Ato de estudantes realizado em outubro de 2020, na cidade de Juazeiro, no estado da Bahia. Foto Wilson Duarte
Estudantes de todo o país realizaram um boicote histórico ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021. No primeiro dia do exame, 17 de janeiro, o número de inscritos que não compareceram foi de 51,5%, já no segundo dia, 24/01, este número subiu para 55,3%. Esse boicote histórico reflete as condições absurdas nas quais foi realizada essa prova, servindo unicamente para beneficiar os oligopólios privados da educação.
Desde o início das discussões sobre as datas em que seriam realizadas as provas, tendo em vista ao cancelamento das datas iniciais no ano de 2020 por conta da pandemia, estudantes de todo o país se posicionaram contra a aplicação do exame. Os próprios estudantes em votação aberta no site do Ministério da Educação (MEC) escolheram o mês de maio para a realização da prova, porém por pressão das empresas privadas de educação que recebem rios de dinheiro através de programas do governo como Fies e Prouni, o governo Bolsonaro/generais decidiu antecipar as provas.
A Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia (ExNEPe) foi uma das entidades estudantis que lançaram posição se opondo à realização do exame. De acordo com a entidade, a aplicação do Enem nas datas nas quais foram impostas configuram um absurdo completo e um crime contra os estudantes. Primeiro porque depois de um ano letivo inteiro sem aulas presenciais com conteúdos sendo mandado aos alunos via Whatsapp, os alunos, principalmente os pobres, não tiveram a mínima preparação necessária para fazer a prova. Em segundo lugar, reunir dezenas de pessoas em salas, corredores e filas, em um momento em que 200 mil brasileiros morreram pelo vírus e as mortes chegam a mil por dia, configura um crime contra a saúde do povo.
Como resultado das condições em que foram aplicadas as provas, em diversos Estados da federação, estudantes relataram que foram impedidos de entrar nos locais de aplicação de provas, pois os mesmos já estavam lotados, fato que evidencia a ineficácia logística do MEC. Segundo denúncias dos estudantes, os casos aconteceram em 11 locais de provas nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
“Cheguei super cedo no lugar mas quando entrei na fila para entrar me disseram que não tinha lugar para todo mundo na sala”, disse a estudante Thayná Bampi, de 21 anos, em entrevista ao monopólio de imprensa G1.
No dia 16 de janeiro, véspera do 1º dia de provas, a Defensoria Pública da União enviou um recurso à justiça alegando que o ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mentiu sobre as informações sobre a segurança do exame no que tange às medidas sanitárias de prevenção ao coronavírus. As denúncias da DPU foram comprovadas no dia do exame com salas com mais de 80% de ocupação, muito longe dos menos de 50% anteriormente divulgados pelo Inep.
“Até tinham marcações de distanciamento no chão, de onde as carteiras deveriam ser colocadas, mas elas não foram seguidas. E olha que na minha sala faltaram mais de dez pessoas, se tivesse ido todo mundo não sei onde colocariam mais gente, teríamos que fazer a prova no colo um do outro” relatou a estudante Mariana Correa, de Santa Catarina, em entrevista à revista Carta Capital.
Campanha de boicote ao Enem
O sucesso da campanha de boicote ao Enem reflete a justeza de tal análise de que a imposição do exame serve somente aos interesses do capital privado.
Com isto, estudantes de todo o Brasil saíram às ruas e foram até os locais de aplicação das provas com o documento A realização deste Enem é absurda e criminosa! da ExNEPe para conscientizar os alunos da mediocridade do governo federal que em meio as condições já citadas impôs tal prova.
Foram realizadas panfletagens no Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Curitiba, Belo Horizonte e em outras capitais.
Repúdio a mercantilização do ensino
O boicote gigantesco de quase 2 milhões de estudantes ao Enem, é com tudo um reflexo do repúdio de toda a classe estudantil comprometida com o ensino de qualidade, a mercantilização do ensino promovida pelo governo Bolsonaro/generais, dando seguimento a uma política de privatização que vêm de governos anteriores como os de Lula. Dilma, Temer e etc.
Com o fechamento de escolas e universidades por conta da Covid-19, o governo juntamente com o monopólio privado da educação puderam impor aos estudantes um desejo antigo, o Ensino à Distância (EaD), programa que tem o objetivo de defasar e sucatear o ensino público e deixá-lo ainda mais sem qualidade, além de aumentar os lucros destes entes privados da educação, que não precisarão contratar mais professores, profissionais de limpeza, seguranças e outros demais trabalhadores que mantém as instalações das instituições de ensino. Se por um lado teremos mais desemprego, também teremos o aumento da exploração dos profissionais que permanecerão trabalhando em condições degradantes.
Com isto, obrigar os estudantes pobres a fazer o Enem deste ano é uma forma de fazer com que estes, não adentrem a universidade, uma vez que não puderam se quer estudar. Segundo a ExNEPe, o que resta para os estudantes, professores, pedagogos, e demais trabalhadores da educação é se organizar para dar um caminho para essa justa revolta, condição necessária para barrar esse ataque à educação.