Em uma tentativa de censura contra a arte popular e de resistência, a Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj) processou o estudante da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA-UFRJ), Nicolas Bezerra (@visualresistance), por produzir artes em denúncia ao genocídio do povo palestino cometido pelo Estado sionista de Israel e em apoio à Resistência Nacional Palestina.
O artista popular produz artes para sua página no Instagram, para venda em lojas (como a loja do jornal A Nova Democracia) e para exposições. O que, para o presidente da Fierj Alberto David Klein, configura uma ação de prática e incitamento de “discriminação atacando israelenses e judeus de forma clara e direta”, conforme consta no registro de ocorrência de n° 962-00537/2024-01.
A tentativa de censura tem como ponto de partida uma exposição feita pelo artista na própria EBA-UFRJ no dia 8 de novembro de 2024, durante uma atividade pró-Palestina organizada pelos estudantes da instituição. Na ocasião, o artista expôs cartazes em homenagem a lideranças palestinas assassinadas na guerra, ao povo palestino e contra o genocídio em curso. Sem provas, Klein alegou que “a exposição inteira faz questão de exaltar e incitar o ódio que vem sendo praticado pelo grupo terrorista Hamas”.
O Hamas é um dos grupos da Resistência Nacional Palestina, que exerce o justo direito de lutar pela autodeterminação e contra a agressão e ocupação do território palestino – direito reconhecido até mesmo pela autointitulada Organização das Nações Unidas. Não há na legislação brasileira artigo que descreva o Hamas como um grupo terrorista.
A ação de censura de Klein chega ao cúmulo de dizer que a exposição de um cartaz de Yahya Sinwar, ex-chefe do Hamas e líder reconhecido da Resistência Palestina, com a frase “Sinwar lives” (Sinwar vive) “não [deixa] restar dúvidas para o comunicante acerca de seu teor: propagar o antissemitismo pregado pelo grupo terrorista”.
‘Manobra desonesta’
Trata-se de uma velha tática usada por perseguidores de ativistas pró-Palestina de misturar o antissionismo com o antissemitismo, conforme diz uma nota publicada pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) em solidariedade ao estudante. “É a tática de gente que sabe o profundo repúdio que o colonialismo e sionismo tem engendrado em todo o mundo”, escreve o Cebraspo.
O centro também classificou o caso como uma “manobra desonesta”. “Os cartazes denunciavam a agressão do Estado sionista de Israel à Faixa de Gaza e incentivavam a Resistência Nacional Palestina através de seus representantes legítimos que têm liderado os palestinos a resistirem à política colonialista e genocida do referido Estado”.
A manobra da Fierj despertou uma onda de solidariedade em relação ao artista. O Centro Acadêmico de Belas Artes (Caeba) classificou o processo como uma “tentativa de atacar todos aqueles(as) que usam do seu trabalho, de sua arte, como forma de se fazer justiça”. Para os estudantes, um dos objetivos da FIRJ é abrir um precedente jurídico para que toda crítica ao genocídio perpetrado contra os palestinos e demais povos árabes como atos de “antissemitismo”.
Nas redes sociais, a publicação do Caeba já ultrapassou 300 compartilhamentos, dentre eles da Federação Árabe Palestina (FEPAL), do Coletivo Árabes e Judeus pela Paz e do cartunista Carlos Latuff.
Além do exemplo palestino, a arte de Bezerra aponta também as derrotas sofridas por Israel no campo de batalha. No cartaz “Líbano: produzindo sucata de tanque merkava desde 1982”, o artista destaca as vitórias das massas libanesas contra o chamado “Exército mais bem preparado do mundo”.
Histórico de perseguição
A FIERJ é parte componente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), organização sionista que, desde o avanço da guerra de extermínio contra o povo palestino em 2023, vem se dedicando a calar judicialmente a voz daqueles que se levantam para denunciar o apartheid palestino promovido ao longo dos mais de 75 anos de existência do Estado sionista de Israel.
Uma das primeiras vítimas foi o jornalista judeu e criador do portal Opera Mundi Breno Altman. Por mais de uma vez, Altman denunciou as ligações da Conib com o Estado sionista, destacando que muitos de seus representantes são, além de cidadãos israelenses, membros das forças de ocupação, responsável pelo assassinado de 50 mil palestinos nos últimos 2 anos.