Ativistas da campanha pelo boicote à farsa eleitoral participam de manifestação na França. Foto: @_Boycott2022/Twitter
As eleições presidenciais da França tiveram uma abstenção histórica no ano de 2022, com 28,01% dos eleitores aptos a votar que não participaram no primeiro turno (quase 13 milhões de pessoas). Um número tão alto de abstenções não se apresentava na França desde 1969 e em números absolutos é a maior abstenção na história da França. Além disso, na votação que reelegeu o reacionário Emmanuel Macron para mais um mandato, os dados mostram que, contando as abstenções e os votos à Marine Le Pen, o atual presidente foi eleito por apenas 38,52% dos eleitores registrados (cerca de 18 milhões).
De acordo com o jornal notícias revolucionário francês, La Cause du Peuple, o aumento em milhares no número de abstenções se explica pela intensificação da crise política na França sob o mandato de Macron de cinco anos, em particular com o movimento de massas Coletes Amarelos e a crise da saúde durante a pandemia da Covid-19.
As eleições presidenciais na França foram precedidas por uma grande campanha de boicote eleitoral, levada a cabo por ativistas e revolucionários que contou com atos públicos, panfletos, cartazes, adesivos e pichações.
Emmanuel Macron: a escolha do imperialismo francês
A reeleição de Macron demonstra que o fator determinante para a sua “vitória” na farsa eleitoral neste ano não foi nem de longe um “apoio genuíno” das massas francesas, sendo afinal eleito por uma minoria. Explicável pelo fato de que o programa defendido por ele é o que mais satisfaz às necessidades dos setores mais poderosos e majoritários da burguesia imperialista francesa atualmente.
O Movimento das Empresas da França (Medef) afirmou que “o programa de Emmanuel Macron é o mais favorável para garantir o crescimento da economia e do emprego em nosso país” e que “mesmo que tenha deficiências, é o mais provável para preparar a França para os desafios do futuro, escolhendo a competitividade e o crescimento sustentável”.
Referente à posição de Le Pen de saída da França da União Européia, o mesmo Medef afirmou: “o programa econômico – de Marine Le Pen – levaria o país a ficar para trás de seus vizinhos e colocá-lo à margem da União Européia”.
Além disso, diante do programa econômico de Le Pen de um aumento no poder de compra através da redução de impostos ao consumidor, o Movimento das Empresas da burguesia francesa afirmou preocupação sobre uma “deterioração da confiança dos agentes económicos” e alerta para “o aumento muito acentuado e sem financiamento da despesa pública”, arriscando “colocar o país num impasse “.
Já o programa de Macron, de acordo com o Cause Du Peuple, procura manter-se forte em uma União Europeia com cada vez mais poderes, com uma “política externa unificada”, para fazer frente aos conflitos interimperialistas da superpotência hegemônica única, o Estados Unidos (USA), com a Rússia e China. Tudo isso enquanto dentro da própria União Européia a França disputa por ser o líder do botim imperialista europeu, desbancando o lugar da Alemanha.
O jornal revolucionário afirma: “Uma integração europeia transformadora em favor dos monopólios franceses é a única esperança para o imperialismo francês recuperar terreno sobre seus concorrentes”. E acrescenta que “durante 70 anos, a burguesia francesa trabalhou em estreita colaboração com a burguesia alemã”.
Entretanto, o Causa do Povo destaca: “A fantasia imperialista do Estado federal europeu é concebida como a solução final para a principal fraqueza no centro da UE: ser apenas uma aliança de algumas potências imperialistas. Fraqueza que faz Macron dizer que a UE é ‘muito fraca, muito lenta, muito ineficiente’. No entanto, Bruxelas nunca pode ser tão poderosa ou eficaz quanto os poderes concentrados de Moscou, Pequim e Washington, mesmo dentro de uma Europa federada. Ao contrário dos Estados Unidos, China e Rússia, a UE reúne várias burguesias nacionais e regimes burocrático-capitalistas com interesses muitas vezes divergentes.”.
Por fim, o jornal revolucionário conclui que os imperialistas europeus “tentarão o empreendimento na esperança de ganhar sua ‘autonomia’ e ‘soberania’ na grande competição de poder para evitar ficar preso na luta interimperialista entre os Estados Unidos de um lado e a Rússia e a China do outro. A política europeia da França, como a da Alemanha, já está, portanto, determinada, independentemente do voto da população”. Evidência disso era que Macron já havia assumido a presidência do Conselho da União Europeia às vésperas da eleição presidencial.