Polícia grega em Exarcheia, em abril de 2019, para despejar imigrantes das ocupações
Na manhã do dia 27 de agosto, em Atenas, o distrito de Exarcheia, famoso por diversas ocupações que abrigam imigrantes, sem-teto e ativistas ligados a movimentos sociais na Grécia, foi cercado por um enorme contingente de forças policiais que removeu pelo menos quatro ocupações. A repressão mobilizou ônibus anti-motim, polícia antiterrorista, camburões, membros da polícia secreta (asfalitas), bem como helicópteros e vários drones.
As ocupações evacuadas foram Spirou Trikoupi 17, Transit, Rosa de Foc e Gare.
O distrito é um dos poucos locais da Europa com alta concentração de ocupações e é também conhecido por sua resistência à repressão policial e solidariedade com imigrantes. No total, existem 23 ocupações em Exarcheia e outras 26 ao redor, sendo um total de 49 concentradas numa área relativamente pequena.
É muito comum que, durante as operações policiais de despejo de imigrantes e sem-tetos, muitos deles, assim como as crianças que vivem lá, sejam expulsos para viverem em campos de refugiados, albergues e outros locais superlotados, insalubres e sem estrutura, administrados pelo velho Estado grego.
Histórico de resistência
O distrito de Exarcheia ficou internacionalmente conhecido principalmente em dezembro de 2008 quando um estudante de 15 anos, Alexandros Grigoropoulos, morador do bairro, foi morto pela polícia. A morte do jovem desencadeou protestos combativos gigantes na cidade de Atenas, e Exarcheia, particularmente, virou um campo de batalha. A revolta da juventude foi tão grande que, enquanto o primeiro-ministro falava que “manteria a população a salvo dos protestos”, policiais eram combatidos por manifestantes do lado de fora do parlamento.
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Após uma semana de protestos, a polícia grega havia usado mais mais de 4,6 mil bombas de gás lacrimogêneo, e necessitaram entrar em contato com Israel e Alemanha, pois o seu estoque havia acabado.
De acordo com o jornal The Guardian, nas ruas de Atenas naquele mês se viam jovens de até 12 anos de idade na linha de frente dos protestos, gritando: Policiais! Porcos! Assassinos!.
Essa onda de protestos da juventude ficou conhecido como a “geração dos 700 euros”, pois, em meio a uma grave crise econômica grega que dura até hoje, essa era a perspectiva de salário para os jovens quando crescessem. Muitos pais se juntaram aos filhos apoiando os protestos, demonstrando a revolta de toda a população grega contra a crise econômica, as péssimas condições de trabalho, a corrupção dentro do velho Estado, a violência policial direcionada à juventude combatente e, principalmente, a vontade de superar um sistema caduco, falido e exploratório.
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