“Sandra Domínguez: Reaparição com vida” é a frase escrita em vários cartazes em frente ao Palácio do Governo do México em Oaxaca por parentes e amigos da advogada popular desaparecida há mais de um mês, além de outros ativistas solidários com a crise de desaparecidos no México.
O singelo mas combativo acampamento denuncia que, 30 dias depois do desaparecimento de Sandra, o governo mexicano moveu pouca peças para encontrá-la. Além do acampamento, os familiares fizeram manifestações na cidade de Oaxaca, onde Sandra cresceu e trabalhou até desaparecer. As manifestações contam com apoio de movimentos populares e revolucionários mexicanos, como a Corrente do Povo – Sol Vermelho (CP-SV) e o Movimento Feminino Popular (MFP).
Advogada popular
Sandra desapareceu no dia 11 de outubro junto de seu companheiro, Alexander Hernández, na comunidade de María Lombardo, perto da fronteira de Veracruz. Há fortes suspeitas de que o sequestro de Sandra tenha sido ordenada por figuras do velho regime político mexicano. Ela era conhecida pela defesa dos indígenas em Oaxaca, bem como de mulheres vítimas de violência. Sandra ficou famosa por denunciar como funcionários do governo compartilhavam, no Whatsapp, fotos íntimas de mulheres indígenas.
Até agora, o Executivo estadual de Oaxaca deu poucas respostas ao caso. O governo conseguiu localizar o caminhão que Sandra e Alexander utilizavam, e prenderam um homem que carregava o celular de Sandra. Esses foram os últimos avanços na investigação.
Crise de desaparecidos
O desaparecimento de Sandra se soma à lista extensa de outros casos de sequestro no México. Há cerca de 116 mil pessoas desaparecidas no México, de acordo com dados oficiais. Muitas delas são mulheres jovens. Outros são advogados populares, como Sandra Domínguez e o advogado Ernesto Sernas García, desaparecido desde 2018, três anos depois que defendeu, com êxito, ativistas falsamente acusados de terrorismo e porte de explosivos. Há ainda os casos mais famosos, a exemplo dos 43 estudantes de Ayotzinapa, que, a caminho de um protesto, foram sequestrados, assassinados e escondidos num sanguinário massacre policial e paramilitar.
Mesmo assim, o governo faz pouco caso sobre os sumiços e a luta dos familiares, amigos e ativistas solidários. Até hoje, apesar da repercussão, familiares dos 43 jovens desaparecidos ainda lutam por justiça e pelo direito de enterrar seus filhos, irmãos, sobrinhos ou colegas.
A revolta cresce na mesma medida que o Estado mexicano ignora as exigências. E o povo mexicano bem sabe que, nessa luta, há interesses que são negligenciados e há aqueles que são protegidos. “O governo do Estado não quer encontrá-la porque vai trazer à luz tudo o que há de obscuro neste caso”, diz Joaquín Galván, amigo de infância de Sandra, ao jornal monoplista El País.