Os trabalhos de João Victor Medeiros foram selecionados para serem expostos no The Other Art Fair, em Chicago.
O projeto “Feira É Livre”, que ganhou reconhecimento internacional, retrata o quotidiano das feiras brasileiras através do olhar de João Victor, fotógrafo de 22 anos, de Minas Gerais. Seu trabalho já havia sido escolhido para fazer parte da The Other Art Fair, uma feira que tem foco em artistas emergentes do mundo todo, em 2018, porém não conseguiu dinheiro suficiente para fazer parte. Entretanto, as organizadoras gostaram tanto do seu trabalho que, em 2019, deram uma nova vaga para que o fotógrafo participasse. João criou uma vaquinha online e está tentando, novamente, participar do evento, levando para o mundo a perspectiva de “como a feira é um importante espaço de resistência econômica e cultural do brasileiro”. A vaquinha está disponível até o dia 17 de abril no catarse.me/joaoemchicago.
O jovem conta que desejo de fotografar as feiras surgiu após ele visitar a de São Joaquim, em Salvador, em 2017. “Eu fui apresentado a ela por minha companheira, que achou que eu gostaria de conhecer a feira e também de fotografar, pela riqueza e pluralidade dela. Fiz essas primeiras fotos sem pensar muito em conceito ou em transformar isso em projeto, mas com um distanciamento temporal, vi elas meses depois e percebi que elas formavam uma unidade. Percebi que em minhas fotos, eu sempre evidencio os afazeres desses trabalhadores, mas também acabo por retratar um sentimento de respeito que tenho pelos trabalhadores das feiras e principalmente quando eles são pessoas mais velhas, me passam um sentimento de ancestralidade e nobreza. Percebi que eu tava fotografando eles como se fossem realmente nobres, então a questão da liberdade é no sentido de fazer referência as realezas de África, antes escravizarem os negros no Brasil.”
Para ele, conviver com os trabalhadores da feira é uma experiência rica em cultura popular e conhecimento dos costumes locais. ”A gente acaba conhecendo muita gente, aprendendo com a sabedoria popular mesmo e visitar um local como uma feira livre em outro estado que não o meu, pra mim é entrar em contato com a verdadeira cultura local, modo de falar, de se comportar, de comer, etc. Acredito que sejam trabalhadores fundamentais, principalmente quando são micro-agricultores que dependem desse comércio para sobreviver e ainda fazem frente e resistência a agricultura cruel e nociva a humanos e ao planeta, que é a grande agricultura latifundiária agrotóxica.”
João revela que as feiras são lugares muito fotografados, pelos seus elementos, cores vibrantes e situações diferentes, mas que a maioria dos fotógrafos só as frequentam para tirar as fotos, sem criar uma relação de interesse e empatia com os trabalhadores e suas atividades. “Eu faço um processo inverso – fotografo muito pouco, às vezes um ou dois retratos – mas fico muito tempo conversando com os fotografados, quero saber um pouco da vida da pessoa, quem ela é para além dessa imagem que me encantou.”
“Eu me senti feliz ao ver meu trabalho sendo reconhecido internacionalmente, mas ao mesmo tempo fiquei um pouco triste pensando que dentro do meu próprio país, ou melhor, dentro de minha própria cidade, esse reconhecimento não existe. E sabemos que muitas vezes, pro artista ser reconhecido no Brasil, ele tem de ser primeiro lá fora. Isso é meio triste, mas no fim das contas me sinto grato com essa oportunidade.” Conta o fotógrafo, que lamenta a falta de apoio para artistas independentes nacionais: “a parte mais difícil com certeza é fazer chegar em pessoas que acreditem no projeto e apoiem de fato. Muita gente curte, compartilha dizendo para as pessoas apoiarem o artista independente e às vezes ela mesma nem sequer abriu o link da campanha. Mas acredito que será bem-sucedida e independente disso, estou conhecendo muitas pessoas novas, artistas incríveis e uma galera tem chegado pra acompanhar meu trabalho, então, mais uma vez, sou grato.”
Para João, a fotografia e a arte tem papel essencial em toda sociedade. “É através da arte e da educação que se formam bons cidadãos e que se avança enquanto nação. A fotografia em si pode ajudar a criar uma sociedade mais igualitária e justa na medida em que ajuda a contar histórias que visam quebrar estereótipos, como pegar um garoto favelado com estereótipo de bandido e contar a história do sonho dele em ser lutador de boxe por exemplo. Contando outras histórias sobre grupos marginalizados a fotografia pode contribuir na co-criação de novas realidades, colaborando com a quebra de diversos status quo e consequentemente, de uma sociedade mais justa.”