A crescente incidência de queimadas em latifúndios tem gerado um impacto devastador, não apenas no meio natural, mas também na saúde das comunidades vizinhas. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos últimos 30 dias, 37,9% dos focos de incêndio foram registrados em propriedades com Cadastro Ambiental Rural, enquanto, 16,2% das queimadas foram realizadas em Florestas Públicas Não Destinadas. A queimada em larga escala em florestas é um passo fundamental na grilagem de terra pública.
De acordo com imagens de satélite, as queimadas em Rondônia estão concentradas principalmente no chamado “arco do fogo,” que se estende de Guajará-Mirim — onde o Parque Estadual tem sido devastado pelo fogo há cerca de um mês — até Machadinho do Oeste, na divisa com o Sul do Amazonas. As imagens também revelam uma extensa mancha vermelha de calor que se estende do Norte do Mato Grosso, atravessando Rondônia e Acre, até o Sul do Amazonas, terminando no Sul do Pará.
No campo e na cidade, as colunas de fumaça, que se espalham rapidamente, transformam o céu em um cenário cinza e ameaçador, enquanto o ar se torna irrespirável. No dia 15 de agosto, o monopólio suíço IQAir registrou o ar da capital rondoniense, Porto Velho, como “Perigoso”, o nível mais alarmante registrado pela plataforma.
Além das práticas criminosas do latifúndio em Rondônia, como a queimada em mais de 30 hectares de terra em Vilhena, o que equivale a 42 campos de futebol, o AND já expunha que o número de queimadas no Amazonas atingiu um recorde histórico em julho, com 4.241 focos de calor. A fumaça produzida no sul do Estado vizinho atinge profundamente Rondônia, pois os ventos levam a fumaça produzida na região ao Estado rondoniense e já atinge Estados do centro-oeste, sul e sudeste.
Imprensa marrom e Estado escondem culpados
Esses eventos, cada vez mais comuns, expõem a criminalidade do latifúndio na Amazônia e se somam aos inúmeros crimes cometidos contra os trabalhadores do campo e da cidade. Por outro lado, as autoridades subservientes ao latifúndio, concentradas sobretudo na Secretaria de Desenvolvimento Ambiental do Estado de Rondônia (SEDAM/RO), afirmam combater os incêndios desde o dia 6 de junho.
O órgão afirma que “o governo de Rondônia tem concentrado esforços no processo de conscientização das pessoas quanto aos prejuízos causados à sociedade, notoriamente para a saúde”. Assim, o Estado age na contramão da causa das queimadas, elencando “as pessoas” em geral como raíz do problema, quando o principal responsável é o latifúndio.
O governo do Estado não é o único a contribuir com a impunidade dos latifundiários e ladrões de terra pública. A imprensa marrom do Estado tem produzido uma série de matérias em que ora culpabiliza os trabalhadores urbanos pelo alto índice de fumaça, ora justifica as queimadas como sendo resultado exclusivamente de causas naturais, como o fenômeno El Niño.
Apesar das tentativas, os crimes contra o povo cometidos pelo latifúndio não podem ser escondidos por muito tempo, como aconteceu com o pecuarista, latifundiário e ex-deputado Maurão de Carvalho, acusado pela própria reacionária Polícia Ambiental de atear fogo em quase 2 mil hectares de uma fazenda, o que equivale a 166 mil campos de futebol.
A fazenda fica localizada no km 901 da BR-364, no distrito de Vista Alegre do Abunã, zona rural de Porto Velho. Sem saída e tendo como principal ramo o jornalismo policialesco, a imprensa reacionária rondoniense não teve outra saída senão reverberar a acusação e a multa milionária no valor de R$ 5,9 milhões.