Governo expulsou mais de 4 mil camponeses de suas terras para construir barragem no RN

O projeto da barragem Oiticica foi inaugurado com o discurso de transformar a vida da população do Seridó potiguar. Contudo, as barragens tem sido construídas de forma precária ou sem a manutenção adequada, e por isso vêm se convertendo como um verdadeiro problema para o povo, em especial camponesa. 
Barragem de Oiticica (Foto: Yasmin Fonseca/MIDR)

Governo expulsou mais de 4 mil camponeses de suas terras para construir barragem no RN

O projeto da barragem Oiticica foi inaugurado com o discurso de transformar a vida da população do Seridó potiguar. Contudo, as barragens tem sido construídas de forma precária ou sem a manutenção adequada, e por isso vêm se convertendo como um verdadeiro problema para o povo, em especial camponesa. 

Mais de 4 mil camponeses ribeirinhos foram expulsos de suas casas às margens do rio Piranhas, na região do Seridó, Rio Grande do Norte, para a construção da barragem de Oiticica, inaugurada ontem por Luiz Inácio (PT). 

A lenta construção da barragem de Oiticica, no Seridó potiguar, levou sofrimento e insegurança às massas populares do povoado de Barra de Santana, município de Jucurutu. Ao longo de mais de 12 anos, os camponeses foram forçados a deixar suas casas, seus costumes e sua economia e se mudar para um novo local improvisado.  

Em entrevista para o monopólio de imprensa Folha de São Paulo, uma auxiliar de sala de aula e moradora da comunidade relatou o sofrimento em deixar o povoado: “É muito difícil você ver que tudo o que foi construído ao longo de muitos anos de trabalho, ser demolido. A gente se mudou para outro lugar, mas o que aperta o peito é saber que a gente não pode mais voltar lá para visitar. Agora só tem escombros”. 

Aliás, esse não é o único projeto de Luiz Inácio que visa expulsar as massas camponesas de sua terra. Conforme apontado por uma reportagem especial de AND, o Ministério de Transportes do governo federal irá leiloar a construção de uma ferrovia no norte fluminense, RJ, capaz de conectar o Porto do Açu, construído sob terras de famílias despejadas. Segundo o geógrafo da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Marcos Pedlowski, consultado por AND, há uma forte preocupação que a construção da ferrovia promova novos despejos de camponeses.

Governo vai leiloar construção de ferrovia sobre terras de camponeses despejados – A Nova Democracia
Ferrovia vai do Espírito Santo até Itaguaí, no Rio de Janeiro, passando pelo Porto do Açu – uma região no Norte Fluminense (NF) administrada por uma empresa não-estatal (“privada”) com um longo histórico de violência contra camponeses.
anovademocracia.com.br

O projeto da barragem Oiticica foi inaugurado com o discurso de transformar a vida da população do Seridó potiguar. Contudo, as barragens tem sido construídas de forma precária ou sem a manutenção adequada, e por isso vêm se convertendo como um verdadeiro problema para o povo, em especial camponesa. 

Rompimentos sucessivos

Além de promover a remoção forçada do campesinato nordestino, o governo tem ignorado problemas estruturais em barragens, de modo que somente o primeiro trimestre desse anoano ao menos quatro barragens foram rompidas no Ceará. 

A primeira delas rompeu em janeiro por conta de uma intensa chuva, deixando as massas locais completamente ilhadas. Já na última terça-feira, ao menos três barragens romperam na cidade de Acopiara, também no interior cearense. Na ocasião, a produção camponesa, em especial a de feijão, capim e sorgo foram arruinadas e a rodovia CE-371 foi interditada. 

Realidade nacional e elogios ao vento

Esses não são casos isolados. Eles refletem, na verdade, o verdadeiro caráter da grande mineração no Brasil, um país semicolonial onde as mineradores atuam como saqueadores das riquezas naturais para exportar os minérios para o imperialismo. Segundo o boletim do Grupo de Pesquisa, Educação, Mineração e Território da UFMG (EduMiTe), do total de barragens existentes no Brasil hoje, 942 são de mineração. Do total de barreiras, aproximadamente 102 estão em alerta ou emergência, o que indica que podem ser facilmente rompidas. É uma realidade em que, para os bilionários da mineração, é mais lucrativo deixar as barragens funcionarem de maneira irregular, e depois sustentar os processos das famílias afetadas, do que custear a manutenção constante dos campos de exploração de minério. 

Apesar da situação alarmante, Luiz Inácio insiste em sustentar que um bom trabalho tem sido feito no âmbito da mineração e geração de energia. O mandatário comentou, no final de fevereiro, que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silviera, “é um ministro excepcional. Poucas vezes o Ministério de Minas e Energia teve um ministro com a competência, a vontade de brigar, como o Silveira. Ele será mantido ministro. Não há porque mexer em uma coisa que está fazendo uma revolução no setor energético e de minas do País.”  

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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