Exército israelense usa civis palestinos para inspecionar túneis com armadilhas em Gaza

Soldados sionistas e prisioneiro palestino. Foto: Reprodução.

Exército israelense usa civis palestinos para inspecionar túneis com armadilhas em Gaza

Reproduzimos um artigo do jornal israelense Haaretz, que investigou como o Exército Israelense utiliza civis palestinos como iscas e escudo humano durante suas operações de genocídio em Gaza. É válido destacar que uma investigação produzida por um jornal israelense verificando crimes cometidos por Israel demonstra o grau de crise política interna que o Estado sionista de Israel neste momento, o que, para todos os efeitos, serve ao avanço da Resistência Nacional Palestina

‘Nossas vidas são mais importantes que as vidas deles’: moradores de Gaza inocentes são detidos e enviados como escudos humanos para revistar túneis e casas antes que soldados das FDI entrem com pleno conhecimento de oficiais superiores israelenses, dizem várias fontes; as Forças de Defesa de Israel alegam que essa prática é proibida .

No começo é difícil reconhecê-los. Eles geralmente usam uniformes do exército israelense, muitos deles estão na faixa dos 20 anos e estão sempre com soldados israelenses de várias patentes.
Mas se você olhar mais de perto, verá que a maioria deles está usando tênis, ao invés de botas do exército. E suas mãos estão algemadas atrás das costas e seus rostos denotam medo. Os soldados os chamam de shawishim , uma obscura palavra árabe de origem turca que significa sargento.
Palestinos aleatórios são usados ​​por unidades do exército israelense na Faixa de Gaza com um propósito: servir como escudos humanos para os soldados durante as operações .

“Nossas vidas são mais importantes do que as vidas deles”, disseram aos soldados. O pensamento é de que é melhor os ‘shawishim’ serem os explodidos.
Esta descrição é uma das muitas obtidas pelo Haaretz, algumas de soldados de combate, outras de comandantes. A imagem que surge: Nos últimos meses, os soldados israelenses usaram escudos humanos dessa forma em toda a Faixa de Gaza; até mesmo o gabinete do chefe do estado-maior sabe disso.
Soldados escolhem moradores de Gaza para as missões e os levam para as brigadas e batalhões que operam em Gaza. “Há um orgulho nisso”, disse uma fonte que participou de parte do trabalho de localização .
“Os altos escalões sabem disso”, disse a fonte. O exército se faz de inocente, apesar das imagens mostradas na Al Jazeera há cerca de dois meses. Soldados israelenses podem ser vistos vestindo detentos Palestinos com uniformes e coletes à prova de balas, instalando câmeras neles e os enviando para casas muito danificadas e entradas de túneis com as mãos amarradas com algemas  plásticas.

Os americanos estão furiosos, embora Vedant Patel, um porta-voz do Departamento de Estado tenha dito que as forças de defesa de Israel estão investigando os incidentes e que as evidências nos vídeos não refletem os valores das FDI ou que violem regras e regulamentos.
“Quando vi a reportagem da Al Jazeera, eu disse: ‘Ah , é verdade'”, disse ao Haaretz um soldado de uma brigada de conscritos das FDI que participou do uso de moradores de Gaza como escudos humanos. “Então vi a resposta das IDF, que não reflete a realidade. É feita com o conhecimento do comandante da brigada, no mínimo.”
Um soldado de uma brigada do exército conscrito acrescentou: “Cerca de cinco meses atrás, dois Palestinos foram trazidos até nós. Um tinha 20 anos e o outro 16. Disseram-nos: ‘Usem-nos, eles são de Gaza, usem-nos como escudos humanos.'”
(Alguns dos comentários dos soldados neste artigo também foram contados à organização não governamental Breaking the Silence).
O soldado disse que nas FDI , “eles sabem que não é um incidente único de um comandante de companhia jovem e estúpido que decide por conta própria que vai levar alguém.”

Há também evidências de que, em alguns casos, menores ou idosos são usados. “Houve momentos em que pessoas realmente velhas foram obrigadas a entrar em casas”, disse um soldado de combate. Se o Palestino sabe hebraico, isso é uma vantagem para as FDI ; quando eles são usados em prédios e túneis, precisam então se reportar às forças do lado de fora.
Como disse um soldado, os Palestinos são informados: “Faça uma missão de … um  túnel e você estará livre.”
Ainda assim, embora alguns Palestinos sejam obrigados a permanecer com uma unidade “apenas” por 24 horas, outros acabam ficando por dois dias ou até uma semana. “Quando você está dentro dessa coisa, não sabe como dizer o que está certo”, disse o soldado. “O fato é que é uma sensação horrível.”
Por sua vez, a Unidade do Porta-voz das FDI disse: “As instruções e ordens das FDI proíbem o uso de civis de Gaza pegos em campo para missões militares que representem um risco deliberado às suas vidas. As instruções e ordens das FDI sobre o assunto foram esclarecidas para as forças de combate . Após o recebimento da solicitação, as alegações foram encaminhadas às autoridades relevantes para revisão.”

Os incidentes descritos ao Haaretz ocorreram em diferentes partes de Gaza, mas são todos muito semelhantes – como revela a história de um soldado de combate que passou meses lá. Um dia, ele e seus companheiros chegaram ao prédio do comandante da brigada.
O soldado viu alguém que não reconheceu andando de um lado para o outro, acompanhado por soldados que o estavam guardando. “Ele estava usando  uniforme sem colete à prova de balas e tênis… nos pediram para acompanhá-lo se ele precisasse ir ao banheiro e para garantir que ele tivesse comida.”
O soldado disse que não entendia o que estava acontecendo neste momento; ele e seus companheiros se perguntaram se o palestino era agora um prisioneiro  colaborando com as FDI .
Mas no dia seguinte, as tropas precisaram inspecionar um túnel e, ao verem uma tela de computador, os soldados perceberam que o palestino havia sido enviado para dentro do túnel usando um uniforme das FDI. Suas mãos estavam amarradas atrás das costas e uma câmera estava presa ao seu corpo.

“Ouvimos respirações muito profundas; parecia que ele estava um pouco medroso”, disse um soldado que viu as imagens neste caso. “Eles simplesmente o enviaram ,ele mapeando tudo para os comandantes, com o comandante da brigada observando do lado de fora.”
Um soldado disse que quando os soldados manifestaram preocupações, foram informados de que “a ideia geral era que se a casa estivesse com armadilhas, ou se houvesse uma emboscada ou terroristas na área, eles matariam o palestino e não os soldados. Essa também foi a primeira vez que os comandantes disseram a palavra ‘shawish’.”
Outro soldado naquela unidade disse que isso aconteceu várias vezes; informando que em cada operação, um “escudo humano” seria enviado 10 minutos antes de todos os outros; então veio a espera pelo comandante da brigada.
“As pessoas começaram a fazer perguntas, muito rapidamente uma confusão começou sobre esse procedimento”, disse um soldado.  “Alguns argumentaram que não estavam dispostos a realizar operações se isso incluísse um cidadão de Gaza que fosse forçado a se sacrificar. Claro, havia aqueles que apoiavam, mas pelo menos conosco eles eram apenas alguns, principalmente os comandantes que tinham medo de lidar com os comandantes mais antigos.”

Um soldado israelense que participou do ataque a um prédio disse que uma das unidades havia colocado um palestino vestido com um macacão branco. Como estratégia de fazer com que os guerrilheiros saíssem de dentro do prédio, o palestino foi assim enviado para lá , se passando por um tipo de mediador. Mas a tentativa falhou e os guerrilheiros atiraram no homem.

Quando não há Duvidas

Palestinos já foram usados como escudos humanos na Operação Escudo Defensivo de 2002 na Cisjordânia durante a Segunda Intifada. Isso era frequentemente conhecido como “o procedimento vizinho” – soldados temendo armadilhas enviavam Palestinos para dentro dos prédios; isso também era feito na busca por homens procurados.
Grupos de direitos humanos então entraram com uma petição na Suprema Corte, que atuando como Alta Corte de Justiça, decidiu em 2005 que o procedimento era ilegal e que violava o direito internacional. O chefe do estado-maior das FDI na época, o Tenente-General Dan Halutz, ordenou que os militares aplicassem rigorosamente a decisão da corte.
Mas nos últimos meses, as FDI preferiu não comentar oficialmente sobre o assunto, embora isso tenha sido discutido pelos oficiais mais graduados. Fontes dizem que o Chefe do Estado-Maior das FDI, Herzl Halevi, está entre os oficiais graduados cientes do uso de moradores de Gaza como escudos humanos.

“O chefe do comando sul, major-general Yaron Finkelman, também sabe”, diz uma fonte do comando sul. “em todas as reuniões em que essa questão foi levantada, houve comandantes que alertaram sobre as implicações éticas e legais se o assunto fosse exposto publicamente. houve oficiais que pediram que a reunião fosse interrompida para que pudessem sair.”
um soldado de uma brigada do exército conscrito acrescentou: “Cerca de cinco meses atrás, dois Palestinos foram trazidos até nós. Um tinha 20 anos e o outro 16. Disseram-nos: ‘Use-os, eles são de Gaza, use-os como escudos humanos.'”
De acordo com este soldado, naquele dia, os soldados da unidade começaram a fazer perguntas sobre o uso de civis como escudos humanos; eles também queriam saber quem havia dado a ordem.
De acordo com o soldado, “Eles tentaram dizer algo sobre 7 de outubro, não algo concreto. Uma pessoa disse: ‘Não os batam muito porque precisamos deles para chegarmos aos locais”, ou seja , onde as tropas precisam entrar, como edifícios e túneis.

Essa ordem foi apenas uma entre as que os soldados receberam ; assim também foram obrigados a manter os Palestinos algemados , garantindo que eles não escapassem ou entrassem nas salas ou andares onde os comandantes estavam. Os Palestinos receberam rações de combate e água.
muitos soldados se sentiram desconfortáveis com isso, exigiram respostas e até gritaram, disse uma pessoa que estava perto de um dos Palestinos. “A maioria deles percebeu que havia um incidente problemático aqui, sendo difícil para eles processarem”,
acrescentando : “Um dos comandantes se virou para um dos soldados que tinha feito indagações e lhe disse : ‘Você não concorda que as vidas de seus amigos são muito mais importantes do que as vidas deles? E não é melhor que eles sejam explodidos ao invés de nossos amigos ?
Este soldado disse que o comentário do comandante foi feito com tanta agressividade que ficou claro que havia pouco espaço para os soldados expressarem dúvidas.
Um soldado disse que quando ele e seus colegas perguntaram “por quê”, eles foram informados sobre os cães da unidade canina Oketz. Os cães estavam sendo mortos ou feridos quando eram enviados para localizar explosivos ou atacar o inimigo. Depois dessas experiências, os cães tiveram que ser dispensados ; seus sentidos operacionais haviam se deteriorado.
Um oficial mais graduado confirmou essa alegação, embora alguns soldados tenham dito que achavam que isso era apenas uma desculpa para acalmar as consciências.

Uma Lei Irrelevante

De qualquer forma, muitos soldados não deixam de ter sentimentos mais duros. “Você fica quieto e tenta se convencer ; então ok, vamos usá-los”. Eles tentam explicar racionalmente, mas no final um garoto de 16 anos está lá sentado , algemado dentro de casa com os olhos vendados , disse alguém que presenciou.
“Os soldados precisavam ajudá-lo a ir ao banheiro ou alimentá-lo. Não foi um incidente que começa e termina com o palestino entrando nas casas e túneis ou explodindo prédios. Há o tempo que você passou com essas mesmas pessoas na casa por alguns dias.”

Depois de dois ou três dias em que um adolescente foi usado como escudo humano por soldados, eles pediram para falar com o comandante do batalhão e disseram que não queriam mais participar. Alguns também levantaram dúvidas sobre outra questão – a necessidade da ordem de queimar prédios depois que os prédios fossem revistados.
O termo “direito internacional” surgiu várias vezes, mas o comandante do batalhão supostamente tinha uma resposta para todas as perguntas dos soldados: “Um soldado não precisa se interessar pelas leis da guerra. Você precisa pensar sobre os valores das FDI e agir de acordo com os valores das FDI , não com as leis da guerra.”
No dia seguinte, o adolescente foi solto. Ele foi levado para um posto de controle e instruído a caminhar para o sul. “Então finalmente percebemos que eles não eram realmente terroristas, mas civis que foram levados especialmente para essas operações”, disse o soldado.

Traduzido por Liège Saboya

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