A série de atos organizada para hoje (8/1) pelo governo para lembrar o dia 8 de janeiro de 2023 começou esvaziada, sem a presença de massas populares (não mobilizadas pelo governo) e mesmo de figuras centrais da política reacionária (convidados especiais de Luiz Inácio), como os presidentes Rodrigo Pacheco (Senado), Luís Roberto Barroso (STF) e Arthur Lira (Congresso Nacional).
Houve ausências mesmo por parte da própria equipe governamental. Os ministros Carlos Luppi (Previdência), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Juscelino Filho (Comunicações) não compareceram ao evento.
A maioria dos convidados justificou a ausência por motivos de viagem, mas há suspeitas de que outros motivos tenham influenciado: no ano passado, Arthur Lira (PP-AL) não foi no evento do 8/1 do governo por pressão dos setores bolsonaristas. Para compensar, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) enviou o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), vice-presidente do Senado, e Arthur Lira foi representado pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
Outras ausências foram as do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), o que foi bem visto pelos bolsonaristas. “Não tem por que participar”, disse o deputado Bibo Nunes (PL-RS), sobre Hugo Motta, ao jornal monopolista O Globo. “Tem compromisso conosco em colocar para votar o PL da anistia.”
Um ‘obrigado’ aos militares
Em seu discurso, Luiz Inácio fez questão de agradecer aos comandantes militares e ao ministro da Defesa José Múcio pela presença no evento. “Quero agradecer a José Múcio, que trouxe os três comandantes das Forças Armadas para mostrar a esse país que a gente quer construir as Forças Armadas com o propósito de defender a soberania nacional. Muito obrigado pela presença, José Múcio, e os três comandantes militares.”, disse o mandatário.
Desde o dia 8/1, vários setores progressistas e democratas têm condenado a forma com que o governo acena aos militares sem condenar o golpismo incrustado na caserna e particularmente no Alto Comando das Forças Armadas (ACFA).
Foram vários os sinais do golpismo e intervencionismo nos últimos anos. O comandante do Exército, Ribeiro Paiva, tem posições claramente intervencionistas, como registrado em um áudio vazado em janeiro de 2023, no qual o comandante critica o 8/1 por “fortalecer a narrativa do adversário” e na declaração dada por ele a imprensa na metade do mesmo ano em que confessa que agiria diretamente caso o governo tentasse uma reforma curricular no Exército.
No final do ano passado, a força terrestre reacionária se negou a cumprir uma ordem do Ministério Público Federal (MPF) que exigia a troca do nome da Brigada 31 de Março, de Juiz de Fora, nomeada em homenagem ao golpe militar de 1964. Meses depois, a Marinha publicou, em homenagem do Dia do Marinheiro, um vídeo que ridicularizava a vida civil do povo brasileiro e encenava cenas de ação para os militares; a publicação foi vista como uma ameaça contra alguns cortes orçamentários previsto para os militares.
Massas ausentes mas combativas
As massas populares foram a ausência mais notável e importante no ato – expressão da política passiva de enfrentamento ao golpismo aplicada pelo governo. Os setores mais ativos e conscientes das massas não vêem sentido em comparecer no ato de Luiz Inácio, tão institucional quanto ineficaz no combate à extrema-direita e ao golpismo militar ainda em voga. Já os setores menos enérgicos nem foram mobilizados.
O que não significa que não há, por parte das massas, combate ao golpismo: o jornal A Nova Democracia fez um evento com mais de 300 pessoas, em 2023, para combater o golpismo militar, o da extrema-direita bolsonarista e a política de apaziguamento do governo.
Outros protestos e mobilizações foram organizados entre 2023 e 2024. Nesse ínterim, o campo se impôs como a principal frente de combate ao golpismo, com enfrentamentos significativos entre camponeses dirigidos pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) e bandos pistoleiros de latifundiários de extrema-direita.
Elemento importante é que, segundo pesquisa Genial/Quaest do dia 6/1, 86% da população brasileira é contra os atos dos galinhas verdes do dia 8 de janeiro de 2023, expressão do sentimento popular contrário às aspirações dos bolsonaristas de extrema-direita.
Bolsonaristas se mobilizam
Os bolsonaristas não deixaram a data passar em branco, conforme ficou registrado por atos marcados pelos galinhas verdes nas cidades de Goiânia (GO), Campinas (SP) e Rio de Janeiro (RJ).
Além disso, os galinhas verdes e seus familiares organizaram, por meio da Associação dos familiares e vítimas do 8 de janeiro, um programa ao vivo de oito horas com debates e presenças de senadores.