Gabriel Pimenta! Presente na luta!

Gabriel Pimenta! Presente na luta!

Marabá, interior do Pará, mais especificamente em sua região sudeste. Aqui jaz o corpo de Gabriel Sales Pimenta. Há 40 anos atrás, o advogado de posseiros e de operários, como era conhecido na região, Gabriel Sales Pimenta, com apenas 27 anos, era assassinado a mando dos latifundiários. O crime? Conseguiu uma decisão até então inédita, um mandado de segurança que obrigava a polícia militar a reintegrar mais de 160 famílias de camponeses à suas posses de terra na localidade conhecida por Pau Seco. O advogado da Comissão Pastoral da Terra que acompanha o caso, José Batista, reiterou que, até então, na região, nenhum advogado conseguiu tal feito.

Gabriel Pimenta segue na memória e história de luta do povo dessa terra. Por isso, sua trajetória foi retratada no livro “Luta pela terra na Amazônia: mortos na luta pela terra! Vivos na luta pela terra!” organizado pelos professores da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), Rogério Almeida, e da UFPA (Universidade Federal do Pará), Elias Sacramento. O lançamento do livro ocorreu na data em que completava 40 anos do assassinato – e de impunidade aos criminosos – do advogado Gabriel Pimenta.

Reuniram-se, então, no dia 18 de julho de 2022, mais de 200 pessoas, no auditório lotado do campus 1 da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará). Familiares, militantes e organizações políticas, professores/as e estudantes, artistas estiveram presentes para render homenagem aos que tombaram na luta pela transformação da Amazônia. São 19 histórias – lideranças e lutas coletivas – narradas. Rogério Almeida destacou que essas pessoas radicalizaram em defesa de uma democracia, mas não essa democracia formal que está aí. Prosseguiu afirmando que o livro foi gestado e pensado por sujeitos da luta e intelectuais compromissados; é fruto de um trabalho coletivo dos soldados desse combate.

Na mesa composta pelos autores dos artigos, alguns familiares, outros companheiros/ amigos ecoou o espírito de combatividade. Fazer justiça é prosseguir a luta até que possamos contar a história dos que estão vivos. Uma dessas continuadoras é Claudelice, advogada popular e coordenadora do Instituto que leva o nome do seu irmão e sua cunhada, Zé Cláudio e Maria, ambos assassinados na luta em defesa da floresta em pé.

Outra mulher de garra é Maria Joel, esposa do fundador do sindicato dos trabalhadores rurais de Rondon do Pará, Dezinho. Ela prossegue na luta, mesmo sendo ameaçada diariamente pelos latifundiários, compondo a direção do sindicato e na defesa dos trabalhadores rurais. Ressalta em sua fala a necessidade de organização do povo e, que onde tiver uma viúva [referindo às viúvas dos mortos e assassinados na luta pela terra] é fundamental se unir pra continuar.

Pedro Batista, demonstrou que seu irmão, o advogado João Batista, de origem camponesa, compreendeu que a questão não era somente a luta por terra. Portanto, o problema do camponês pobre, do operário é fruto da exploração da burguesia e do latifúndio. E, que esse problema, que não se restringe somente ao campo durante todos esses anos não se solucionou. Dessa forma, faz uma importante denúncia da recente chacina da Vila Cruzeiro no Rio de Janeiro.

Em consonância, Raimundinho, escritor do capítulo sobre o presidente do STTR de Eldorado de Carajás – Arnaldo Delcídio, fez uma contextualização do período que ocorreram as mortes retratadas no livro. Já era o período que insistem em chamar de “redemocratização”, mas que se materializa como uma democracia fajuta.

Não é muito diferente de agora, em que insistem na apelação da farsa das eleições para combater o “fascismo”. Ora, vejam, é só olharmos para história! Marx já afirmava que a história não se repete e que acontecimentos semelhantes só ocorrem por duas vezes, o primeiro como tragédia e o segundo como farsa. Gabriel Pimenta, morto em 1982, durante o processo de “abertura” do regime militar. O que esperar dos próximos anos pós-Bolsonaro?

Acontece que enquanto houver um sistema baseado na subjugação de nações por países imperialistas e exploração das classes trabalhadoras pelo latifúndio e a burguesia, a história, como farsa, se repetirá. O grande legado de Gabriel Pimenta, João Batista e tantos outros é a consciência de que o Brasil precisa de uma verdadeira transformação que acabe com essa estrutura de sanguessugas do povo.

A apresentação artística ficou por conta do grupo de alunos do curso de educação do campo (UNIFESSPA, que entoavam letras de músicas e poemas de luta: – O risco que corre o pau, corre o machado, não há o que temer, aqueles que mandam matar também podem morrer!

Panfletos em Homenagem ao Gabriel Pimenta foram distribuídos com a nota de denúncia de seu assassinato divulgada na época e um poema que leva seu nome.

Leia o panfleto aqui.

Gabriel Pimenta é homenageado em exposição de artes visuais

A obra Carranca (2022), do artista marabaense Félix Ramos, fez parte da exposição coletiva de artes visuais Estive na Amazônia e lembrei de você, inaugurada em 14 de junho de 2022, no Museu Municipal de Marabá. Félix Ramos é artista popular, carpinteiro e marceneiro, residente a vida toda nos arredores do local em que Gabriel Pimenta foi assassinado. Carranca é um bloco de madeira com duas faces entalhadas em lados opostos. A madeira veio de árvore que, conforme o artista, teria testemunhado o assassinato de Gabriel Pimenta. Derrubada recentemente por família ligada ao agronegócio, o artista recolheu suas toras e produziu suas carrancas como forma simbólica de enfrentar o terror e o esquecimento, mantendo viva a memória que tentam apagar. Mas, que o povo nunca esquece.

Carranca foi montada, pelos professores e estudantes da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará responsáveis pela exposição, sobre uma base composta por terra preta e grãos de soja, de maneira a vincular a luta pela terra e a violência do agronegócio ao contexto investigado na exposição. Estive na Amazônia e lembrei de você traz, ainda, obras de outros artistas que retratam as abordagens coletivas e subjetivas em defesa do meio ambiente e das populações violentadas na região. A exposição pode ser visitada até 14 de agosto de 2022.

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