Em entrevista à Rádio T FM no dia 15 de agosto, Luiz Inácio deu algumas sugestões para Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, resolver a crise criada após o fim do processo eleitoral do dia 28 de julho. Sem reconhecer a vitória eleitoral do chavista, o mandatário petista afirmou que há “várias saídas”, citando a possibilidade de um “governo de coalizão” com a oposição. Luiz Inácio disse ainda que Maduro poderia convocar novas eleições, “se tiver bom senso”. A alternativa de um novo pleito também foi defendida pelo presidente do Estados Unidos (EUA), Joseph Biden, em entrevista nesta quinta-feira.
“O mandato [de Maduro] só termina em janeiro do ano que vem, então ele é o presidente da república. Se tiver bom senso, poderia fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições”, disse Luiz Inácio, defendendo que Maduro deve ainda estabelecer um “critério de participação de todos os candidatos, criar comitê eleitoral suprapartidário e deixar que entre olheiros do mundo inteiro”.
Dessa forma, Luiz Inácio segue sem reconhecer a vitória eleitoral de Nicolás Maduro. Mas não só. O presidente oportunista vê a relação de longa data com o chavismo ruir e se une a outros governos que defendem que tiveram irregularidades nas eleições venezuelanas – justificando, assim, as políticas de ingerências e intervencionismo do EUA e seus organismos internacionais no país latino-americano.
De quebra, o mandatário brasileiro parece se esquecer ou ignorar deliberadamente os efeitos que a tática do “governo de coalizão” teve na sua própria gestão: uma coleira com rédeas curtas para atender cotidianamente os interesses do latifúndio (“agronegócio”, organizado na bancada ruralista e Ministério da Agricultura) e das classes dominantes locais, junto do imperialismo, conforme expresso nas políticas de austeridade (“arcabouço fiscal” e cortes) pró-mercado financeiro.
Um marco do afastamento com o presidente venezuelano se deu antes mesmo do resultado eleitoral e polêmica envolvendo as atas. Luiz Inácio afirmou estar “assustado” após a fala de Maduro de que, no caso de derrota, haveria um “banho de sangue”. Em resposta à fala do brasileiro, o venezuelano sugeriu “chá de camomila”.
Dentro do PT, uma nota assinada pela direção nacional reconheceu a vitória eleitoral de Maduro. Sem frisar a necessidade de chocar-se com a oposição pró-ianque e conduzir uma ampla denúncia das maquinações do imperialismo, o partido afirmou ter certeza de que a justiça venezuelana “dará tratamento respeitoso para todos os recursos que recebe” da oposição, a quem o PT espera que Maduro continue a dialogar.
Há, porém, uma discrepância entre a direção do PT e o posicionamento de Luiz Inácio. Enquanto a direção do partido reconhece que o processo eleitoral ocorreu “em uma jornada pacífica, democrática e soberana”, Luiz Inácio tem defendido, reiteradamente, que houve irregularidades.
Luiz Inácio sugeriu também “cautela e moderação” em referência à a repressão do governo venezuelano aos protestos convocados pela oposição, que já declarou vitória e anunciou a data de posse.
O governo brasileiro está mesmo pressionando Maduro para que este apresente as atas eleitorais. Alexandre Padilha (ministro das relações exteriores) destacou que, em conjunto com Colômbia e Estados Unidos, o Brasil está buscando a “pacificação” da Venezuela.
Em contato com Gustavo Petro (presidente da Colômbia) e outros presidentes oportunistas da América Latina, o petista está apostando numa iniciativa para “reestabelecer a tranquilidade democrática” da Venezuela.
Aferrado na tese da “democracia como valor universal”, o petista só quer saber de “atas”, “comitês eleitorais”, “diálogo com a oposição”, “pacificação” e “condenação da violência”. O que está por trás é o intervencionismo e ingerência do imperialismo ianque na Venezuela, que tem em Luiz Inácio um dos atores. Não veremos, portanto, da parte do governo de Luiz Inácio nenhuma condenação da maquinação do Estados Unidos na Venezuela.