Fortalecendo sua intervenção na América Latina, imperialismo ianque envia tropas para a Colômbia

Fortalecendo sua intervenção na América Latina, imperialismo ianque envia tropas para a Colômbia

Membros da 1ª Brigada de Assistência às Forças de Segurança do Exército ianque que, em tese, apenas “treinam e aconselham unidades anfitriãs”, no Afeganistão, em 2018. Foto: James Mackenzie/Reuters

No dia 1º de junho a 1ª Brigada de Assistência às Forças de Segurança do Exército (SFAB) ianque chegou à Colômbia, após o Estados Unidos (USA) ter anunciado o envio de mais de 800 efetivos militares para o país. Apesar do suposto pretexto para o envio ter sido o apoio a uma cooperação antidrogas entre USA e Colômbia, o entendimento geral sobre a movimentação militar é de que se trata de uma ação intervencionista de ameaça nítida à soberania do continente, do Brasil e da Venezuela, nação limítrofe. 

A máscara aplicada pelo Comando Sul do USA, que atua sobre a América Central e do Sul e sobre o Caribe, é de que os soldados ianques estariam encarregados de atuar “treinando, aconselhando e auxiliando unidades anfitriãs”, a fim de suprimir a produção de cocaína no país. 

A implantação é supostamente parte das “Operações Avançadas de Combate a Narcóticos” anunciadas pelo USA em 1º de abril, que também fortaleceram a presença da Marinha e da Força Aérea ianques no Caribe e no oceano Pacífico Oriental. No entanto, o general Scott Jackson e 1˚ Brigador da SFAB afirmou, em um comunicado de maio, que as tropas enviadas estariam ajudando a “combater as ameaças ao USA”.

Além disso, o anúncio ocorre em meio a um momento em que as Forças Armadas reacionárias da Colômbia vêm perseguindo e assassinando camponeses produtores de coca, como noticiado pelo AND, em uma tentativa falha do velho Estado colombiano de obrigar a substituição da cultura de coca no país. Releva-se, no entanto, que a coca, iguaria culturalmente típica da América do Sul, é o único meio de subsistência possível para muitas famílias camponesas, abandonadas pelo governo.

O jornal revolucionário alemão Dem Volke Dienen atenta para que o uso das SFABs seja uma forma de travestir a intervenção de tropas estrangeiras no país pelo imperialismo ianque de “cooperação”, e a direção de atuação militar de “aconselhamento”. 

Recentes, as SFABs começaram a ser utilizadas em 2018, e são a primeira unidade do Exército ianque pretensamente destinada a essa missão central de “treinar e aconselhar” as forças “parceiras”. Esta é a primeira vez que uma SFAB é enviada para a região da América Latina. 

O Comando Sul ianque é encabeçado por Craig Faller, que em março anunciou o plano de aprofundar a presença militar do imperialismo ianque na América Latina, visando a reprimir o crescimento de revoltas as massas populares e a suprimir os efeitos da crise do imperialismo. Em tal sentido, a Colômbia é essencial para o USA, uma vez que o velho Estado colombiano historicamente atua como lacaio dos interesses geopolíticos ianques na região. 

Assim, afirma o Dem Volke Dienen, “o fortalecimento do controle militar sobre a Colômbia é importante para manter o controle em toda a região”, que se torna ainda mais “necessário nos dias de hoje, quando o imperialismo está em crise e os saques entre as potências, que oprimem e controlam cada vez mais os países oprimidos do Terceiro Mundo, intensificados e as lutas do povo, aquecidas”. 

Leia mais: “Levantes populares, crise e pugnas: USA militarizará mais a América Latina”

O Comando Sul se recusou a informar aonde estariam sendo enviadas suas tropas, apenas afirmou que os membros da SFAB atuarão nas áreas designadas pelo governo colombiano como “áreas prioritárias”. A Embaixada do USA no país, por sua vez, declarou que o foco será nas chamadas “Zonas do Futuro”, áreas identificadas pelo governo colombiano como de “altos índices criminais, de violência e miséria”.

A imprensa colombiana identificou essas “Zonas do Futuro” como sendo a região de Bajo Cauca e o Sul de Córdoba, no Noroeste da Colômbia; a região de Catatumbo e Arauca, na fronteira com a Venezuela; Nariño, na costa do Pacífico, Chiribiquete e os Parques Naturais Nacionais adjacentes a esses territórios.

CAMPONESES REJEITAM INtervenção IMPERIALISTA

Em Catatumbo, uma área de intenso conflito entre grupos de paramilitares alinhados ao velho Estado e outros grupos criminosos, os camponeses não veem as tropas ianques com bons olhos. Segundo o site da rádio colombiana RCN, os camponeses da região rejeitaram veementemente a chegada da SFAB. 

Holgar Pérez, representante da Associação para a Unidade Camponesa de Catatumbo, declarou à RCN que trata-se de “uma invasão estrangeira”; “não entendemos como um grupo de militares de outro país pode interferir em nossos territórios, onde tudo o que solicitamos é investimento social”. 

A liderança camponesa denunciou que há anos solicitam melhorias nas estradas rurais locais e investimento nacional na produção camponesa, mas que “nenhum investimento foi visto; tudo permanece em anúncios do governo e nada vem para beneficiar as comunidades”. 

A associação de camponeses atenta também para que, semanas antes do envio de tropas, o filho e representante de Warren Buffett, o capitalista bilionário do USA, anunciou um investimento “filantropo” de 200 milhões de dólares em Catatumbo, para fins de “combater a cocaína” na região localizada no limite fronteiriço com a nação vizinha, a Venezuela. 

PREVENÇÃO A LEVANTES E PRESSÃO SOBRE A VENEZUELA

A movimentação de tropas para a Colômbia, em especial aquelas destinadas à região da fronteira, ajudam a fortalecer a militarização no continente sob seu controle direto em um momento de crise profunda do imperialismo e do capitalismo burocrático na região, cujos efeitos serão maior luta das massas e ameaça de início de revoluções. O centro da preocupação ianque é precisamente o Brasil, pelo peso estratégico que possui, nível de crise político-institucional-militar, social e econômica.

Além disso, tal presença fecha ainda mais o cerco militar do imperialismo ianque à nação venezuelana. No início de abril, o USA já havia anunciado o envio de navios de guerra, aeronaves, destroíeres (contratorpedeiros) e tropas da Marinha ianque para a costa da Venezuela.

Além disso, o envio de efetivos ocorre um mês após as recentes tentativas frustradas de invasão à Venezuela que aconteceram na primeira semana de maio e foram encabeçadas por um ex-soldado das Forças Especiais ianques. Tais incursões revelaram que, não à toa, os mercenários e militares venezuelanos desertores que participaram delas haviam sido reunidos e treinados em campos improvisados na Colômbia.

Os três campos onde se desenrolou a organização da invasão tinham base principal no município de Riohacha, no Norte da Colômbia (na península de Guajira), que era dirigida por Robert Colina Ibarra (chamado de “o Pantera”).

Segundo o governo venezuelano, outra tentativa de realizar uma incursão com arsenal militar no território venezuelano ocorreu em 23 de março, mas foi frustrada pela polícia. Um dos envolvidos na operação de invasão declarou à agência colombiana WRadio que o contrato para a compra do arsenal militar apreendido nessa ocasião fora intermediado com agências do USA com o pleno conhecimento do governo colombiano.

A Colômbia não reconhece o governo de Maduro e apoiou a tentativa de golpe liderada pelo capacho ianque Juan Guaidó, que se autoproclamou “presidente” da Venezuela em abril de 2019. 

Em 14 de maio, Maduro afirmou que “novos grupos de pistoleiros, mercenários e terroristas estão sendo formados na Colômbia. Temos os nomes, o local onde estão, quem os protege e tudo aponta novamente para Iván Duque”, referindo-se ao presidente colombiano, que endossou o envio da SFAB.

De acordo com a Venezuela, toda a operação foi coordenada por Clíver Alcalá Cordones, militar desertor das Forças Armadas da Venezuela (Fanb) que em março assumiu ter sido contratado por Guaidó para organizar um golpe de Estado. 

É aqui que toda a história de golpe e de tentativas de invasão à nação venezuelana se conectam com as “Operações Avançadas de Combate a Narcóticos” conjuntas entre o USA e a Colômbia, pois Alcalá havia sido acusado, junto com Maduro e outros membros do governo venezuelano, em uma acusação da procuradoria-geral ianque de “narcoterrorismo” contra o governo venezuelano.

Alcalá foi convenientemente preso por agentes do USA na Colômbia no dia 27 de março e levado para Nova York. Posteriormente, ele foi identificado como o articulador da operação de invasão e como quem organizou os campos de treinamento mercenários, expondo que o combate ao narcotráfico tem sido, na realidade, uma fachada do imperialismo ianque para justificar o aprofundamento da sua intervenção na América Latina e, também, suas agressões à Venezuela.

Um infográfico sobre as “Operações Avançadas de Combate a Narcóticos” no site do Comando do Sul. Fonte: ArmyTimes

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