Governo federal quer enviar Força Nacional contra ocupações camponesas ao redor de Usina Belo Monte

Dado o histórico do uso da Força Nacional contra camponeses e indígenas, é de se esperar casos de torturas, violações de direitos e mesmo massacres, além da conivência dos militares com os crimes dos latifundiários.
Foto: Ruy Sposati/Agência Raízes

Governo federal quer enviar Força Nacional contra ocupações camponesas ao redor de Usina Belo Monte

Dado o histórico do uso da Força Nacional contra camponeses e indígenas, é de se esperar casos de torturas, violações de direitos e mesmo massacres, além da conivência dos militares com os crimes dos latifundiários.

Em uma macabra reencenação da Operação Paz no Campo, que levou militares da Força Nacional contra camponeses a partir de 2007, terminando com um saldo de dezenas de trabalhadores assassinados e torturados, o governo de Luiz Inácio anunciou hoje (24/3) que enviará a Força Nacional para “combater invasões” na Usina Belo Monte, em Vitória do Xingu, Pará. O anúncio foi feito pelo ministro de Minas e Energia, André Silveira (PSD) e é um dos preparativos para a reacionária COP-30. 

Dias antes do anúncio, um grupo de pescadores da região do Xingu se concentrou em frente à usina de Belo Monte para protestar pela reparação histórica dos danos provocados pelo velho Estado brasileiro a ao menos 12 mil famílias e ao seu estilo de vida tradicional. Na ocasião, os trabalhadores chegaram ao local em embarcações que superaram as turbinas impostas pela usina e chegaram a um local que é considerado “restrito” pela direção do local, sem temer os alarmes que eram ativados. 

O grupo fez questão de ressaltar que os alvos de seus protestos não eram apenas a concessionária que hoje lucra explorando o território Xingu, mas também o velho Estado, que a todo momento participou da destruição do estilo de vida dos povos que habitam a região, causando graves danos à sua economia, cultura, e às suas relações internas e externas. A Justiça Federal chegou, em 2020, a reconhecer que se tratou de um caso de etnocídio.

A usina é palco de fortes protestos populares desde seu anúncio. Planejada ainda no período militar fascista, acostumado a expulsar e exterminar indígenas, a Usina avançou nos dois primeiros mandatos de Luiz Inácio, entre 2003 e 2011, e foi finalizada pelo governo de Dilma Rousseff (2011-2016), sob fortes protestos dos povos indígenas e camponeses na região. 

A medida de enviar a Força Nacional não é novidade para as massas locais. Por dez anos (2013-2023), o aparato militar do velho Estado se manteve no local para garantir que os interesses da concessionária e dos políticos se sobrepusessem ao dos moradores da região, muitos expulsos e com as terras alagadas pela construção da hidrelétrica. Agora, contudo, o governo admite abertamente que vai usar os militares para combater os camponeses.

Desenha-se, portanto, um verdadeiro terreno de maior militarização da região, sobretudo para conter a luta pela terra. Dado o histórico do uso da Força Nacional contra camponeses e indígenas, é de se esperar casos de torturas, violações de direitos e mesmo massacres, além da conivência dos militares com os crimes dos latifundiários. Mesmo assim, é provável que Luiz Inácio aprove o envio, dada a admiração que tem por Silveira. Recentemente, ele disse que Silveira é um ministro excepcional. Poucas vezes o Ministério de Minas e Energia teve um ministro com a competência, a vontade de brigar, como o Silveira. Ele será mantido como ministro. Não há por que mexer em uma coisa que está fazendo uma revolução no setor energético e de minas do País.”

A Força Nacional foi também utilizada no Rio de Janeiro no ano passado. Na ocasião das reuniões do G20, o aumento ostensivo dos aparatos de repressão não impediu que o evento fosse marcado por contundentes protestos de profissionais da educação e saúde contra a privatização dos setores. Um grande protesto em apoio à Resistência Nacional Palestina foi realizado a poucos metros da reunião imperialista.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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