Nos últimos dois anos a área sem água do Brasil cresceu em 970 mil hectares, o equivalente ao território jamaicano, segundo dados divulgados no dia 21 de março pelo MapBiomas. Os biomas que mais perderam água foram o Pantanal e a Amazônia, regiões que têm sido palco do avanço desenfreado do latifúndio monocultor de novo tipo (“agronegócio”) através de grandes queimadas e perseguição aos povos do campo.
O Pantanal apresentou perda 61% da sua média de capacidade hídrica em 2024. Já a Amazônia, bioma responsável por mais de 60% da superfície aquática do País, perdeu 3,6% de sua água em relação ao ano anterior.
Seca e latifúndio
O que há de comum entre os dois biomas é que ambos são palco do avanço desenfreado do latifúndio monocultor de novo tipo, responsável por 70% do consumo de água no Brasil, conforme dados apresentados pela Agência Nacional de Águas e Saneamento em 2020.
As queimadas são outro aspecto importante Com a expansão da fronteira agrícola para a criação ostensiva de soja, o latifúndio vem promovendo uma verdadeira campanha de queimadas. Dados da Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul apontam que 90% dos incêndios do Pantanal são provocados pela ação humana. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas (Apib), o latifúndio é o agente central por trás dessas queimadas. “O fogo é o meio mais eficiente para os ruralistas escaparem à fiscalização do Ibama”, diz uma nota da organização.
Há vários motivos para o latifúndio incendiar áreas florestais ou mesmo parte da produção. A primeira é que é uma forma de abrir uma área de mata fechada de forma rápida, ainda mais se o interesse for usá-la para pasto. Outra é tirar parte dos produtos do mercado para aumentar o preço das mercadorias. Depois dos incêndios do ano passado em SP, as cotações internacionais de açúcar subiram. “É muito essa lógica: ‘Eu vou acabar com a floresta. Não preciso desmatar. Porque o desmatamento é caro. O fogo é muito mais barato, só comprar gasolina e sair espalhando’.”, disse Rodrigo Agostinho, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), à Agência Pública, em reportagem do ano passado.
Além das queimadas, o latifúndio tem promovido uma verdadeira guerra contra os povos do campo para adquirir mais terras frente à valorização crescente da propriedade agrária no País. Os povos indígenas e quilombolas, assim como os demais camponeses, foram, ao longo dos últimos anos, os principais alvos das queimadas e de ataques de pistoleiros, com o objetivo de tomar as riquezas por eles produzidas e cultivadas.
Ataques
O caso mais recente é o dos ataques às fontes de águas e às terras do povo Guarani-Kaiowá pelo latifúndio do Mato Grosso do Sul, que retira as terras e fontes de água do seu uso verdadeiramente social e as submetem ao regime de produção ostensiva de grãos para exportação. É precisamente esse sistema semifeudal e semicolonial, generalizado no Brasil e demais países oprimidos, o principal produtor das secas e de toda a chamada “crise climática”.
Na Caatinga, onde recentemente foi inaugurada uma obra da transposição do Rio São Francisco, o problema é secular e a causa é a mesma. Com o avanço da transposição, o latifúndio vêm elevado seus ataques às terras camponesas beneficiadas, enquanto monopoliza as principais fontes de abastecimento, mantendo o problema intocável. Como resultado, aproximadamente 970 mil hectares do bioma secaram no último ano .
Enquanto isso, o governo financia diretamente o latifúndio através do Plano Safra. Somente no final de fevereiro, Luiz Inácio (PT) enviou R$ 4,17 bilhões aos latifundiários através da medida – uma parcela dos R$ 400 bilhões do total do programa. Entre 2023, o governo Luiz Inácio também cortou do Orçamento do Ministério do Meio Ambiente – atingindo diretamente serviços de prevenção de queimadas – e, em 2024, não atendeu às exigências dos trabalhadores de órgãos da preservação natural, que passaram mais de 3 meses em greve por melhores condições de trabalho, mais contratações e convocação dos concursados.