Durante audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, no Senado federal, no dia 4, os ministros de Luiz Inácio, Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) se posicionaram entre demagogia e condenações com respeito à luta camponesa.
Carlos Fávaro é o mais desavergonhado na condenação. Representante nato do latifúndio (agronegócio), não tem “papas na língua”: “Invasão de terras não é legítimo. Não devemos apoiar. Não é concebível apoiar invasão de terra. Da minha parte nunca o farei”, asseverou. Se bem que o notável ministro foi mais comedido do que em outras oportunidades, quando afirmou que os camponeses são “marginais” e comparou as tomadas de terras feitas por camponeses, que exigem terra para quem nela vive e trabalha, com a segunda bolsonarada de 8 de janeiro, que clamava por um golpe militar, chamando ambas de “terrorismo”.
Paulo Teixeira, supostamente “o homem da reforma agrária” do atual governo, também tomou posição contra a luta camponesa: “Isso é uma exigência do governo: com áreas ocupadas, não negociamos. Não há desse governo qualquer leniência com esse tipo de problema”.
Mas não só de condenações vive o governo. Houve também demagogia. Carlos Fávaro fez-se de comovido pelo fato de que “há seis anos nenhum centímetro de terra é entregue ao povo brasileiro”, referindo-se à morte da desde sempre falida “reforma agrária”. Caberia corrigir sua formulação: a reforma agrária morreu oficialmente ainda no governo Dilma, entre 2011 e 2015, quando somente 133,6 mil famílias foram assentadas, o que lhe rendeu o título de ser o governo que menos fez reforma agrária desde o regime militar-fascista (perdendo para todos os presidentes dali em diante).
Já o ministro do Desenvolvimento Agrário anunciou, com pompa e circunstância, que o governo “pretende anunciar em maio um programa de reforma agrária para 2023; um programa que possa trazer não só a terra, mas infraestrutura, crédito e assistência técnica”. Tom e conteúdo bem distinto daquele usado em abril, quando afirmou, em reunião com o MST e a Suzano, que o governo dispunha apenas de R$ 2,43 milhões para “reforma agrária”, enquanto o governo encheu as burras do agronegócio.
Talvez, a dubiedade entre demagogia e condenação se explique pela intervenção de um insignificante senador de Rondônia, na mesma audiência: “Nós podemos ter um conflito muito grande. Se isso não tiver uma providência urgente, podemos ter conflitos. Podemos ter uma revolução no campo”. É isso o que o governo e toda a reação quer evitar.