França: 1,5 milhão de trabalhadores e estudantes fazem greve às vésperas de votação da ‘reforma’

Trabalhadores e estudantes rechaçam reforma de Macron por toda a França. Foto: AP Photo/Thibault Camus
Trabalhadores e estudantes rechaçam reforma de Macron por toda a França. Foto: AP Photo/Thibault Camus
Trabalhadores e estudantes rechaçam reforma de Macron por toda a França. Foto: AP Photo/Thibault Camus

França: 1,5 milhão de trabalhadores e estudantes fazem greve às vésperas de votação da ‘reforma’

Em torno de 1,5 milhão de trabalhadores franceses do campo e da cidade paralisaram suas atividades e foram às ruas no dia 13 de abril, em mais um capítulo da longa jornada de rebeliões do povo francês contra a “reforma da previdência” de Macron. A greve nacional ocorreu um dia antes da votação da medida pelo Conselho Constitucional do país. Por toda a França, refinarias, terminais rodoviários e importantes rodovias foram interceptadas pela mobilização. Lojas de luxo foram alvejadas pelos manifestantes e dezenas de confrontos entre policiais e manifestantes ocorreram nas cidades francesas.

A reforma se encontra agora em fase final de aprovação. Em março, o presidente reacionário Emmanuel Macron invocou o artigo 49.3 da Constituição francesa para forçar o avanço da reforma. O artigo em questão permite que o presidente aprove uma medida sem uma consulta ou votação do parlamento. Agora, a reforma antipovo se encontra agora nas mãos do Conselho Constitucional, órgão do Estado imperialista francês que determina a “constitucionalidade” das leis. A reforma busca aumentar a idade mínima para se aposentar de 62 para 64 anos e o tempo mínimo de aposentadoria de 42 para 43 anos. 

Desesperançoso com uma decisão favorável às massas populares por parte do Conselho, ao menos 400 mil trabalhadores e estudantes compareceram às manifestações em Paris, capital francesa, e outras dezenas de milhares manifestaram-se em outras cidades. Em Marselha, 150 mil trabalhadores foram às ruas. Na cidade de Toulouse, a mobilização contou com 70 mil manifestantes. Nas cidades de Bordeaux e Lyon, a greve mobilizou 50 mil e 22 mil, respectivamente. 

Bloqueios e confrontos

A multitudinária mobilização nacional foi iniciada ao alvorecer do dia. Na capital, 400 mil trabalhadores e estudantes bloquearam avenidas, prédios do governo e alvejaram lojas da burguesia imperialista. A sede do Conselho Constitucional foi bloqueada por uma barricada de latas de lixo erguida pelos estudantes. Em torno de 12h30, centenas de ferroviários de Paris munidos de sinalizadores vermelhos e bandeiras ocuparam a sede do conglomerado de luxo LVMH. O grupo LVMH controla marcas de grife como Louis Vuitton, Fendi, Givenchy e Dior e pertence ao magnata Bernard Arnault, considerado o homem mais rico do mundo. 

Ainda na capital, trabalhadores e estudantes entraram em confronto com a polícia em diversos pontos da cidade. Lojas e bancos imperialistas e carros de luxo também foram alvejados pela rebelião popular em Paris, Rennes e Toulouse. Na cidade de Alberville, garis que bloqueavam um incinerador de lixo foram brutalmente reprimidos pela polícia. Um motorista foi espancado pelos agentes da repressão e 17 operários da CGT foram presos. A repressão brutal da polícia francesa foi denunciada pelas massas em Lyon após um jornalista ter a cabeça aberta por um policial que o atacou com cassetetes. 

Trabalhadores e estudantes realizam piquete em frente à refinaria. Foto: Nouvelle Epoque
Ferroviários ocuparam conglomerado de luxo durante mobilização. Foto: AP
Trabalhadores erguem piquete em Feyzin. Foto: Nouvelle Epoque

Em Lyon e Perpignan, camponeses bloquearam avenidas com tratores e outros maquinários. Uma refinaria foi bloqueada em Feyzin, onde ativistas da Liga da Juventude Revolucionária (LJR) estiveram presentes. Em diversas cidades, trabalhadores rodoviários bloquearam os terminais de ônibus e distribuíram panfletos contra a reforma. Outro piquete foi registrado na cidade de Grenoble. Na ocasião, ativistas do jornal popular francês Nouvelle Époque (Nova Época, em português) se somaram ao piquete e propagandearam o jornal entre as massas em luta.  

Somando-se à luta dos trabalhadores, estudantes secundaristas de todo o país voltaram a bloquear as escolas contra a reforma que os afetará no futuro. Em Ermont, a escola Van Gogh teve a entrada bloqueada por dezenas de alunos. Na capital, os liceus de Racine, Lamartine, Monet, Buffon, Bergson, Hélene Bouder e Henaff foram atingidos pela mobilização estudantil. Estudantes da principal escola de La Roche-sur-Yon também participaram da greve e bloquearam a entrada do prédio. 

Povo francês se revolta contra Macron

A greve nacional que estremeceu a França na quinta-feira (13/04) é mais um capítulo da massiva rebelião popular francesa contra a crise e a “reforma” da previdência de Macron, medida falsamente apresentada pelo presidente reacionário como solução para os problemas econômicos do país. Desde o ano passado, operários de diversas categorias, estudantes, bombeiros, professores, garis, rodoviários, aeronautas e metroviários têm realizado sucessivas greves e manifestações contra a crise francesa. 

No dia 06/04, 2 milhões de trabalhadores e estudantes protestaram em diversas cidades do país contra o avanço da “reforma” antipovo. Em Paris, os manifestantes voltaram a enfrentar a brutal repressão policial do Estado imperialista francês e deixaram 77 agentes feridos, enquanto 31 manifestantes foram presos. Durante a manifestação, o bistrô La Rotonde, que já promoveu eventos favoráveis a Macron e que era tido como o “restaurante favorito” do imperialista, foi incendiado pelas massas. Já o prédio da prefeitura de Paris foi alvejado por ratos mortos lançados por trabalhadores do controle de pragas da cidade.

Policial foi derrubado por manifestantes em manifestação no dia 13 de abril. Foto: AP Photo/Thibault Camus

Apesar dessa enérgica mobilização, o presidente reacionário Emmanuel Macron segue firme em seus compromissos com a burguesia imperialista francesa e se nega a atender as demandas populares. Porém, enquanto Macron usa e abusa do argumento da “falta de dinheiro nos cofres públicos” para justificar a aplicação da reforma, seu governo aprova aumentos bilionários para a militarização do país.

Não faltam verbas para a repressão

Macron fará investimento bilionário no setor militar. Foto: AP Photo/Lewis Joly

No início de abril, o ministro das Forças Armadas de Macron, Sébastien Lecornu, introduziu ao Conselho de Ministros da França uma “Lei de Planejamento Militar” (LPM), que prevê o orçamento para o setor militar francês até o ano de 2030. De acordo com o planejamento do ministro, o orçamento deverá receber um aumento de 3,1 bilhões de euros no ano que vem, seguido de aumentos de 3 bilhões de euros ano a ano entre 2025 e 2027. Nos últimos dois anos do planejamento, o investimento sofreria novos aumentos de 4 bilhões de euros a cada ano. 

De todo esse investimento novo a ser feito no setor militar, 5 bilhões de euros serão destinados à compra de drones, 49 bilhões à manutenção de equipamento, 5 bilhões com o setor de inteligência e contra inteligência, 16 bilhões com estoque de munição, 6 bilhões com operações espaciais, 4 bilhões com o setor cibernético e 13 bilhões com operações intermarítimas. 

Rebelião popular continuará

"A rebelião se justifica". Foto: Nouvelle Époque

Apesar dos esforços reacionários de Macron, o seu compromisso tenaz com a burguesia imperialista e o uso desenfreado da repressão contra as massas populares (dentro do qual se insere a LPM) não serão capazes de conter a rebelião do povo francês. Caso a reforma seja revogada, as massas, uma vez mobilizadas, seguirão a lutar contra a crise que as assola ano a ano, e contra a qual já empreendem uma feroz resistência. Com a aprovação da reforma pelo Conselho Constitucional, já esperada pelos trabalhadores e estudantes, a resistência seguirá a crescer. 

É o que prometem as massas populares e os ativistas revolucionários atualmente em rebelião no país europeu. Em recente pronunciamento, a Liga da Juventude Revolucionária afirmou que “qualquer que seja a decisão do Conselho Constitucional, continuaremos nas barricadas, nas fábricas, nas escolas e nos bairros para mobilizar e organizar o proletariado da França para marchar no caminho da Revolução Socialista, a única que permitirá nossa emancipação derrubando a burguesia e o capitalismo.”. 

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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