Governo federal facilita grilagem no Amapá, denuncia CPT

A apresentação do repasse de terras da União ao Estado do Amapá foi feita em um evento que reuniu, além do senador Randolfe Rodrigues (PT), representantes do latifúndio do Amapá. Mais sete glebas serão repassadas ao hoje ao Estado com a presença do presidente Luiz Inácio. 
Área de floresta sendo queimada em Oiapoque, Amapá, em novembro de 2020. Foto: Nelson Almeida/AFP

Governo federal facilita grilagem no Amapá, denuncia CPT

A apresentação do repasse de terras da União ao Estado do Amapá foi feita em um evento que reuniu, além do senador Randolfe Rodrigues (PT), representantes do latifúndio do Amapá. Mais sete glebas serão repassadas ao hoje ao Estado com a presença do presidente Luiz Inácio. 

O senador Randolfe Rodrigues (PT) formalizou a entrega de terras da União para o Estado do Amapá, uma manobra que vai favorecer a grilagem e o avanço do latifúndio na unidade federativa, segundo denúncias da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

A apresentação do repasse foi feita em um evento que reuniu, além do senador, representantes do latifúndio do Amapá. Mais sete glebas serão repassadas hoje ao Estado com a presença do presidente Luiz Inácio (PT)

De acordo com a CPT, o governo federal entregou em abril de 2024 duas porções de terras georreferenciadas pelo Exército reacionário, sob a justificativa de que a doação iria para famílias que ocupam áreas irregulares há 30 anos. “Mas a iniciativa beneficia principalmente produtores rurais que buscam os registros das terras onde exploram e desmatam de forma irregular.”, denuncia o movimento, em nota. 

As terras doadas são muito apreciadas pelo latifúndio para o plantio de soja, para a mineração e para a exploração de madeira. Antes, as oligarquias tinham mais dificuldade de grilar as terras pelas glebas estarem sob jurisdição federal. Com as terras sob gestão do governo do Estado, o esquema de grilagem fica mais fácil.

“O Amapá Terras simplesmente faz a regularização, que é reconhecer quem está na área como posseiro e titular. Por causa disso, muitos conflitos se acirraram nos últimos anos, porque enquanto o Incra cuidava da reforma agrária, tinha algumas leis sobre o perfil do agricultor apto para a destinação da terra: a pessoa precisa estar presente na terra e trabalhar com ela para se sustentar e sua família. O Amapá Terras reconhece pessoas que não preenchem o perfil como aptas à reforma agrária, e não faz distinção entre a posse de forma direta ou indireta, e assim o proprietário pode morar em outro estado, o que beneficia empresários do sul do Brasil que têm posse sobre essas terras”, afirmou o padre Sisto Magro, da CPT Regional Amapá, a uma reportagem do movimento.

STF facilita grilagem

O Supremo Tribunal Federal facilitou a grilagem, segundo a CPT. Isso ocorreu quando o ministro Dias Toffolli decidiu, de forma monocrática, não prosseguir com a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7052. A medida obrigava o STF a aplicar leis que forçariam a transferência de terras para Estados ocorrer segundo pressupostos da reforma agrária. 

A CPT ainda denuncia que: “as transferências de terras foram motivadas, principalmente, pela alegação dos Estados de Roraima, Amapá e Rondônia, de que, por serem os últimos anos territórios federais, não possuíam terras estaduais suficientes para implementar suas políticas agrárias e de desenvolvimento. Os Estados argumentavam que grande parte de seus territórios era composta por áreas indígenas, unidades de conservação ambiental e territórios militares ou estratégicos. Para atender essas demandas, o Governo Federal autorizou a transferência das terras federais remanescentes, excluindo da operação as terras destinadas a projetos de reforma agrária, áreas indígenas, quilombolas e unidades de conservação ambiental.”

É uma expressão do controle que o latifúndio exerce sobre o Estado brasileiro, coordenando esquemas de grilagem por dentro das normas jurídicas. O governo, o STF e o Congresso Nacional se unem em benefício das oligarquias locais que controlam os aparatos estatais estaduais. 

É nesse sentido que movimentos camponeses como a Liga dos Camponeses Pobres tem elevado o chamado à radicalização da luta pela terra e da Revolução Agrária, conforme feito em várias declarações de 2023 e 2024.

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