O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) fez questão de agradar os latifundiários reunidos no dia 27 de abril em Ribeirão Preto (SP) para a abertura da 30ª edição da feira Agrishow, uma feira organizada pelo “agronegócio” em São Paulo. Em um discurso pomposo, o vice-presidente prometeu lançar em poucos meses uma nova edição do Plano Safra, com um valor ainda maior reservado para o latifúndio do que a última edição de 2024/2025, que reservou o montante recorde de R$ 400,5 bilhões ao agronegócio com créditos de 7% a 12% ao ano.
“Vamos trabalhar para ter um aumento do valor do Plano Safra, e ele certamente vai exigir uma equalização maior em razão do aumento da taxa Selic”, disse o vice-presidente, representando o mandatário Luiz Inácio (PT).
O Plano Safra é um programa supostamente feito para incentivar a agricultura em geral, mas que beneficia principalmente os latifundiários donos de grandes parcelas de terras destinadas à monocultura de commodities para exportação, pecuária ou mesmo guardadas para a especulação fundiária. Na edição de 2024/2025, o valor do plano destinado à agricultura familiar foi o equivalente a 18% daquele destinado à chamada “agricultura empresarial” – o “agronegócio”, ou latifúndio.
Tarcísio de Freitas acena ao latifúndio
O governador bolsonarista de São Paulo (SP), Tarcísio de Freitas (Republicanos), também participou do evento. Para chamar a atenção dos latifundiários, ele levou o secretário de Agricultura, Guilherme Piai (Republicanos), fez promessas e alfinetou o governo federal.
Um dos compromissos foi o anúncio, no dia 29/04, de um pacote de investimentos de R$ 600 milhões para o agronegócio paulista. O volume de dinheiro é dividido entre programas de seguro rural e crédito para sistemas de irrigação, logística e infraestrutura.
Piai foi quem assumiu a posição mais ácida contra o governo de Luiz Inácio (PT). “Com todo respeito ao governo federal, não foi anunciado nada na maior feira de agronegócio do mundo. O governador de São Paulo valoriza a mulher e o homem do campo”, disse. Ele evitou comentar o despejo violento de camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Usina São José, em Rio das Pedras, no dia 07/04, e outros casos de violência contra camponeses e indígenas por parte da PM paulista.
Manobrando com a reforma agrária
Piai e Freitas também tentaram manipular as massas com um falso anúncio de que o governo paulista regularizará 7,2 mil famílias assentadas em 154 mil hectares de terra de SP até 2026, fazendo com que a “reforma agrária” avance.
É uma mentira, porque a entrega de títulos ou regularização é só uma etapa da reforma agrária, e o projeto do governo pretende entregar terras principalmente aos já assentados em terrenos já destinados à reforma agrária, e não desapropriar novas terras para camponeses ainda sem nada.
Além disso, um projeto muito parecido aprovado pela gestão de Tarcísio em 2023 ficou conhecido por vender terras destinadas à reforma agrária com 90% de desconto a latifundiários, e não a pequenos camponeses ou camponeses sem terra. No projeto, terras avaliadas em R$ 56 milhões foram vendidas por R$ 14 milhões a dez latifundiários irregularmente aprovados no programa pela Fundação do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp).
Mesmo assim, Piai disse que o projeto é sinal de que “a reforma agrária funcionou” em SP. O secretário comparou o modelo com o do governo federal que, segundo ele, “não funcionou. Os caras dividiram o lote pequeno de terra, jogaram lá e deixaram o povo vivendo na miséria, em barraco de lona, sem saneamento, sem crédito, sem moradia, sem título, sem nada”.
O que o governo de Freitas quis fazer foi se chocar com a gestão federal em frente aos latifundiários, um importante setor nas disputas entre as classes dominantes. Mas a verdade é que nem os bolsonaristas do governo de Tarcísio nem a falsa esquerda do governo federal do PT fizeram reforma agrária. A mesma manobra usada por Tarcísio em SP foi usada por Luiz Inácio em 2023, ano em que o mandatário não comprou nenhuma terra para a reforma agrária e, em vez disso, priorizou a política de titulação, segundo uma reportagem do portal Repórter Brasil. A mesma matéria diz que o governo de Jair Bolsonaro usou a mesma estratégia.
“O número de áreas adquiridas pela União para a criação de novos assentamentos vai terminar zerado pelo terceiro ano consecutivo – acompanhando o movimento iniciado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2021.”, diz o texto. “Por outro lado, continua a política em torno da emissão de títulos definitivos da terra para quem já é assentado, empreendida a todo gás sob Bolsonaro”.
Bolsonaristas disputam apoio
A visita de Tarcísio de Freitas à Agrishow foi a terceira ida de um bolsonarista ao evento latifundista. Nos dias anteriores, os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), do Pará, Helder Barbalho (MDB) e o goiano Ronaldo Caiano (União Brasil) também foram à festa para reforçar o apoio entre os latifundiários. Os bolsonaristas também estiveram presentes na Expozebu, em Uberaba (MG).
Caiado foi explícito ao indicar que a movimentação faz parte de uma articulação maior, com olhos em 2026. Ele defendeu que o próximo presidente seja uma pessoa mais ligada ao latifúndio e que a direita deeria se unir para eleger um nome como o dele ou de Tarcísio de Freitas.
São Paulo com o adotado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O modelo do governo federal não funcionou. Os caras dividiram o lote pequeno de terra, jogaram lá e deixaram o povo vivendo na miséria, em barraco de lona, sem saneamento, sem crédito, sem moradia, sem título, sem nada”, disse Piai.