O Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidu ontem (29/1) aumentar a taxa básica de juros (Selic) para 13,25%. A decisão contrária aos interesses do povo foi tomada de forma unânime pelo conselho presidido pelo indicado de Luiz Inácio (PT), Gabriel Galípolo.
O mandatário do governo, Luiz Inácio, defendeu o aumento: “Não pode dar um cavalo de pau na política econômica”, comentou.
O aumento foi de 1% na taxa que já estava elevada. É a segunda alta consecutiva de um ponto percentual.
O Copom prometeu aumentar a taxa de juros mais uma vez em março. A previsão é que a Selic chegue a 14,25% até o final do primeiro trimestre de 2025.
Quem perde?
Com o aumento da Selic, empréstimos pessoais, financiamentos imobiliários e compras de veículos ficam mais caros. É um problema grave para as 73 milhões de pessoas endividadas no País, segundo dados do Serasa de dezembro de 2024. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 76,7% das famílias brasileiras estão endividadas.
O caso é pior para os mais pobres: 81% das famílias que ganham até três salários mínimos estão endividadas, sendo que 37% estão com dívidas em atraso e 18% não têm condições de quitar o débito. Por outro lado, 66% dos que ganham acima de 10 salários mínimos estão endividados, mas somente 14% estão com dívidas em atraso e 5% sem condições de pagá-las.
A extorsão também prejudica severamente os pequenos comerciantes e pequenos empresários, em grande maioria esmagados pelo endividamento. O ano de 2024 registrou o recorde de 100 mil empresas inadimplentes, mas as micro e pequenas empresas são a maioria, segundo o Serasa. Isso porque os micro e pequenos empresários não conseguem arcar com os débitos e manutenção do negócio no cenário de crise econômica, diferente da grande burguesia.
Quem ganha?
Quem mais se beneficia da situação são os acionistas da dívida pública. Eles lucram mais com o aumento porque as parcelas dos títulos da dívida, pagas pelo Estado, são atreladas à Selic.
De acordo com o próprio Banco Central, a cada 1% de aumento na Selic, o gasto com a dívida cresce R$ 55 bilhões, segundo denúncia feita pela Auditoria Cidadã da Dívida (ACD), coordenada pela economista Maria Lucia Fattorelli.
Taxa de juros não contém a inflação
Essa foi a primeira reunião presidida por Galípolo. O indicado de Luiz Inácio substituiu Roberto Campos Netto, ex-presidente do Copom que foi criticado pelo presidente durante os anos de 2023 e 2024 justamente pelas elevações na taxa de juros.
Em agosto de 2024, Luiz Inácio falou que não havia explicação para o patamar da taxa Selic. Na época, a tarifa estava em 10,5% ao ano.
Os economistas burgueses do BC falam que a alta da taxa de juros é para conter a inflação, mas a justificativa é falsa: a alta dos preços é definida acima de tudo pelos cartéis que controlam de forma monopolista a economia, e não pela simples regra da oferta e procura.
Um exemplo é o caso dos combustíveis, que vai aumentar esse ano por uma imposição dos governantes através do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços e pela pressão dos bilionários donos de refinarias e acionistas da Petrobras, que querem equiparar o preço dos combustíveis brasileiros ao do mercado internacional.
Além disso, os juros encarecem o custo da produção, e essa alta acaba sendo revertida ao preço dos produtos.
‘Política de juros que sustenta dívida está no centro dos problemas do povo’
“Tudo que depende de financiamento fica mais caro, para pessoas e para empresas, que não conseguem inviabilizar seus negócios, quebram, geram desemprego, aumentando o ciclo de penúria da sociedade brasileira”, disse a Auditoria Cidadã, em texto publicado no dia 30 de janeiro no seu portal online.
“A população precisa entender que esta política de juros que sustenta o sistema da dívida pública brasileira está no centro de todos os problemas do povo, por isso precisamos de uma mobilização nacional para exigir mudanças na política econômica, urgente”, disse Fattorelli, à reportagem do grupo.