Ex-funcionário da CIA é condenado a 40 anos de prisão por vazamento de documentos para o WikiLeaks

Schulte foi condenado a 40 anos de prisão por suposto vazamento de documentos que comprovam espionagem ilegal da CIA. O homem denuncia ter sido torturado nas prisões do USA. A condenação ocorre ao mesmo tempo em que Julian Assange sofre riscos de extradição do Reino Unido.

Ex-funcionário da CIA é condenado a 40 anos de prisão por vazamento de documentos para o WikiLeaks

Schulte foi condenado a 40 anos de prisão por suposto vazamento de documentos que comprovam espionagem ilegal da CIA. O homem denuncia ter sido torturado nas prisões do USA. A condenação ocorre ao mesmo tempo em que Julian Assange sofre riscos de extradição do Reino Unido.

Joshua Schulte, ex-funcionário da agência de “inteligência” ianque CIA, foi condenado a 40 anos de prisão na quinta-feira, depois de supostamente realizar o maior vazamento de dados da história da agência. Ele trabalhou como engenheiro de computação no Centro de Inteligência Cibernética da CIA e criou ferramentas cibernéticas que podiam capturar dados de computadores sem serem detectados. A condenação acontece no mesmo mês em que Julian Assange, fundador do WikiLeaks, terá seu último apelo julgado no judiciário imperialista do Reino Unido antes de uma possível extradição.

Schulte foi acusado de entregar grandes quantidades de dados confidenciais ao WikiLeaks. Ele deixou a CIA em novembro de 2016. Em março de 2017, o WikiLeaks publicou a primeira de 26 partes dos vazamentos do Vault 7, nome dado ao conjunto de documentos sensíveis publicados naquela época, originados de dois programas aos quais Schulte teve acesso, segundo os registros judiciais. Ao todo, 8.761 documentos foram vazados.

Investigadores ianques disseram que Schulte roubou ferramentas cibernéticas e códigos-fonte e os transferiu para o WikiLeaks. Os promotores afirmam que ele tentou encobrir seus rastros, apagando todo e qualquer vestígio de acesso ao sistema de computador e mentindo para a CIA e FBI. Preso desde 2018, em 2022 ele foi condenado por recolher e transmitir ilegalmente informações de “defesa” nacional e por obstruir uma investigação criminal e um processo do grande júri. Um julgamento anterior havia terminado com um júri empatado, em 2020.

Ao solicitar a sentença de prisão perpétua por “auxílio ao terrorismo”, o procurador assistente David William Denton Jr. disse que Schulte foi responsável pelas “divulgações mais prejudiciais de informações confidenciais na história do USA”. O procurador ianque Damian Williams disse em comunicado recente que ele “causou danos incalculáveis à segurança nacional” do USA. Anteriormente, procuradores haviam descrito as ações de Schulte como um “Pearl Harbor digital”.

Vault 7: espionagem ilegal da CIA escancarada

O WikiLeaks divulgou, à época dos vazamentos, um comunicado dizendo que os dados obtidos foram fornecidos anonimamente por uma fonte que questionava se a CIA havia ultrapassado o limite das suas capacidades de obtenção de informações sigilosas online e a sua autoridade.

 O Vault 7 revelou que a CIA estava invadindo celulares com sistemas operacionais IOS, da Apple, e Android em operações de espionagem fora do USA, expôs os planos da agência para transformar televisões e outros dispositivos domésticos conectados à Internet em dispositivos de escuta e para controlar remotamente automóveis com sistemas informáticos e comprovou que a CIA é o maior fornecedor mundial de malware, tendo desenvolvido vírus e ferramentas de invasão direcionadas a praticamente todos os sistemas operacionais. Além disso, mostrou que a CIA podia criar “evidências” digitais para atribuir as suas próprias operações de invasão digital maliciosas a adversários, fornecendo ferramentas para o USA culpar outros países por supostos ataques cibernéticos. Antes de sua prisão, Schulte ajudou a criar algumas dessas mesmas ferramentas como programador na sede da agência em Langley, Virgínia.

A CIA, conhecida de longa data por atividades ilegais e absurdas dentro e fora das fronteiras do USA, não sofreu qualquer punição apesar da enorme evidência, que não foi negada, da infração desavergonhada dos direitos democráticos e da privacidade de pessoas em todo o mundo. Também não havia sido, antes, devidamente responsabilizada por atividades tais como a espionagem ilegal de cidadãos estadunidenses, pelo projeto MKUltra, por ter  orquestrado assassinatos e golpes militares em países da América do Sul com a “Operação Condor”, por financiar e suprir com armas organizações terroristas e contrarrevolucionárias, por traficar ou implantar o tráfico de drogas em todo o globo ou por utilizar técnicas de manipulação de opinião pública e de guerra psicológica ao redor do mundo, apenas algumas de suas “peripécias” para manter a superpotência hegemônica única e seus interesses de pé.

Impunidade para a CIA, perseguição e tortura contra quem a expõe

Um mês após a divulgação inicial dos conteúdos do Vault 7, em abril de 2017, o então diretor da CIA, Mike Pompeo, fez um discurso chamando Julian Assange e todos os membros do WikiLeaks de “demônios” e “inimigos” e declarou que seriam tratados como uma “agência de inteligência hostil não-estatal”. Isto significa que os membros do WikiLeaks e contribuidores não podem utilizar a Primeira Emenda e outros direitos concedidos aos acusados no USA. 

Em 2021, foi confirmado que Pompeo, a CIA e outras figuras da administração do ultrarreacionário Trump, incluindo o então presidente, tinham discutido o rapto ilegal e assassinato de Assange na Embaixada do Equador em Londres, onde ele era um refugiado político. Foi descoberto também que a empresa que fornecia segurança à embaixada e controlava o ambiente físico de Assange, a UC Global, trabalhava secretamente para a CIA. 

Assange, assim como outros membros do WikiLeaks, enfrenta acusações da Lei de Espionagem e a condenação a 175 anos de prisão por ter exposto crimes de guerra do USA  no Iraque e Afeganistão e por expor conspirações globais do Departamento de Estado ianque, tendo declarado que o maior ímpeto para a perseguição foram os documentos publicados no Vault 7

Preso desde abril de 2019 pela Polícia Metropolitana de Londres, o ativista está em um processo de extradição. Neste mês, nos dias 20 e 21, será julgado no Supremo Tribunal de Londres o seu apelo final contra a extradição em audição pública. A audição irá rever uma decisão anterior que recusou a Assange permissão para recorrer. Os seus advogados também recorreram ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que poderia potencialmente ordenar o bloqueio da extradição.

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