Falece Gontran Guanaes, um artista do povo

Falece Gontran Guanaes, um artista do povo

 

Gontran, à direita, durante restauração de seus painéis no metrô de São Paulo em 2011.

No dia 25 de novembro faleceu, aos 84 anos, o artista do povo Gontran Guanaes Netto. Oriundo de uma família camponesa, Gontran foi um comunista e artista de grande sensibilidade que pintava com grande amor aos povos.

Retratou como poucos os camponeses, seu trabalho e sua luta contra o latifúndio. Sua atenção aos camponeses são marca de sua origem e de sua compreensão do elevado papel dessa classe na revolução brasileira.

Despido de qualquer vaidade ou egocentrismo, Gontran era defensor do anonimato em suas obras. Não assinava suas telas e painéis. Durante as conversas e entrevistas preferia falar e explicar o contexto político de surgimento da inspiração para suas obras do que de sua vida particular.

Comprometido com a causa do povo, dedicou sua vida e obra a luta popular, principalmente camponesa.
O Brasil perde um grande artista revolucionário e os povos do mundo um internacionalista combativo e tenaz. 

UM Apoiador da Imprensa Popular e Democrática

Apoiador do jornal A Nova Democracia desde 2009, nosso encontro com Gontran aconteceu através de um contato estabelecido por conta de seu belo painel exposto na estação do metrô Marechal Deodoro, em São Paulo, que retrata as massas camponesas em luta pela terra.

Homem de vida simples, de uma alegria contagiante, simpático e hospitaleiro, Gontran recebeu-nos em sua residência em Itapecirica da Serra, local que também abrigava seu ateliê.

Em agosto de 2009, Gontran participou das inaugurações da sucursal do jornal A Nova Democracia em São Paulo e da sede no Rio de Janeiro, para a qual doou um belíssimo painel em quatro partes, que se encontra até hoje instalado em nossas dependências.

Uma vida dedicada a luta

Nascido em 1933 na cidade de Vera Cruz, interior de São Paulo, chegou em 1951 a capital paulista. Em 1952 ingressa no curso de belas artes de onde foi expulso por se engajar no movimento O Petróleo é Nosso contra a entrega dos recursos petrolíferos ao capital privado e o imperialismo, ficando apenas um ano na faculdade.

Participante da luta contra o regime militar fascista que se abateu sobre o país, Gontran é preso no final da década de 1960 e, ao sair da prisão, exila-se em Paris de onde dá continuidade à luta através de comitês de denúncia sobre a prática de tortura pelos militares e contra a opressão sobre o povo brasileiro.

Foi retratando a vida e luta camponesa que Gontran granjeou o respeito e a admiração do público na Europa, sendo considerado um dos principais representantes da pintura brasileira no exterior.

O trabalho de Gontran percorreu continentes com exposições em Cuba, França, Alemanha, Espanha, Brasil, Itália, Bulgária, Líbano, Suécia, Nicarágua, México, USA e Uruguai.

Morou em Paris por mais de 20 anos, onde foi professor de história da arte e gravura na Universidade de Paris, sempre fazendo uma pintura engajada, não só contra a opressão e o sofrimento da população brasileira mas em relação aos povos oprimidos do mundo inteiro.

Em 1980 foi responsável pela fundação do Espaço Latino Americano, juntamente com outros artistas, inclusive Frida Kahlo.

Regressando ao Brasil, participou de várias exposições coletivas e individuais no país e no exterior. Foi professor da FAAP (Faculdade Armando Álvares Penteado) e expôs em São Paulo painéis nas estações do metrô de Marechal Deodoro e Corinthians-Itaquera.

Desenvolveu também um projeto chamado Escola Aberta de Pintura, na Fundação Universidade de Santo André, através do qual resgatou a importância histórica do 1º de Maio e, por meio do engajamento de jovens da faculdade de filosofia, produziu a pintura do quadro Enforcados de Chicago.

Em 2011 voltou a viver e trabalhar na França, onde realizou em novembro de 2016 a exposição Paysans (Camponeses, em português), na galeria L`Orangerie, em Cachan. Na ocasião recebemos o convite e noticiamos o evento em nossas páginas.

As pinturas de Gontran podem ser vistas nas estações do metrô de Marechal Deodoro e Corinthians-Itaquera, em São Paulo.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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