Pela segunda vez seguida, estudantes da Universidade de Brasília (UnB) repeliram uma tentativa de invasão da universidade por bandos da extrema direita. Essa segunda vitória dos estudantes ocorreu no dia 4 de abril, cerca de uma semana depois da primeira tentativa dos reacionários tentarem invadir a universidade no dia 24 de março.
A invasão é organizada por grupos de extrema direita que convocam os reacionários por meio de mensagens no Whatsapp, conforme averiguou o correspondente local de AND. “Nossa intenção não é ‘recuperar’ a UnB, que nem é deles, e sim trocar porrada com os vermes”, afirmava uma das mensagens.
Em outra mensagem, um integrante de um dos grupos de agitadores da extrema-direita levanta a dúvida se portar spray de pimenta e armas de eletrochoque é permitido. “Embora sejam alternativas menos letais em comparação às armas de fogo, isso não significa que seu uso e porte sejam completamente liberados”, afirmou.
Os prints logo circularam entre os estudantes que buscaram se mobilizar mais uma vez e, de forma independente, organizaram a autodefesa e prepararam um “contra-ato” para o mesmo dia e horário. Diversas forças do movimento estudantil, partidos, organizações, estudantes independentes, professores e sindicalistas se mobilizaram para impedir novamente o ataque dos “galinhas verdes”.
Frente à mobilização estudantil, os reacionários se acovardaram e decidiram cancelar o ato na UnB e mudar a concentração para a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), local onde eles têm a proteção de deputados e senadores de direita e da Polícia Militar (PM). Foi a própria PM, junto da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP DF), que orientou os galinhas verdes a não realizarem o ato, pois, supostamente, estudantes de esquerda estavam preparando “ações violentas.”
No entanto, o “youtuber” agitador da extrema direita e aluno suspenso da UnB Wilker Leão decidiu se encontrar com apoiadores na biblioteca do campus. Estudantes denunciaram ao correspondente local que, durante o contra-ato, os apoiadores do “youtuber” circulavam entre os estudantes se passando por alunos para provocá-los, tentando criar cenários que provassem a narrativa de Wilker Leão de perseguição a sua pessoa.
A UnB afastou Wilker Leão, que é aluno da universidade, por mais 60 dias, após ser acusado de vazamentos de dados de outros estudantes, incentivar seus seguidores a praticarem invasões e agressões contra os estudantes, além dos assédios aos professores em sala de aula.
Deputados distritais acionaram a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e a Polícia Federal (PF) para investigar novos vazamentos que ocorreram após o último confronto com estudantes na UnB, no qual Wilker Leão divulgou imagens, nomes e redes sociais de alunos da UnB, pedindo aos seus seguidores mais informações sobre as pessoas expostas.
Em nota, a Reitoria da UnB afirmou que devido ao cenário atual e às ameaças, adotou “um conjunto de ações voltadas à preservação da segurança de sua comunidade e do patrimônio público”. As medidas incluem reforço da segurança patrimonial, melhoria da infraestrutura de iluminação externa e atuação integrada com os órgãos de segurança pública do DF e com a PF.
‘Mais uma vez a revoada das galinhas’
Mesmo com o cancelamento do ato da extrema direita, formada majoritariamente por pessoas de fora da UnB, os estudantes mantiveram o ato, se concentrando no “ceubinho” do Instituto Central de Ciências da UnB e posteriormente fizeram uma marcha por todo o prédio entoando Fora fascistas da UnB, a juventude combativa vai te botar pra correr, Tá sem moral, tá sem moral! Apanha na rua e vai chorar no seu canal! e Ah, mas que gracinha! Mais uma vez a revoada das galinhas!.
Cerca de 100 pessoas se reuniram na UnB, mesmo com o cancelamento do ato da extrema-direita. Na CLDF, cerca de 30 militantes da extrema direita se reuniram com o deputado distrital Thiago Manzoni (PL), que afirmou que “nós vamos trabalhar para que a educação do Distrito Federal, em especial o ensino superior, seja livre dessa hegemonia do pensamento esquerdista”.
Durante o ato, estudantes denunciaram como o governo de turno de Luiz Inácio deu mais espaço para a extrema direita agir, se aliando com o centrão bolsonarista e o latifúndio, base econômica e política da extrema-direita no Brasil, mas que “é necessário se atentar a Revolução Agrária, que enfrenta os fascistas no campo” e que “também cabe a nós, estudantes, combater o fascismo nas universidades como parte desse processo revolucionário em curso no país.”
Deputados da extrema direita choramingam sobre queima de bandeira
No fim do ato do dia 24/03, estudantes atearam fogo em uma bandeira de Israel e do imperialismo ianque, demonstrando solidariedade com a luta do povo palestino e bradando Fora Israel das terras palestinas, fora ianques da América Latina! e Chega de chacina, PM na favela, Israel na Palestina!. Os estudantes finalizaram seu ato declarando que “sempre que necessário, colocaremos os ‘galinhas verdes’ para voar!”
A queima da bandeira foi divulgada como um grande escândalo entre os influenciadores e deputados da extrema-direita. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) foi uma das que compartilharam os vídeos com a legenda “extrema esquerda queima bandeiras de Israel e dos EUA em protesto”
Em nota, a B’nai B’rith, organização sionista, buscou taxar o ato dos estudantes como “ato perturbador” que “requer resposta imediata e eficaz da universidade, das autoridades e do Ministério Público.”
Assim como Victor Jansen, que filmou um cartaz do Coletivo de Base – Honestino Guimarães em apoio à Palestina e afirmou que se tratava de “referências ao terrorismo”. A entidade buscou associar o apoio à resistência palestina como “antissemitismo e apoio velado ao terrorismo.”
“A queima das bandeiras é um ataque direto a esses valores fundamentais e exige uma resposta inequívoca contra intolerância, extremismo, antissemitismo e apoio velado ao terrorismo sob o falso pretexto de resistência.”
O deputado federal Fred Linhares (Republicanos-DF) apresentou um requerimento que pede moção de repúdio à UnB pela queima de bandeiras, ato que o parlamentar afirma configurar crime de ódio, incitação à violência e intolerância religiosa. “Esse tipo de vandalismo não é ‘ato político’, é crime e deveria ser tratado como tal. A UnB precisa ser espaço de conhecimento, não de ódio ideológico! Vamos cobrar providências! O Brasil não pode ser refém da militância extremista nas universidades”, disse Linhares ao monopólio Metrópoles.
A PM-DF havia informado que atuaria de forma preventiva e específica no campus Darcy Ribeiro, montando um “gabinete de crise” com representantes da corporação, da SSP-DF e da Reitoria para monitoramento da situação da Universidade.