O general iraniano e comandante sênior da Guarda Revolucionária Iraniana, Seyyed Razi Mousavi, foi assassinado em um ataque israelense ilegal contra um bairro na cidade de Damasco, na Síria, no dia 25 de dezembro. A investida foi condenada por diversos grupos islâmicos e anti-imperialistas como uma violação clara da soberania nacional síria. A Guarda Revolucionária Iraniana prometeu uma retaliação contra o assassinato, classificável também como um atentado direto contra o Irã.
A Guarda Revolucionária Iraniana é uma força de elite das Forças Armadas do Irã, e Mousavi atuava como conselheiro militar na Síria. Segundo o comunicado da instituição, “o regime israelense irá pagar, sem dúvida, o preço por este crime”.
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, também se manifestou, e declarou que “Tel Aviv deveria esperar uma contagem regressiva difícil”. Já Nasser Kanaani, ministro dos Negócios Estrangeiros do país árabe, afirmou que o Irá “se reserva ao direito de tomar as medidas necessárias e responder ao assassinato no momento certo”.
Mousavi foi sepultado em Najaf, no Iraque, em uma cerimônia que reuniu uma multidão revoltosa. Gritos de Morte a Israel! foram ouvidos enquanto o caixão era carregado.
Condenação internacional
A incontestável violação de Israel foi condenada também por outros países árabes e organizações islâmicas e anti-imperialistas. A Jihad Islâmica Palestina (JIP), organização patriótica com forte atuação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupada, condenou o assassinato e declarou que Mousavi “teve um papel fundamental e central no apoio às forças da resistência na região [do Oriente Médio] e no apoio ao povo palestino, à resistência e à causa”.
A declaração da JIP foi emitida em meio ao avanço da guerra de libertação nacional do povo palestino contra o Estado sionista de Israel, conflito no qual a organização palestina tem desempenhado papel de vanguarda ao lado de outras forças da resistência.
Já o Hezbollah, grupo que resiste contra a ocupação israelense no Sul do Líbano, descreveu o assassinato de Mousavi como “uma violação flagrante e desavergonhada”.
Prática ilegal e sistemática
A violação da soberania nacional dos países e povos árabes do Oriente Médio por meio de assassinatos de lideranças ou figuras proeminentes é uma prática sistemática por parte do Estado sionista de Israel. Via de regra, os assassinatos miram alvos de interesse compartilhado pelo imperialismo norte-americano (Estados Unidos, USA), e por vezes são realizados em operação conjunta entre ambos os Estados.
Nas comparação mais óbvias, o assassinato de Mousavi foi rapidamente equiparado ao atentado sionista de 3 de dezembro de 2020 contra o general Qassem Soleimani, também da Guarda Revolucionária Iraniana, assassinado no aeroporto de Bagdá, no Iraque, em um bombardeio encomendado pelo ex-presidente do USA, Donald Trump. Segundo o Irã, Israel atuou estreitamente com o USA no fornecimento de inteligência militar.
Assim como o caso recente, o assassinato de Soleimani foi duramente condenado no Oriente Médio. No Irã e no Iraque, dezenas de milhares de pessoas levantaram-se em manifestações anti-imperialistas, que foram seguidas em países como Paquistão, Índia e até mesmo no próprio USA.
O sentimento anti-imperialista elevado nas manifestações contra o assassinato de Soleimani foi expressão de um verdadeiro acumulo de revolta. Um mês antes, o chefe do programa nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh também foi assassinado em um ataque, dessa vez no próprio Irã, nas redondezas da capital. Segundo o país, Israel esteve por trás do atentado.
Golpe desesperado
Mas há uma nova particularidade no atentado recente, cometido em um momento absolutamente sensível para Israel. Nos atentados dos últimos anos, o regime sionista não estava posto em cheque por uma verdadeira guerra de libertação nacional, e nem de perto tão isolado politicamente quanto se encontra hoje.
Meses antes dos assassinatos de Mohsen e Qassem, Israel avançava em suas relações diplomáticas com países árabes como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, na inauguração dos Acordos de Abraão. Marrocos, Omã e Sudão também normalizaram laços com Israel no período, seguidos por acordos comerciais da Jordânia com o Estado sionista no ano seguinte.
Agora, os países que selaram acordos com Israel são duramente condenados pelas massas árabes que se levantam em vigorosas manifestações, semana após semana, em apoio ao povo palestino e sua guerra contra o regime sionista lançada no dia 7 de outubro e travada principalmente nos diferentes eixos de combate da Faixa de Gaza, mas com reflexos claros na Cisjordânia ocupada.
Movimentos anti-imperialistas atuam com firmeza contra o regime israelense, e impedem, como é o caso dos Houthi, embarcações de chegarem pelas rotas mais fáceis ao porto de Eilat, o único sob controle de Israel. Em países como a Síria e o Iraque, onde as Mousavi e Soleimani foram assassinados por Israel e pelo USA, forças islâmicas e anti-imperialistas se movimentam em ataques contra bases de ocupação ianques e em lançamentos de drones contra Israel.
Em todo o resto do mundo, massas populares também condenam as violações sistemáticas de Israel contra a Palestina, principalmente, mas também contra toda a Nação árabe. Relações diplomáticas e contratos de diferentes Estados com Israel foram abalados, sob a forte pressão popular para o rompimento completo de laços com o sionismo.
Nas novas condições, as violações de Israel contra os países vizinhos não passam mais despercebidas ou impunes, e, longe de expressarem sinal de força, servem unicamente ao aprofundamento das derrotas políticas e militares do regime israelense pró-ianque. São golpes desferidos aqui e ali ao estilo besta ferida, incapazes de mudar a realidade sólida de que não há perspectivas positivas para o Estado sionista, seja pelas mãos da Resistência Palestina, seja por outras forças anti-sionistas da guerra em regionalização.