Diversos representantes de potências imperialistas da Europa compartilharam suas preocupações em um relatório técnico do Parlamento Europeu acessado pelo colunista do monopólio de imprensa Uol, Jamil Chade, na semana passada. O documento cita a ameaça chinesa sobre os recursos naturais latino americanos dominados pela Europa.
A América Latina foi descrita no texto como uma região de “importância estratégica para o futuro da economia global devido a sua abundância de recursos naturais, como o lítio e o cobre”. O documento expressa que a União Europeia perdeu o posto de principal parceiro comercial do Mercosul para o social-imperialismo chinês, que em 2023 chegou a ser responsável por 26,7% do comércio externo do bloco sul americano, superando os 16,9% da UE e 13% dos Estados Unidos (EUA). Contudo, apesar do crescimento da influência chinesa, os EUA ainda são os maiores exploradores do subcontinente. Em 2021, a superpotência hegemônica única ianque foi responsável por 49% das importações do continente, segundo a Associação Iberoamericana de Gás Liquefeito e Petróleo AIGLP.
O documento aponta que o social-imperialismo chinês tem avançado principalmente sobre as áreas de “energia, matérias-primas e mineração”. Com o avanço da produção de veículos elétricos e outras formas de tecnologia, o controle cada vez maior das reservas de lítio, cobre e terras raras são fundamentais para a disputa crescente entre o social-imperialismo chinês e o imperialismo ianque. A China monopoliza a compra de elementos terras raras de uma mina no Brasil, conforme mostrou recentemente o AND.
Segundo Chade, a China possui e opera em 300 usinas de energia e é dona de 50% da geração de energia hidrelétrica em São Paulo, totalizando 10% da produção de energia no País. No Chile, 57% da produção elétrica é chinesa. A UE receia que em 2035 a China supere os EUA em investimentos na região.
Um fato importante, contudo, é que embora os social-imperialistas chineses estejam avançando sobre o subcontinente, a potência asiática não tem condições de contestar o domínio ianque no território. Até porque é incapaz de enfrentar o EUA militarmente, ainda mais fora da Ásia. Esse fenômeno ficou escancarado quando, em meio a sinais da entrada do Panamá na “Nova Rota da Seda” esse ano, o EUA cancelou o acordo com ameaças ao país latino e, depois, intensificou o domínio no território com o envio de tropas.
As massas respondem
Quem mais sofre com as disputas interimperialistas pelas riquezas naturais da América Latina são as próprias massas populares latinoamericanas. No Panamá, protestos massificados condenaram a intervenção imperialista dos ianques no país e a subserviência do governo aos norte-americanos.
A mobilização também ocorre em outros países. No México, há anos que camponeses, indígenas e defensores do meio natural protestam de várias formas contra o Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec (Ciit), um megaprojeto coordenado pelo imperialismo norte-americano para contrapor o Canal do Panamá. O projeto foi iniciado justamente para compensar o domínio dos chineses no canal mais antigo, e o resultado foi a destruição de reservas naturais do México e o roubo de terras camponesas e indígenas.
A mineração tem sido alvo de intensos protestos pelo subcontinente, principalmente no Peru. No final de março e início de abril, indígenas bloquearam a entrada de uma mina administrada pela empresa imperialista anglo-suíça Glencore em Antapaccay. No ano passado, várias instalações da mineradora Poderosa foram sabotadas em meio a conflitos agrários no país. Ao todo, 16 torres de eletricidade foram dinamitadas.
As tentativas dos imperialistas de aprofundar o saqueio na América Latina tende a enfrentar ainda os obstáculos das lutas guerrilhas em países como a Colômbia e Paraguai, que não cessaram apesar das tentativas dos governos de empurrarem falsos “acordos e país”, e das lutas armadas em outros países.
Esse conjunto de mobilizações foi abordado pela Liga Comunista Internacional (LCI) em uma declaração lançada no dia 1° de maio e traduzida pelo blog Servir ao Povo. No texto, os comunistas afirmam que: “Não bastaria dizer que na América Latina a pradaria está seca; seria mais preciso afirmar que toda a região é um barril de pólvora prestes a explodir em uma tempestade revolucionária”, escrevem eles.
No mesmo parágrafo, eles pontuam que “com base nisso, os maoistas atuam mobilizando, politizando, organizando e, cada vez mais, armando as massas, principalmente os camponeses pobres, a força principal da revolução democrática”