No dia 7 de agosto, o segundo sargento da Polícia Militar (PM) e ex-vereador do Rio de Janeiro, Jair Barbosa Tavares, ou Zico Bacana, foi morto a tiros no bairro Guadalupe, zona norte do Rio de Janeiro. O bairro era conhecido como a zona eleitoral do ex-vereador, que já foi apontado em investigações como chefe de uma milícia da mesma região. Jair também depôs nas investigações sobre o caso do assassinato de Marielle Franco.
O ex-vereador e PM estava em uma padaria quando passageiros de um carro iniciaram disparos contra o estabelecimento. Além de Jair, seu irmão Jorge Tavares também foi alvejado e morreu. Uma terceira vítima, não vinculada ao ex-político, foi atingida nas costas e no pé.
Jair já havia sido vítima de uma outra tentativa de assassinato em 2020, quando foi alvejado de raspão na cabeça também na zona norte do RJ. Na ocasião, os disparos vitimaram um trabalhador que transitava pela região, Marlon Correia dos Santos.
Envolvimento com grupos paramilitares
Além de ex-vereador e PM, Jair Tavares já foi investigado por ligações com grupos paramilitares. A acusação ocorreu em 2008, quando foi apontado como chefe de uma organização paramilitar na comunidade de Guadalupe e Ricardo de Albuquerque pela “CPI das Milícias”. No mesmo ano, o bairro de Guadalupe ficou entre os mais denunciados pela atuação de grupos paramilitares, com 131 registros no disque-denúncia. Os grupos atuam no bairro até hoje.
As investigações também apontaram que ele tinha ligações com o grupo paramilitar Palmeirinha, em Honório Gurgel, controlado pelo PM Fabrício Fernandes Mirra. Segundo as denúncias, a corja cobrava taxas de comerciantes e moradores e era conhecida por casos de agressões, tortura e execuções. O ex-vereador não foi indiciado e seguiu em livre exercício na função.
Jair Tavares também foi convidado a depor como testemunha durante as investigações do assassinato de Marielle Franco. Nos depoimentos, o ex-vereador afirmou, sobre a postura de Marielle, que “Marielle, normalmente, usava a palavra para atacar as instituições governamentais, sobretudo, a Polícia Militar do Rio de Janeiro”.
O ex-vereador mencionou ainda as denúncias de Marielle contra o 41° Batalhão de Polícia Militar, de Irajá. O mesmo batalhão, denunciado por Marielle dias antes de seu assassinato pelas agressões e assassinatos de inocentes na região em que atuava, foi homenageado por “Zico Bacana” em 2017.
Queima de arquivo
As relações e investigações em torno de Jair levantaram dúvidas sobre se sua morte trata-se de “queima de arquivo”. A prática de resolver desentendimentos e contradições entre si é comum entre os grupos paramilitares e agrupamentos das classes dominantes. Somente em torno do “caso Marielle”, cinco elementos investigados já foram assassinados a tiros.
Em 2018, Lucas do Prado Nascimento da Silva, de apelido Todynho, foi morto menos de um mês depois da morte da ex-vereadora. Ele era suspeito de ter feito a clonagem do carro usado por Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz no assassinato da vereadora. Em 2020, o ex-capitão do Bope e chefe do grupo paramilitar “Escritório do Crime”, Adriano da Nóbrega, foi morto em uma operação policial na Bahia, no que foi classificado como uma das “queimas de arquivos” centrais da investigação. No ano seguinte, foram mortos Luiz Orelha, sargento da PM que seria substituto de Adriano da Nóbrega, e Edmilson Macalé, PM aposentado apontado pelas investigações como um miliciano da região de Oswaldo Cruz, zona norte do RJ, e responsável por ter participado em diversas etapas do assassinato de Marielle. Já no início desse ano, Hélio de Paulo Ferreira, mecânico conhecido por consertar armas e viaturas policiais em Jacarepaguá, zona oeste do RJ, e investigado no caso Marielle, foi morto a tiros no bairro Anil.