Frantz Fanon:  A luta contra o colonialismo na Argélia e na Palestina

Frantz Fanon. Foto: Socialist Worker/Reprodução

Frantz Fanon:  A luta contra o colonialismo na Argélia e na Palestina

Em dezembro de 1957, Frantz Fanon1 escreveu uma série de três artigos no jornal El Moudjahid (Guerreiro Santo), veículo de imprensa da Frente de Libertação Nacional da Argélia. Em um desses textos realizou uma análise sobre o papel dos intelectuais e democratas franceses perante a Revolução Argelina2. O povo argelino travava uma feroz luta por sua libertação do jugo do colonialismo francês com grande semelhança à luta do povo palestino, por soberania e autodeterminação, contra o Estado sionista de Israel. A admoestação de Fanon aos intelectuais e democratas franceses é bastante atual e cai como uma luva, 66 anos depois, para exortar os intelectuais e democratas dos dias de hoje em relação à causa palestina.

Nas primeiras linhas do artigo, Fanon elege o apoio sem reservas à reivindicação nacional dos povos oprimidos como um dos primeiros deveres dos intelectuais. Adiante destaca a importante tarefa de informar o povo, camponeses e operários, sobre os motivos que levam os povos oprimidos a encampar a luta por sua libertação. Alerta que se esta tarefa não for cumprida, esses democratas se fecham em si mesmos convencendo-se por meio de artigos e estudos distantes do povo real.

Para o povo concreto, homens, mulheres, crianças e velhos de um país colonizado a existência no sentido biológico da palavra coincide com a existência como povo soberano. Essa descrição de Fanon sobre o estado de espírito dos povos colonizados é a mesma sintetizada em um provérbio palestino que diz: “A terra equivale à alma”3. Diante disso, a única saída possível, a única via de salvação para este povo, é responder tão energicamente quanto possível ao genocídio conduzido contra ele.

Assim como os monopólios de imprensa da França, à época, pregavam diuturnamente que o exército colonial combatia a barbárie na Argélia, assiste-se atualmente à uma cobertura canalha dos monopólios de comunicação, bonecos de ventríloquo do imperialismo ianque e do sionismo, em que se prega que os palestinos são “animais” que devem ser exterminados. Aliado a esse chorume despejado das telas das TVs e dos sítios da internet existe o discurso repetido pelo oportunismo, tendo no Brasil Luiz Inácio como cabeça, igualando a violência do oprimido à violência praticada pelo opressor. Dessa forma a falsa esquerda condiciona seu apoio à docilidade do povo palestino. Em “Os Condenados da Terra”, obra considerada seu testamento político, Fanon justifica a violência do colonizado contra a violência do colonizador, demonstrando que a descolonização é um processo violento, único caminho para uma efetiva libertação nacional e para a restituição da nação ao povo. 

Fanon nos diz que o colonialismo não se trata de um tipo de relações individuais, mas sim da conquista de um território nacional e a opressão de um povo. Tampouco é um certo comportamento humano ou modalidade de relações entre indivíduos. Antes de tudo, colonialismo é uma dominação militar. Essa definição faz cair por terra os argumentos daqueles que querem classificar a luta do povo palestino e o Estado sionista de Israel como guerra religiosa ou herança que remete à Abraão, Agar e Ismael. Fato é que enquanto a Palestina não for livre todo israelense é um soldado inimigo, da mesma forma que todo francês na Argélia o era. Todas as relações entre israelenses e palestinos, assim como o fora a relação entre franceses e argelinos, são baseadas na força. A evocação de casos particulares de israelenses anormalmente gentis para com os palestinos não modifica a natureza das relações entre um grupo estrangeiro que açambarcou os atributos da soberania nacional e o povo que se encontra privado do exercício do Poder. Nenhuma relação pessoal pode contradizer este dado fundamental: o Estado de Israel, por intermédio do seu exército e suas instituições, opõe-se à existência da nação palestina[2].

A guerra de libertação não é um pedido de reformas, mas o esforço grandioso de um povo, a quem mumificaram, para reencontrar o seu gênio, para retomar em suas próprias mãos a sua história e instalar-se como soberano[2]. Essa constatação é o que tem levado os palestinos que vivem na Cisjordânia a também se levantarem por sua independência e contra o oportunismo da Autoridade Palestina/Fatah, lambe botas do imperialismo. 

A missão das mulheres e homens avançados é a defesa intrasigente do direito do povo palestino de dispor de si próprio, do reconhecimento da vontade nacional, da liquidação do colonialismo e para o estabelecimento de relações recíprocas e enriquecedoras entre povos livres. Cabe aos intelectuais a ação de informar e explicar às massas camponesas e operárias as características da luta do povo palestino deixando claro os princípios que a regem e seus objetivos.

Palestina Resiste!!! Palestina Triunfará!!!


Esse texto reflete a opinião do autor.

Referências:

  1. Médico, filósofo político, teórico do colonialismo e revolucionário da independência argelina e africana.   ↩︎
  2. https://www.marxists.org/portugues/fanon/1969/defesa/09.htm  ↩︎
  3. https://blogdaboitempo.com.br/2023/10/31/alem-do-luto-sobre-amar-e-ficar-com-aqueles-que-morrem-em-nossos-bracos/  ↩︎
Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: