Bolsonaro e Bebianno, antes da crise, eram aliados. Foto: Arquivo Revista Fórum
O Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, ex-presidente do Partido Social Liberal (PSL) ao qual é filiado o clã Bolsonaro, será demitido pelo gerente de turno no dia 18 de fevereiro. Bolsonaro já teria assinado sua demissão, faltando apenas publicá-la no Diário Oficial. A demissão, que veio acompanhada de uma aguda crise no interior do governo, foi devida a um esquema de corrupção no PSL no qual Bebianno é acusado de envolvimento.
Bebianno foi presidente do PSL na época da campanha eleitoral e é considerado um dos responsáveis principais pela vitória eleitoral de Bolsonaro. Foi durante a campanha de Bolsonaro que Bebianno acumulou capital político no interior do governo, garantindo seu lugarzinho rendoso no ministério.
No entanto, a desgraça começou a pesar-lhe quando veio à tona a denúncia de um esquema de corrupção coordenado dentro do PSL para desviar dinheiro público do fundo eleitoral.
O jornal Folha de S. Paulo publicou, no dia 4 de fevereiro, a denúncia de que o partido de Bolsonaro e Bebianno registrou na justiça eleitoral candidaturas para ter acesso a maiores quantias do fundo eleitoral (dinheiro público cedido aos candidatos para patrocinar suas campanhas eleitorais), mas parte do dinheiro não foi utilizado nas ditas campanhas, ao contrário, foram desviados.
O primeiro pivô da crise foi o atual Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que era presidente estadual do PSL em Minas Gerais. Dado seu poder como presidente regional, ele lançou quatro candidaturas para ter acesso ao dinheiro público do fundo eleitoral, num montante de R$ 279 mil, e depois pressionou as candidatas a devolver parte do dinheiro.
A candidata a deputada estadual pelo PSL em Minas, Cleuzenir Barbosa, em depoimento ao Ministério Público no dia 18 de dezembro, acusou dois assessores do Ministro do Turismo de coagi-las a devolver R$ 50 mil dos R$ 60 mil que havia recebido do fundo eleitoral, comprovando que o esquema de fato existiu.
Os casos envolvendo diretamente Bebianno começaram então a surgir. O primeiro foi o repasse de R$ 400 mil para uma candidata laranja aliada do atual presidente do PSL, Luciano Bivar. A candidata, chamada Lourdes Paixão, foi a terceira maior recebedora de verbas e, no entanto, recebeu apenas 270 votos, o que é um indicativo de que ela, na realidade, não fez campanha. Esse repasse foi autorizado pelo ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
Bebianno também permitiu o envio de R$ 250 mil para a candidatura de uma ex-assessora que, por sua vez, justificou o gasto do dinheiro com “impressão de materiais de campanha”. A gráfica que teria prestado o serviço, no entanto, não existe de fato, revelando suspeitas de que esse dinheiro tenha, na verdade, retornado para Bebianno.
Outros casos, por todo o país, estão sendo revelados, demonstrando a prática imoral do PSL, práticas cujo responsável geral era Bebianno e sob as quais foi eleito Bolsonaro e seus asseclas.
Crise abala a trupe reacionária do Palácio do Planalto
Bebianno, tentando resguardar-se da crise, afirmou no dia 12 de fevereiro que “não há crise” no governo e que teria conversado “três vezes” com o Bolsonaro apenas naquele dia, em suas redes sociais. Carlos Bolsonaro, o filho caçula aloprado do gerente de turno, estalou de vez a crise chamando-o publicamente de mentiroso, a que seu pai corroborou.
Considerando-se injustiçado, Bebianno chegou a declarar que “não sou moleque” e acusou Bolsonaro de deslealdade. “O presidente sabe. Ele está com medo de receber algum respingo”, ameaçou em entrevista à revista Crusoé, sugerindo que Bolsonaro teria sido beneficiado pelo esquema.
Numa outra entrevista, o mesmo ex-ministro declarou que deveria “pedir desculpas ao Brasil” por viabilizar a eleição de Bolsonaro, segundo aliados seus ouvidos pelo monopólio, e chegou a dizer que “não cairei sozinho”, ameaçando revelar esquemas mais profundos.
Tentando contornar o desgaste com Bebianno e evitar um aprofundamento da crise com possíveis revelações de esquemas por parte do ex-ministro, Bolsonaro ofereceu-lhe um cargo na diretoria da hidrelétrica de Itaipu, cujo valor do salário é três vezes maior que o de ministro. Bebianno não aceitou.
No lugar do ex-ministro ficará mais um general. Floriano Peixoto, general de três estrelas (penúltimo posto de hierarquia do Exército), ficará a frente interinamente do ministério. Dentre os generais, no entanto, já há polêmica sobre isso, pois o general de três estrelas Floriano, uma vez assumindo a pasta, estará acima do general de quatro estrelas Maynard Santa Rosa, que atualmente é chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, subordinada à Secretaria-Geral. O episódio gera já pequenos atritos entre os generais.
Crise deve impactar reformas
A crise desatada no governo expõe a profunda divisão que o assola. Após o processo de pugna, até mesmo o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), criticou Bolsonaro.
“A impressão que dá é que o presidente está usando o filho para pedir para o Bebianno sair. E ele é presidente da República, não é? Não é mais um deputado, ele não é presidente da associação dos militares.”, disse ele em entrevista ao monopólio G1.
Segundo analistas, a crise deve tornar ainda mais difícil a aprovação da reforma da Previdência do modo como o imperialismo e as classes dominantes exigem (reforma para superexplorar mais o povo e entregar a Nação aos bandidões do capital financeiro), pois o governo passa para o Congresso uma imagem de “insegurança”. A cada crise, os parlamentares, percebendo a divisão do governo, sobem suas exigências para votar a favor do projeto.