Grécia: Em protesto, milhares celebram 49 anos de rebelião estudantil contra golpe militar apoiado pelo USA

Grécia: Em protesto, milhares celebram 49 anos de rebelião estudantil contra golpe militar apoiado pelo USA

Milhares foram às ruas de Atenas celebrar o Levante da Universidade Politécnica de Atenas. Foto: Christina Themelis/Twitter

No dia 17 de novembro, milhares de gregos foram às ruas de Atenas e Thessaloniki para celebrar os 49 anos de uma grande rebelião estudantil contra o regime militar que imperou no país entre os anos de 1967 e 1974. Os manifestantes denunciaram os militares reacionários o apoio dado pelo Estados Unidos (USA) à intervenção. Além disto, os manifestantes também criticaram os atuais ataques à democracia e autonomia universitárias. O Partido Comunista da Grécia (Marxista-Leninista) (KKE-ml) e o Partido Comunista da Turquia Marxista-Leninista (TKP/ML) compuseram um bloco na manifestação.

Em Atenas, capital do país, milhares de estudantes tomaram as ruas. O protesto foi iniciado na Universidade Politécnica de Atenas, a mesma em que foi palco de uma batalha campal entre estudantes e militares reacionários no ano de 1973, e seguiu até a embaixada ianque na cidade. Bandeiras foram deixadas no monumento em homenagem aos 34 estudantes que tombaram no confronto. Antes de chegar à embaixada, os estudantes incendiaram uma bandeira do USA em repúdio ao apoio do país à intervenção militar e à presença militar ianque na Grécia, ainda vigente. O velho Estado grego mobilizou mais de cinco mil tropas policiais, munidas de drones e um canhão de água, para reprimir o protesto.

KKE-ml e TKP/ML compuseram bloco na manifestação. Foto: Partizan Yunanistan/Twitter/Captura de tela

Na cidade de Thessaloniki, que também foi polo de resistência durante o regime militar, outros milhares de estudantes foram às ruas celebrar a rebelião estudantil. Durante a manifestação, os estudantes entraram em confronto com as tropas do velho Estado grego, que reprimiram o protesto com bombas, balas de borracha e canhões de água. Os manifestantes responderam ao ataque com dezenas de coquetéis molotovs e fogos de artifício contra os policiais.

As batalhas de 1973

Protesters outside the Athens Polytechnic on Patission Street

Estudantes ocupam Universidade Politécnica de Atenas, em 1973. 

Os protestos em memória da rebelião de 1973 ocorrem anualmente na Grécia, em celebração do heroísmo revolucionário dos estudantes que, em meio ao regime militar grego (1967-1974), ocuparam as universidades do país em defesa das liberdades democráticas, contra o regime de miséria, fome e repressão contra o povo e por uma nova sociedade.

A rebelião de 1973 foi iniciada no dia 14/11 daquele ano, seis anos após o início do regime militar liderado pelo coronel Geórgios Papadópulos e apoiado pelo USA, que treinou mais de 300 dos militares que participaram do golpe. Após o culminar do golpe, Papadópulos ordenou a prisão de dissidentes, o fechamento de partidos da oposição e de jornais, conduziu revistas em casas sem mandatos, baniu sindicatos e impôs que o julgamento de qualquer crime no país seria julgado pelo Tribunal Militar. A dominação imperialista  cresceu de maneira significativa durante o regime militar e se mantém vigente até hoje sob a égide da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e do USA, que possui quatro bases militares no país. O regime sofreu tenaz oposição dentre diversos setores das massas populares. Ações contra o regime militar envolviam desde ações armadas, como a tentativa de assassinato de Papadópulos, até a  produção de filmes contrários ao regime por intelectuais progressistas.

Em 1973, os estudantes protagonizaram as principais batalhas contra o regime. As primeiras manifestações estudantis daquele ano contra o regime militar iniciaram em fevereiro. Em março, estudantes da Faculdade de Direito de Atenas declararam greve e ocuparam a universidade contra a lei que impunha o alistamento obrigatório para jovens considerados como “subversivos”. Somente na Faculdade de Direito, 88 estudantes haviam sido enquadrados pela lei. A ocupação impulsionou os protestos em andamento, que se prolongaram durante todo o mês de março. 

No dia 14 de novembro, milhares de estudantes se reuniram em frente à Universidade Politécnica de Atenas em uma manifestação contra os militares reacionários, que resultou na ocupação do campus. Estudantes foram colocados nas entradas das universidades como guardas e a rádio da instituição foi utilizada para propagandear as reivindicações e palavras de ordens da rebelião, como Pão, Educação e Liberdade, Viva o poder do povo e Fora assassinos da Otan!. Dois dias depois, em Thessaloniki e Patras, universidades também foram ocupadas. 

O heroísmo dos jovens estudantes

Após as ocupações em Thessaloniki e Patras, receosos de que a combativa rebelião estudantil pudesse se dispersar pelo resto do país, os militares conduziram um covarde massacre contra os estudantes. A brutal repressão atingiu Atenas, onde a polícia cercou a Universidade Politécnica com tropas e tanques militares. Arrebentando o portão da Universidade, os militares entraram em confronto com os estudantes em luta, assassinaram covardemente 34 e deixaram ao menos mil feridos. Com medo da fúria popular que poderia suceder ao massacre, o regime militar decretou Lei Marcial no país e impôs um toque de recolher a partir das 16h. 

Apesar da junta militar apoiada pelo USA não ter caído com a rebelião estudantil, a mobilização dos estudantes deixou o governo extremamente desmoralizado, ecoando por toda a Grécia o grito de revolta e rebelião que, no ano seguinte, poria um fim no regime militar genocida. Papadópulos foi substituído do cargo de presidente por Dimitrios Ioannidis, favorável a um regime ainda mais duro. Seu governo durou pouco menos de um ano e o regime parlamentarista burguês foi restaurado em novembro de 1974.

No ano seguinte, devido às massivas mobilizações que exigiram a condenação dos militares responsáveis pelo golpe militar, Papadópulos, Ioannidis e outros dois militares, Stylianos Patakos e Nikolaos Makarezos, foram presos e julgados por sua participação no golpe. Como resultado do processo, instigado por forte mobilização, os militares foram condenados à morte, pena que foi posteriormente alterada para prisão perpétua. Em 1990, um plano para conceder anistia aos militares foi cancelado depois de ser alvo de massivas manifestações. 

Ataques aos estudantes continuam sob democracia burguesa

Apesar do fim do regime militar grego, a democracia e a autonomia universitária seguem sob constante ameaça na Grécia. Uma lei proposta em 2019 e inserida nos planejamentos governamentais de 2021 busca criar uma força policial específica para as universidades. A lei é um ataque sério a uma grande conquista do movimento estudantil grego: o asilo político das universidades, aprovado em 1982, e que proíbe a entrada de forças policiais do velho Estado nas universidades do país. A tentativa de aprovar a lei foi alvo de uma nova rebelião estudantil, que se alavancou em 2022 na forma de massivas manifestações e confrontos com as tropas policiais

Na ocasião, os estudantes denunciaram outros projetos reacionários que atacavam o movimento estudantil, como a medida que buscava transformar o sistema de eleições para representações estudantis, extinguindo o sistema de chapas e criando um sistema baseado na escolha de indivíduos a partir de uma lista única. Segundo os estudantes, a medida buscava acabar com a participação de organizações políticas no movimento estudantil. Os estudantes conformam um importante setor na luta popular do país. Em 2008, os estudantes desempenharam papel destacado nas manifestações contra a crise econômica. Nos anos de 2011 em diante, com as medidas de austeridade impostas na Grécia, os estudantes novamente se levantaram e tomaram parte em diversas manifestações. 

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