No dia 19 de janeiro, 2 milhões de pessoas foram às ruas de ao menos 200 cidades da França e paralisaram diversos serviços contra a “reforma” da previdência de Emmanuel Macron, presidente do país. Os manifestantes entraram em confronto com as tropas policiais que reprimiram o protesto. Eles denunciam o caráter reacionário da “reforma”, que busca aumentar a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos.
Por todo o país, serviços como escolas, hospitais, transportes rodoviários e ferroviários, fábricas e refinarias foram paralisados pela massiva mobilização dos trabalhadores.
Aproximadamente 400 mil pessoas marcharam pela rua de Paris contra a nova medida anti-povo do governo de Macron. Um bloco de manifestantes da organização Juventude Revolucionária ergueu duas faixas para denunciar a inflação, o ataque à previdência e a crise e exaltar a consigna A Rebelião se Justifica!, acompanhada do símbolo da foice e martelo. As tropas policiais tentaram impedir o avanço do protesto com o uso de bombas de gás lacrimogêneo, mas foram repelidas por latas de lixo, garrafas, bombas de fumaça e outros objetos arremessados pelos manifestantes, bem como por barricadas em chamas erguidas nas ruas. Ao todo, em torno de 38 pessoas foram presas pelas forças repressivas de Macron.
Além de Paris, a massa francesa demonstrou sua revolta contra a “reforma” reacionária em Nantes, Bordeaux, Marseille, Toulouse e Lyon. Nesta última, em torno de 40 mil pessoas somaram-se ao dia de luta.
‘REFORMA’ DA PREVIDÊNCIA BUSCA TRANSFERIR PESO DA CRISE PARA AS MASSAS
Macron busca aplicar uma “reforma” da previdência na França desde o final de 2019, quando anunciou seu plano de arrocho e foi confrontado por uma gigantesca onda de greves e rebeliões de estudantes, professores, operários e bombeiros que se estendeu até 2020. À época, Macron cedeu ante à rebelião popular sob a justificativa que não aplicaria a “reforma” no cenário da pandemia de coronavírus.
Agora, com o avanço da crise sem precedentes do imperialismo, impulsionada pela guerra de agressão russa à Ucrânia e pelos efeitos deixados pela pandemia de coronavírus, Macron retomou seus planos e anunciou a “reforma” da previdência. Pela medida, a idade mínima de aposentadoria passaria de 62 para 64 anos e o tempo mínimo de trabalho de 42 para 43 anos.
Destaca-se que, apesar de a idade mínima da aposentadoria ser de 62 anos no regime atual, o trabalhador que se aposenta nesta idade não tem direito à pensão integral da previdência, mas sim à uma pensão reduzida. Desta forma, para ter o direito de uma pensão total, o trabalhador deve possuir 62 anos e ter 42 anos de serviços ou ter atingido uma idade entre 65 e 67 anos, a depender do ano de nascimento.
Nesse regime – que já está em vigor e será ainda pior caso a “reforma” de Macron seja aprovada –, o trabalhador francês se aposenta depois de ter passado da chamada idade de vida saudável. Apesar de na França a expectativa de vida rondar a casa de 86 anos para as mulheres e 80 anos para os homens, a chamada expectativa de vida saudável é de 65,3 anos para as mulheres e de 63,9 anos para os homens.
A despeito dessas informações, Macron afirmou de maneira demagógica, no dia do protesto, que seguiria com a aplicação da “reforma” e que suas propostas eram “justas e responsáveis”. As massas, por outro lado, demonstram aos milhões que seguirão a confrontar e fazer recuar as tentativas de ataques aos direitos previdenciários e outras “reformas” anti-povo com elevadas formas de luta e mobilização.
Imagem em destaque: Milhões foram às ruas contra “reforma” da previdência de Macron. Foto: AFP/Alain Jocard