Várias unidades do exército reacionário espanhol junto de carros blindados reprimiram, no dia 18 de maio, cerca de oito mil migrantes que haviam chegado em Ceuta a nado do Marrocos. Os agentes espancaram os migrantes e os empurraram de volta para a água, entre eles mulheres e crianças. Um homem morreu durante a travessia.
Os imigrantes começaram a chegar em Ceuta no dia 17/05, e no dia 18 já somavam oito mil pessoas. Cerca de quatro mil migrantes já haviam sido “devolvidos” ao Marrocos. “Nem sequer temos números para aqueles que levamos ao hospital”, disse Isabel Brasero, porta-voz da Cruz Vermelha. De uma ponta a outra do trecho de praia que margeia a cerca que dá acesso à travessia da fronteira haviam pessoas exaustas, quase todas de origem subsaariana.
O retorno dos imigrantes estava sendo realizado “sem a menor formalidade”, de acordo com a agência do monopólio de imprensa Efe. A Ordem dos Advogados de Ceuta confirmou ao El País que seus advogados não foram avisados, como geralmente acontece quando há numerosas ingressões, para ajudar legalmente os retornados de acordo com a lei.
A entrada de 8.000 pessoas de forma irregular em um único dia é um evento sem precedentes na Espanha. Números semelhantes não foram alcançados mesmo nos momentos de maior pressão migratória. O recorde mais recente foi batido no fim de semana de 7 e 8 de novembro de 2020 nas Ilhas Canárias, quando 1.500 pessoas entraram em um único dia e quase 2.200 migrantes acabaram desembarcando nesse fim de semana.
A migração e o chauvinismo
A crise migratória que arriscou a vida de milhares de pessoas ocorreu após o velho Estado marroquino afrouxar a repressão na fronteira com Ceuta para se “vingar” do Estado espanhol pela admissão em um hospital em Logroño do líder da Frente Polisario* e presidente da República Árabe Saharaui Democrática (RASD), Brahim Gali, 73 anos de idade e sofrendo de Covid-19.
Já a União Europeia, sob o domínio político hegemônico da Alemanha (por ser o país imperialista mais poderoso economicamente e militarmente ali e o maior destinos desses imigrantes), expressou sua “solidariedade e apoio” à Espanha e advertiu a Marrocos “As fronteiras da Espanha não são as fronteiras da União Européia”. Dando mostra mais uma vez de seu chauvinismo e rechaço aos imigrantes.
A chamada “crise de imigração” como um fenômeno mundial se dá, na verdade, pelo constante e vil espólio da maioria de nações oprimidas por um punhado de países imperialistas. Esses promovem guerras de rapina e guerras de baixa intensidade para aprofundar sua dominação, tornam os países subjugados dependentes economicamente através de “acordos” leoninos e dívidas impossíveis de pagar, além de tantos outros artifícios utilizados.
Solidariedade entre o povo
Uma semana após a chegada em Ceuta, muitos migrantes ainda eram perseguidos pelo velho Estado e desdenhados pelas ONGs. Entretanto, confirmou-se, mais uma vez, que a consigna Só o povo ajuda o povo! está correta.
“Fomos ver três organizações diferentes, mas fomos rejeitados. Fomos para a delegacia e eles nos escorraçaram. Fomos à Cruz Vermelha, e eles nos disseram que não podiam nos acolher”, disse um imigrante ao monopólio de imprensa France24.
Diante dessa situação, a moradores local, Sabah Mohamed juntou amigos e eles se organizaram para poder prestar solidariedade aos imigrantes. “Vi tanta gente vagando pelas ruas e pensamos: ‘Temos que ajudá-los’. Havia pessoas que estavam molhadas, pessoas que não tinham sapatos, outras que estavam desorientadas e com fome… Então meus amigos e eu, que não pertenço a nenhuma organização, decidimos que precisávamos ajudar”.
“Eles nos dão roupas, podemos vir tomar banho aqui… eles nos dão comida e água”. É tudo o que precisamos, graças a Deus”. O povo de Ceuta é gentil conosco”, disse um migrante na casa de Mohamed.
Veja aqui as imagens do ocorrido:
Exército e polícia espanhóis atiram bombas contra migrantes recém chegados. Foto: Fadel Senna
Soldados reprimem imigrantes recém chegados. Foto: Antonio Sampere
Bebê é resgatado. Foto: Guarda Civil
Trabalhadora da Cruz Vermelha presta apoio a migrante. Foto: Bernat Armangue
* De acordo com AND, a Frente Polisário é um movimento de libertação nacional que luta pela independência do Saara Ocidental em relação ao Marrocos desde 1975, após o fim da ocupação espanhola. Atualmente, o exército saarauí exige a realização de um referendo para que o povo local decida ou não pela sua autodeterminação.
Em 13 de novembro de 2020, o grupo declarou que o Marrocos havia quebrado um cessar-fogo de três décadas ao retomar operações militares na fronteira de Guerguerat para reabrir uma rodovia bloqueada, que leva à vizinha Mauritânia. O local em questão fica na zona neutra entre o território reivindicado pela monarquia marroquina e a República Democrática Árabe Saarauí.
Brahim Ghali, líder saarauí, afirmou em carta à Organização das Nações Unidas (ONU) que “[O Marrocos] prejudica gravemente não apenas o cessar-fogo e acordos militares relacionados, mas também qualquer chance de conquistarmos uma solução pacífica e duradoura sobre a descolonização do Saara Ocidental”.
Recentemente, o Marrocos concordou em normalizar laços com Israel e a reconhecer o Estado sionista, a despeito da ocupação colonial e genocida dos territórios palestinos. Em troca, o Estados Unidos (USA) reconheceu a soberania do Marrocos sobre as áreas em disputa do Saara Ocidental.