Governo bajula Forças Armadas e esconde ineficácia geral em reunião com comandantes

Almoço do governo com Alto Comando ficou marcado por bajulação à cúpula militar e compromissos esdrúxulos para 2024.
Almoço do governo com Alto Comando ficou marcado por bajulação à cúpula militar e compromissos esdrúxulos para 2024. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Governo bajula Forças Armadas e esconde ineficácia geral em reunião com comandantes

Almoço do governo com Alto Comando ficou marcado por bajulação à cúpula militar e compromissos esdrúxulos para 2024.

Luiz Inácio, José Múcio e os comandantes das três Forças Armadas reacionárias reuniram-se no dia 19 de dezembro em um almoço luxuoso para discutir a relação entre o governo e os militares ao longo de 2023, além de costurar planejamentos para o ano seguinte. Nesse clima de “festa da firma de fim de ano”, segundo alguns presentes, o governo voltou a dar mostras de sua submissão quase canídea aos militares, em especial seu Alto Comando. 

“Olhando para trás vejo muitos obstáculos e dificuldades que se interpuseram em nosso caminho. Mas vejo, também, muito empenho, trabalho, obstinação e entregas à sociedade”, disse Múcio, em sua consolidada posição de lobista da cúpula militar no seio do governo. O ministro agradeceu Luiz Inácio pelas iniciativas em relação à caserna, como a previsão orçamentária, os programas estratégicos e toda a atenção dada. 

De fato, não faltou incentivos do governo ao alto oficialato. Em meio às exigências de figuras como o comandante do Exército, Tomás Paiva, para mais investimento na força, o governo anunciou já no mês de julho um aumento no orçamento equivalente a mais 0,2% do PIB destinado à “defesa”, o que eleva o total do PIB para esse setor a 1,5%. Há negociações (entende-se por isso, mais pressão dos militares contra o governo) para que o aumento atinja logo a margem de 2% do PIB. Também foram prometidos cerca de R$ 2,6 bilhões a mais somente para salários e pensões. Outros R$ 1,5 bilhão foram reservados para “projetos estratégicos”, dentre os quais estão desenvolvimento de helicópteros e drones voltados exclusivamente para a Amazônia, região que tem sido palco da luta camponesa nos últimos anos. 

Múcio aproveitou também para elogiar os próprios militares, mas justamente por ações que as Forças Armadas e o governo se mostraram plenamente incompetentes em resolver. Para o ministro, o êxito das Forças Armadas em ações como operações no território Yanomami e no resgate dos brasileiros da Faixa de Gaza foram exemplo das principais operações dos militares reacionários brasileiros.

Exatamente a que Múcio se refere? Até junho, mais de 50% das cestas básicas que deveriam ter sido entregues aos Yanomami não haviam sido sequer enviadas. Investigações da Agência Pública daquele mês revelaram também que as entregas estavam paradas, a não ser por envios muito esporádicos, a noventa dias. É essa grave mostra de incompetência que foi saudada pelo governo? 

Ou será que Múcio se referiu ao envolvimento massivo de militares do alto escalão em esquemas do grande garimpo, como o do tenente-coronel Abimael Alves Pinto, do general Carlos Alberto Mansur ou até mesmo ou da Força Aérea Brasileira como instituição orgânica, que negou-se a compartilhar dados das aviações do grande garimpo com investigações do Ministério Público Federal? 

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Se o papel de Múcio é ser lobista das Forças Armadas reacionárias, deveria fazer o dever de casa e estudar melhor sobre seus próprios patrões, para evitar temas que sejam tão embaraçosos ao setor que representa.

Não é diferente em relação aos brasileiros resgatados da Palestina. Não houve nada de especial na atuação das Forças Armadas nessa questão, além de ter cumprido com a própria obrigação básica de buscar os brasileiros que conseguiram sair da Faixa de Gaza, atualmente sob agressão vil do Estado sionista de Israel. Outras dezenas de brasileiros ainda seguem na região, incluindo os 24 que foram deliberadamente proibidos por Israel de deixarem a Faixa de Gaza, sem explicação alguma dos sionistas ou por parte do governo brasileiro, que também não deu declarações sobre posturas a serem tomadas para reverter o caso.

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Nada disso entrou no cálculo dos discursos durante o almoço feito entre governo e militares reacionários, servido com filé mignon, castanhas, filé de robalo, queijo grana padano, vinhos e três sobremesas, tudo ao agrado dos gostos exigentes e onerosos do alto oficialato. 

Quanto aos compromissos do ano que vem, planeja-se desde já a presença dos três comandantes no evento do governo a ser realizado em 8 de janeiro, um ano da segunda bolsonarada. O pedido, um verdadeiro escancaro da submissão do governo à caserna e da anistia ao Alto Comando das Forças Armadas pelo papel prestado no golpismo e na tutela militar nos últimos anos (ainda em voga), foi feito pessoalmente por Múcio, sob consenso de Luiz Inácio.

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