injusta.