Nas suas repetidas declarações, os políticos sionistas ocidentais afirmam que não há lugar para o Hamas em Gaza no dia seguinte ao genocídio atual.
Um dos objetivos deste massacre é destruir, esmagar, acabar, transformar em pó, um movimento da Resistência Palestina.
Após mais de cem dias do massacre e morte de mais de 25000 civis e mais de 65000 feridos (70% deles mulheres e crianças) e destruição de 60% dos prédios e casas de Gaza, Hamas continua sua luta heróica contra as forças de ocupação em Gaza.
Diariamente os soldados de Israel são atacados a distâncias mínimas pelos combatentes palestinos.
Apesar do exército da ocupação não declarar suas verdadeiras perdas e o governo exercer rígida censura sobre as baixas israelenses, fontes médicas e jornalísticas em Israel afirmam que centenas de soldados já foram mortos e outros milhares foram feridos. O jornal Haaretz já fala de mais de 3000 soldados inválidos.
O exército sionista é considerado um dos mais bem preparados e equipados do mundo, mas mesmo assim, Israel não alcançou nenhum de seus objetivos militares ou políticos. Não derrotou o Hamas. Não libertou os presos em Gaza e não conseguiu obrigar os palestinos a fugirem para o deserto do Sinai.
Os combatentes palestinos, famintos, sedentos, de luto e com armas artesanais na mão, estão enfrentando, de uma forma inusitada na história, um exército muito mais poderoso.
As imagens de Gaza, mostrando os jovens palestinos mal armados, enfrentando e destruindo tanques sionistas é motivo de esperança e orgulho de todos os palestinos e daqueles que lutam por verdade e justiça no mundo.
Isso demonstra que destruir a Resistência Palestina, inclusive o Hamas, é um sonho de mentes doentes e perturbadas de líderes sionistas.
Mesmo assim, é muito importante reafirmar que qualquer discussão sobre o futuro de Gaza e da Palestina ocupada deve levar em conta os seguintes elementos:
1. Nessa discussão, deve ficar bem claro que apenas o povo palestino irá definir seu futuro e seus representantes de uma forma democrática.
Nos últimos 75 anos, os palestinos surpreenderam o mundo, não apenas mantendo-se vivos, mas criando novas formas de lutar pelos seus direitos e sua liberdade.
Nos anos 60, quando o mundo acreditou que a questão palestina se transformou apenas em uma questão humanitária e o povo palestino, em grupos de refugiados, aguardando ajuda do resto do mundo, os palestinos, lutando com armas na mão, devolveram para a questão palestina seu caráter de luta anticolonial.
Nos anos 80, após a saída da OLP do Líbano, os sionistas e seus patrocinadores americanos e ocidentais acreditavam que os palestinos foram derrotados de uma forma irrecuperável.
Foi exatamente quando começou a primeira intifada palestina em 1987, maior levante popular contra a ocupação “israelense”. Com determinação e pedras, os jovens palestinos enfrentaram o exército e narrativa “israelense”, mostrando para o mundo que a ocupação e o apartheid são a causa da violência na região.
Há 5 meses atrás, em frente da assembleia geral da ONU, Netanyahu mostrou um mapa do oriente médio sem a Palestina e declarou que os palestinos são apenas 2% do mundo árabe. Segundo ele, o que importa são os outros 98%.
O ataque de 7 de outubro mostrou a Netanyahu e aos outros fascistas em Israel que os palestinos continuarão sua luta até o fim pelos seus direitos e não vão desaparecer do mapa, continuando como os verdadeiros donos da terra e da história.
O ataque mostrou que os palestinos não são 2% do povo árabe, mas que 100% dos árabes são palestinos.
Os sionistas, como todos os colonialistas, são ignorantes não apenas em história e geografia, mas também na matemática.
2. Qualquer solução para o conflito deve incluir, em primeiro lugar, o fim da ocupação sionista de todos os territórios palestinos ocupados.
Não é obrigação dos palestinos garantir a segurança dos colonos e soldados sionistas que ocupam e usurpam o território palestino, como afirmam os acordos de Oslo.
A retirada incondicional e imediata das forças de ocupação deve ser a primeira condição para qualquer discussão sobre a situação no oriente médio.
3. As medidas econômicas, defendidas pelos americanos e europeus, que alegam irá melhorar a vida dos palestinos sob ocupação, são medidas com a intenção de perpetuar o controle sionista sobre a Palestina. Atenuar, mas manter a miséria da vida no campo de concentração em Gaza e nos guetos e bantustões na Cisjordânia e Jerusalém significa continuar a ocupação e apartheid em outras formas.
Apenas o direito sagrado do povo palestino à autodeterminação, longe da ocupação e controle sionista, garantirá o início do processo de negociação sobre uma possível solução.
4. No mundo civilizado não poderia e não deveria existir ninguém, nenhum estado ou grupo, acima da lei. Israel violou todos os direitos humanos e as regras internacionais, assassinando crianças e mulheres, e destruindo casas, hospitais e escolas. Responsabilizar o estado sionista pelos seus crimes é dever do mundo, principalmente dos povos indignados com tamanha barbárie.
Quando líderes israelenses e seus aliados falam de Gaza sem Hamas, o verdadeiro significado dessas palavras é a Palestina sem os palestinos. Isso nunca irá acontecer. Os palestinos são como as montanhas daquela terra, continuarão lá.
Os grupos da resistência, liderados pelo Hamas, continuarão lutando enraizados na Palestina ocupada.
A solução para o conflito é muito simples: não é Gaza sem Hamas, mas mundo sem o racismo e sem o apartheid.
Abdel Latif Hasan é médico e palestino, nascido em Belém, na Cisjordânia. Escreve sobre a vida e a guerra na Palestina. Já escreveu para outros portais, como o Instituto da Cultura Árabe.
Esse texto expressa a opinião do autor.