A dupla de magnatas monopolistas, Phelippe Daou Júnior e Cláudia Maria Daou Paixão e Silva, donos da Rede Amazônica, afiliada da TV Globo no estado, conseguiu, na última semana, uma ordem judicial em prol da expulsão de 40 famílias indígenas de suas terras sob alegação de que se trata de uma área de sua empresa.
A área que a empresa Amazonas Empreendimentos Ltda. alega ser sua está localizada na região da AM-010, estrada que liga Manaus a Itacoatiara e abriga 40 famílias da etnia Kokama da Comunidade Indígena Uka-Tap+Ya, no Ramal Água Branca ll, quilômetro 35 da rodovia estadual.
No Boletim de Ocorrência, a empresa alega que “em setembro de 2024, várias pessoas invadiram a propriedade, expulsando o caseiro, construindo divisórias e instalando barracos”.
Essa versão, entretanto, é negada pelos indígenas que afirmam que “eles não têm como comprovar nada. Nós temos uma documentação do Incra, não somos invasores. A terra está devoluta, não tinha nenhum tipo de atividade. Eles alegam que a gente expulsou um caseiro e nós temos provas. Então, eles vão agir com vários argumentos, já nós não temos o que falar deles, porque eles não conviveram e não convivem com a gente”
Os indígenas, em conversas com a Revista Cenarium, afirmaram ainda que a Comunidade não tem condições financeiras de arcar com os custos de um advogado para a disputa no campo judicial e que naquela terra, já moram vários idosos e crianças, sendo inclusive usada para agricultura por meio da hidroponia, uma técnica de cultivo sem a necessidade de terra.
Os povos apresentaram também uma confirmação de um servidor da FUNAI que afirma que de fato a área da empresa está em sobreposição com Terra Indígena alvo da ação judicial. Apesar disso, eles alegam que houve omissão do órgão. A Cacique da região afirmou que: “Ela [a Funai] não questionou sobre esse pedacinho de terra, ela foi omissa nessa parte, em termos de advocacia, para questionar por que a briga por um pedacinho de terra e fazer uma reintegração de posse, fazer uma mobilização dos órgãos para vir da polícia de choque, vir fazer essa reintegração para quebrar tudo“
Indígenas denunciam indícios de pistolagem
Em 21 de março de 2025, o Movimento Social do Patriarcado Cacicado Geral do Povo Indígena Kokama do Brasil (MPKK) denunciou ao MPF uma série de irregularidades nesse processo de reintegração de posse.
Dentre eles, relatos de policiais militares pagos para intimidar e ameaçar os moradores da comunidade. “Foram uns policiais militares de forma truculenta e ameaçadora, afirmando que iriam cumprir uma Reintegração de Posse e que todos deveriam sair das suas casas imediatamente num prazo de 24 horas. As lideranças da Aldeia solicitaram o documento, que, na hora, não foi apresentado, então os policiais evadiram-se, afirmando queriam vir no outro dia trazendo o documento requerido pelas lideranças”, afirma trecho do documento.
Esse tipo de atuação de militares em conflitos fundiários na região é comum e amplamente denunciada por movimentos populares e que, muitas vezes, desenrolam-se em casos de assassinatos de indígenas e trabalhadores.
Quem é Phelippe Daou Júnior?
O magnata Phelippe Daou Júnior é o atual patriarca da Família Daou, uma das famílias tradicionais mais influentes da cidade de Manaus. O empreendimento mais bem sucedido da empresa é, sem dúvidas, a rede televisiva Rede Amazônica, maior rede de televisão da Região Norte do Brasil com 16 emissoras afiliadas à TV Globo em cinco estados (Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima).
Daou é o responsável ainda por fundar o instituto reacionário Fundação Rede Amazônica. Através dessa organização, o empresário sustenta o projeto “Amazônia Que Eu Quero”, conjunto de ações de pesquisa e propaganda em prol da disseminação de ideologia burguesa na região.
Esse grupo, segundo as investigações da Correspondência Local do Jornal A Nova Democracia, inclui alguns dos maiores conglomerados da grande burguesia na região amazônica. Algumas das atividades mais emblemáticas dessa campanha incluem colaborações entre o Instituto e o Alto Comando das Forças Armadas reacionárias, assim como entre figuras e instituições ligadas ao imperialismo.