Trabalhadores ferroviários acendem sinalizadores vermelhos no 13° dia de protestos e greve contra a reforma da previdência francesa. Jean-Michel Belot/Reuters
Trabalhadores grevistas da Companhia de Eletricidade da França (CEF, sigla em português) promoveram um corte na eletricidade para determinadas áreas do país durante o Natal. No dia 25 de dezembro, os operários reconectaram o serviço às famílias pobres e baixaram o preço das tarifas nos bairros operários e, em contrapartida, provocaram blackouts em áreas de intensa produção industrial ou locais turísticos.
Desde o início da greve, em 5 de dezembro, eletricistas e trabalhadores do setor de energia mantêm interrupções no fornecimento para exigir do governo o fim da “reforma previdenciária” de Macron. A greve ativa tem paralisado edifícios governamentais e grandes empresas com os cortes de energia.
Das principais empresas dos trabalhadores da energia e do gás, 41,4% dos trabalhadores em greve estão na CEF.
No dia 10 de dezembro, os grevistas votaram em assembleias para gerar cortes de energia localizados. Michaële Guégan, diretora de recursos humanos de uma das empresas de energia chamada Enedis (a mais importante rede de distribuição de energia elétrica francesa), aponta que houveram cortes seletivos “em certos edifícios públicos, numa área comercial em Bordeaux e numa universidade em Lyon”.
Ao mesmo tempo, os trabalhadores mudaram 80 mil usuários na região de Lyon para a categoria de baixo consumo, cravando que “a energia não é uma mercadoria”, mas sim “bens essenciais, cujo acesso deve ser garantido a todos”, segundo eles mesmo afirmaram. Esta ação gerou uma enorme simpatia entre as massas francesas, mas foi criminalizada pelas grandes empresas e pelo Estado francês, que prenderam e perseguiram diversos trabalhadores da categoria.
Nicolas Noguès, secretário-geral adjunto do departamento de energia da Confederação Geral do Sindicato dos Trabalhadores (CGT) de Seine-Saint-Denis, explicou que os trabalhadores visam áreas industriais e comerciais como Andorra ou cidades como Dieppe, que contêm indústrias importantes. Eles também cortaram a linha de 400 kW Alemanha-França.
Os trabalhadores da energia paralisam fábrica com acusações de más condições de trabalho
Uma fábrica da Amazon perto da cidade de Paris deveria receber 50 mil pacotes na noite de 22 de dezembro. Em vez disso, sua produção foi completamente interrompida após a ação estratégica dos grevistas, que cessaram a eletricidade do local.
A filial local da CGT, Blanc-Mesnil, reivindicou a responsabilidade pelo ato. “É em apoio aos trabalhadores que saíram na semana passada para denunciar suas condições de trabalho, e para marcar nossa oposição à ‘reforma da previdência’”, disse Marc Fréville, secretário da central, em publicação ao jornal local Le Parisien.
O corte começou perto da meia-noite e durou até de manhã do dia 23. Uma fila de caminhões do local até a rodovia aguardava a retomada das operações. A energia foi restaurada pela Enedis, a concessionária local, às 7h30 da manhã. Um representante da fábrica condenou o ataque e disse à imprensa francesa que iria apresentar uma queixa.
A Amazon não tem sido o único alvo dos cortes de energia, o que parece ser a última inovação nas greves operárias francesas. Os trabalhadores franceses cortaram energia em toda a cidade de Paris no início de dezembro, obrigando, por exemplo, a Torre Eiffel a fechar.
Trabalhadores franceses protestam contra a reforma da previdência, em Lille, no dia 17 de dezembro. Foto: Michel Spingler – AP
Solidariedade entre os trabalhadores contra a ‘reforma’
Trabalhadores da famosa ópera parisiense (uma das profissões afetadas pela “reforma da previdência”) saíram no dia 17 de dezembro, às ruas, cantando uma ária de raiva, enquanto os trabalhadores da Torre Eiffel também entraram em greve, fechando o mundialmente famoso monumento pela segunda vez no mês de dezembro, após o blackout causado pelos eletricistas.
Nas ruas de Paris, a polícia acusou um grupo de manifestantes de ignorar um “ultimato” de dispersar e jogar coquetéis molotov na polícia como resposta à tentativa de encerrar o protesto. Os confrontos aconteceram no final de uma grande marcha de protesto, tendo a marcha dispersada através de gás lacrimogêneo e granadas atordoantes contra os manifestantes na Place de la Nation.
O Ministério da Educação disse que, nesse dia, 25% dos professores do ensino primário nas escolas públicas estavam em greve, e 23,3% dos professores do ensino secundário. De acordo com os próprios sindicatos, os números foram duas vezes mais altos do que os citados pelo ministério.
A operadora ferroviária SNCF disse que um terço de todos os trabalhadores ferroviários estava em greve naquele dia, enquanto o número entre os maquinistas era de 75,8%. Em ambos os casos, os números para a observância da greve foram mais altos do que nos protestos do dia anterior.
De acordo com o monopólio da imprensa Time, no dia 17, via-se na rua trabalhadores hospitalares de jaleco, funcionários da Air France de uniforme, advogados com longas vestes pretas, enfim, pessoas de todas as áreas se juntaram às greves e protestos.
Entretanto, apesar de um mês de protestos, o primeiro-ministro Edouard Philippe disse, na véspera de reuniões com os sindicatos, que avançaria com a “reforma da previdência” na França. “A minha determinação, e a do governo e da maioria, é total”, disse Philippe ao Parlamento, enquanto dezenas de milhares saíam às ruas contra o plano de criação de um sistema de pensão unificado.