Falta de estrutura e negligência dos governos deixam povo brasileiro sem luz

Falta de luz causada por aumento do consumo energético revela falta de estrutura no sistema de produção e fornecimento de energia no Brasil.

Falta de estrutura e negligência dos governos deixam povo brasileiro sem luz

Falta de luz causada por aumento do consumo energético revela falta de estrutura no sistema de produção e fornecimento de energia no Brasil.

O aumento do consumo energético em decorrência da forte onda de calor que atingiu estados do Sudeste e Centro-Oeste brasileiro nos últimos dias revelou a precariedade do sistema energético brasileiro: mais de 50 cidades do Rio de Janeiro e São Paulo sofreram de apagões, e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) precisou recorrer a diversas fontes de energias adicionais para tentar contornar o quadro de falta de energia que continua a atingir majoritariamente bairros pobres e cidades do País. 

Somente no Rio de Janeiro, 18 cidades foram palco de um apagão por quase 3 horas após uma falha no sistema de transmissão da Furnas, no dia 14 de novembro. A favela da Rocinha está sem luz há 9 dias. Na semana anterior, bairros da cidade de São Paulo e outras 28 cidades do interior ficaram sem energia com o desligamento de uma subestação de Furnas. 

O blecaute em SP gerou uma onda de rebelião popular pelo religamento da energia, uma vez que os moradores foram obrigados a enfrentar dias sem luz. Em outras palavras, faltas no trabalho, impossibilidade de cumprir tarefas básicas do dia a dia e perdas materiais, sobretudo de alimentos que estragam na geladeira desligada. As manifestações bloquearam importantes vias e confrontaram as tropas policiais que foram mobilizadas para reprimir o protesto. Durante os confrontos, um policial foi baleado pelas massas que se defenderam da repressão. Para tentar contornar a situação e dar aparências de quem presta serviço, o governo de SP montou uma CPI para investigar o apagão, mas a luz acabou no momento em que o presidente da empresa de energia elétrica, Enel, prestava depoimento.

Muito apagão para pouco consumo

No dia 13 de novembro, quando o País atingiu o recorde de 100.955 megawatts (MW) no consumo de energia (ultrapassado no dia seguinte, com 101.437 MW), o ONS recorreu ao uso de termelétricas para tentar garantir o fornecimento de energia. De lá para cá, o ONS começou a atirar para todos os lados: a Petrobras anunciou que 12 de suas térmicas foram acionadas, termelétricas a carvão, a gás e a diesel foram ativadas, hidrelétricas continuam a funcionar e energia também tem sido importada da Argentina e Uruguai. 

Mesmo assim, o quadro de crise não foi plenamente contornado. Nos dias 15, 16 e 17 de novembro, moradores do Vidigal e da Rocinha, no Rio de Janeiro, bloquearam vias da cidade contra a falta de luz nas favelas. 

O cenário é o oposto do pregado pelo ONS, que afirmou que o sistema interligado nacional “é robusto, seguro, possui uma ampla diversidade de fontes e está preparado para atender às demandas de carga e potência da sociedade brasileira”, disse a instituição, atualmente presidida pelo nomeado do governo, Luiz Carlos Ciocchi.  

A afirmação é altamente incondizente com a realidade. Se o sistema interligado nacional é tão robusto e seguro, por que o Brasil registrou, em 2022, 42 apagões, segundo números do Ministério de Minas e Energia? Em 2023, foram 15 ocorrências desse tipo somente de janeiro a junho, antes da recente crise que fez saltar o número de apagões nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. E isso porque, no Brasil, o consumo de energia é cerca de 21 mil quilowatt-hora, bem abaixo da média mundial e equiparável a países como Argentina, Chile e Venezuela, todos com baixíssimo consumo. 

Dentre os blecautes deste ano, está o apagão nacional que atingiu de Norte a Sul do Brasil em agosto de 2023. À época, o presidente Luiz Inácio preferiu viajar ao Paraguai do que debruçar-se seriamente sobre o assunto. Desde então, e mesmo após a volta de Lula, nenhuma medida significativa foi tomada para rever, retrabalhar e desenvolver o sistema de produção e fornecimento de energia do País.

Questão de soberania 

É, ao fim, uma questão de soberania, nunca resolvida pelos sucessivos governos vende-pátria e seus diferentes e ineficazes “planos de desenvolvimento” para o País. Vejam os países imperialistas, por exemplo: o Reino Unido considera que um dos seus últimos blecautes ocorreram entre 2015 e 2016 (há 6-7 anos), quando cerca de 40 mil casas ficaram sem energia na Irlanda e Inglaterra. Em contrapartida, o recente apagão em São Paulo (somente um dos diversos que ocorrem anualmente no país), deixou cerca de 290 mil imóveis sem energia.

Enquanto o Brasil não possuir uma verdadeira soberania energética, o povo brasileiro seguirá vítima da falta desse direito básico. 

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: